MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Aquecimento global: primeiro país a desaparecer quer criar um clone na internet

"Queremos ser capazes de capturar nossa cultura como ela é hoje", afirmou ministro; Arquipélago seria primeira nação digitalizada no metaverso

Simon Kofe discursa na COP 27, em frente a uma projeção digital da ilha de Tuvalu.Créditos: Captura de tela/YouTube/Simon Kofe
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Tuvalu deve ser um dos primeiros países a desaparecer abaixo do nível do mar. Com ilhas submersas abaixo do nível do mar, o arquipélago tem sofrido diretamente com as mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global. A solução encontrada para preservar sua cultura e história é inusitada: criar um clone na internet de Tuvalu.

Como um país formado por três ilhas e seis atóis, a população da nação vive em territórios que estão a dois metros do nível do mar, de acordo com o Projeto de Adaptação Costeira de Tuvalu (TCAP, da sigla em inglês). Segundo o projeto, a ameaça dos perigos costeiros, como a elevação do nível do mar e os impactos das ondas de tempestade, representam desafios para os habitantes, a exemplo da inabitabilidade e a segurança das ilhas.

Tuvalu no metaverso

Frente ao desparecimento, o governo local formulou um projeto de preservação cultural e da nacionalidade de Tuvalu. Embora os principais esforços sejam direcionados ao enfrentamento das mudanças climáticas e seus efeitos, o governo lançou o "Future Now Project" ("Projeto Futuro Agora", em tradução livre).

Uma das frentes do projeto é o desenvolvimento da digitalização do país, com o objetivo de criar uma nação virtual, uma espécie de clone na internet. O processo de transferência de dados dos serviços governamentais e administrativos para a nuvem está em andamento, por exemplo. Assim, seria possível realizar eleições e dar continuidade às atividades públicas.

Em 2022, o ministro da Justiça, Comunicações e Relações Exteriores, Simon Kofe discursou na COP27 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) em frente a uma projeção virtual de Te Afualiku, a primeira ilha de Tuvalu a ser recriada em meio digital, através de imagens de satélite, fotografias e imagens de drones.

"Se tivermos um governo deslocado ou uma população dispersa por todo o mundo, teríamos uma estrutura em vigor para garantir que continuamos a nos coordenar, a prestar os nossos serviços, a gerir os nossos recursos naturais nas nossas águas e todos os nossos ativos soberanos", afirma Kofe.

No conceito planejado pelo governo, os habitantes do arquipélago poderiam interagir no mundo virtual, com o intuito de preservar as línguas, os conhecimentos tradicionais e valores ancestrais – quase um metaverso.

Temos uma ligação tão forte com a nossa terra e os nossos oceanos, os nossos antepassados estão enterrados aqui, por isso também temos essa ligação espiritual. Queremos ser capazes de capturar nossa cultura como ela é hoje.

Os riscos do aquecimento global

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), metade da área da capital, Funafuti, estará inundada em algumas décadas. A previsão para 2100 é a inundação de 95% do território do arquipélago, condição que deixaria Tuvalu inabitável em menos de oito décadas.

Relatório Mundial sobre Deslocamento Interno 2023, por sua vez, indicou que as catástrofes naturais causaram aproximadamente 32,6 milhões de deslocamentos entre países em 2022. Cerca de 98% dessas migrações ocorreram devido ao clima, que abrange enchentes, tempestades, seca, incêndios florestais, deslizamento de terra e temperaturas extremas.

Em 2021, Simon Kofe fez seu discurso na COP26 dentro do oceano, com águas nos joelhos. A intenção foi de alertar os perigos do aquecimento global e denunciar "as situações da realidade enfrentada em Tuvalu devido os impactos das mudanças climáticas e do aumento do nível do mar".