O equivalente a 1% de pessoas mais ricas emitiu a mesma quantidade de gases do efeito estufa, como o CO², do que os 66% da população mais pobre do mundo, cerca de 5 bilhões de pessoas, em 2019. Isso é o que demonstra o relatório "Igualdade Climática: um planeta para os 99%", lançado nesta segunda-feira (20) pela Oxfam Brasil, organização não governamental voltada ao combate à pobreza, desigualdades e injustiça.
Apesar dos eventos extremos causados pela crise climática atingirem todo o mundo, eles não acontecem da mesma forma para as mesmas pessoas, dependendo da sua classe social e gênero. “Não estamos todos no mesmo barco”, repetem os ativistas;
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O estudo da Oxfam se baseou em dados globais e especialistas, e propõe uma “abordagem radical” para alertar a população sobre a desigualdade extrema e o colapso climático. A diretora-executiva da organização, Katia Maia, afirmou em nota que:
“É inaceitável que o 1% mais rico continue liderando o mundo ladeira abaixo para um colapso planetário. E quem vem sofrendo o impacto dos danos dessa viagem é a maioria da população. São bilhões de pessoas impactadas por enchentes, secas, perdas de território, aquecimento e baixa de temperatura desproporcional, problemas de saúde e pobreza".
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O relatório explica que o 1% mais rico agrava a crise climática em três pontos:
- Através do carbono que emite diariamente com o seu consumo, incluindo o dos seus iates, jatos particulares e estilos de vida luxuosos;
- Através dos seus investimentos e participações em indústrias altamente poluentes e do seu interesse financeiro no status quo econômico;
- Através da influência indevida que exerce sobre os meios de comunicação, a economia, a política e a elaboração de políticas.
(Des)igualdade climática
Os países com altos índices de desigualdade sofrem 7 vezes mais mortes por inundações do que países mais igualitários, afirma a entidade.
O relatório ainda revela que os países industrializados foram responsáveis por 90% do excesso de emissões de gases do efeito estufa. O Norte Global atingiu o nível de 92%.
Apesar disso, os países mais pobres, do Sul Global e em desenvolvimento, são os que mais sofrem as consequências do aquecimento global. E dentro desse recorte, há também a divisão de grupos socioeconômicos que sentem a crise climática de maneira diferente: mulheres e meninas, principalmente negras e indígenas, e populações periféricas.
"As consequências do colapso climático são sentidas em todas as partes do mundo e pela maioria das pessoas, mas apenas as pessoas e os países mais ricos têm a riqueza, o poder e a influência para se protegerem. Esse poder vem com uma enorme responsabilidade”, afirma o relatório.
Devido a esse cenário, a Oxfam defende que apenas com a igualdade social será possível combater a crise climática. “Sociedades economicamente mais igualitárias são vitais para enfrentar desigualdades como gênero, raça, religião e casta. Sociedades mais igualitárias são capazes de gerir os enormes riscos e impactos das condições meteorológicas extremas de forma mais eficaz e justa".
A pressão para que os países ricos lidem com a responsabilidade pela crise climática é o debate que ganha cada vez mais força. Durante a reunião do G20, o presidente Lula reforçou essa cobrança. “Desde a COP [Conferência das Partes] de Copenhague, [em 2009], os países ricos deveriam prover 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático novo e adicional aos países em desenvolvimento. Essa promessa nunca foi cumprida”. A COP 28, deste ano, acontece com a mesma agenda.
“É preciso fazer a conexão entre o excesso de riqueza e o colapso climático. Está passando da hora dos super-ricos serem taxados mundialmente. Essa é uma forma de levantar recursos para enfrentar de maneira mais eficaz as mudanças climáticas e as desigualdades. E a sociedade deve se mobilizar e pressionar os governos para que essa taxação ocorra”, acrescentou Maia em comunicado.
Previsões
Se não forem reduzidas rapidamente as emissões de carbono, haverá o esgotamento do limite para um colapso climático em apenas cinco anos.
O relatório alerta que, somente em 2019, as emissões de carbono foram suficientes para causar a morte de 1,3 milhão de pessoas devido ao calor extremo pelos próximos anos. Ainda, em 2030, as emissões do 1% mais rico poderão ser 22 vezes superior ao limite seguro, ou seja, permitidas para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°.
Como uma das soluções, a Oxfam afirma que um imposto de 60% sobre os rendimentos do 1% mais rico reduziria o equivalente em carbono emitido pelo Reino Unido e arrecadaria US$ 6,4 trilhões para financiar energias renováveis e uma transição de saída dos combustíveis fósseis.