Nesta segunda-feira (8), o Vaticano divulgou o documento "Dicastério para a Doutrina da Fé - Dignitas Infinita", que, em um primeiro momento, pode parecer um certo avanço, pois o texto rejeita a violência motivada por orientação sexual; no entanto, em outro momento, a publicação escamba para a transfobia e discurso essencialista e favorável à diferença sexual biológica.
O documento do Vaticano ataca as pessoas trans e afirma que "a mudança de sexo ameaça a dignidade humana". "Devem-se rejeitar todas aquelas tentativas de obscurecer a referência à insuprimível diferença sexual entre homem e mulher. Negativo também o juízo sobre a mudança de sexo, que arrisca a ameaçar a dignidade única que a pessoa recebeu desde o momento da concepção", afirma o documento.
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Diante de tal publicação, a Rede de Católicos LGBT emitiu uma nota nesta terça-feira (9) onde elogia partes do texto, mas critica o fato de as pessoas transexuais, travestis e não binárias serem retratadas como "ameaças à dignidade humana".
"Celebramos o dom da vida de todas as pessoas transexuais, travestis e não-binárias, reconhecendo que são uma maravilhosa criação de Deus e merecem ser respeitadas em sua dignidade. A afirmação de que todas as pessoas devem ser acolhidas com respeito e protegidas de qualquer forma de discriminação é um passo significativo na promoção de uma cultura de inclusão e amor incondicional", inicia o texto.
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Em seguida, o grupo de LGBT católicos lamenta "que o documento ainda não reconheça plenamente a dignidade absoluta das pessoas transexuais e não-binárias, apesar dos avanços pastorais e teológicos construídos pela base. É essencial que, nós, como Igreja, continuemos avançando no entendimento e na promoção da dignidade de todas as pessoas, sem exceção".
Posteriormente, o grupo de católicos LGBT afirma que o documento do Vaticano "em sua abordagem ao gênero, o documento se baseia na teologia desatualizada do essencialismo de gênero, que afirma que a aparência física de uma pessoa é a evidência central da identidade de gênero natural de uma pessoa. Essa perspectiva fisicalista nos limita, enquanto Igreja, frente à crescente consciência de que o gênero de uma pessoa inclui os aspectos psicológicos, sociais e espirituais naturalmente presentes em suas vidas".
Confira abaixo a íntegra da nota da Rede de Católicos LGBT:
"A Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT+ recebe com atenção a declaração “Dignitas infinita” emitida pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, a qual visa esclarecer princípios fundamentais sobre a dignidade humana e denunciar violações graves desta. Reconhecemos a importância de tal documento em trazer à luz a necessidade de respeito e proteção da dignidade de todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual.
Celebramos o dom da vida de todas as pessoas transexuais, travestis e não-binárias, reconhecendo que são uma maravilhosa criação de Deus e merecem ser respeitadas em sua dignidade. A afirmação de que todas as pessoas devem ser acolhidas com respeito e protegidas de qualquer forma de discriminação é um passo significativo na promoção de uma cultura de inclusão e amor incondicional.
No entanto, lamentamos que o documento ainda não reconheça plenamente a dignidade absoluta das pessoas transexuais e não-binárias, apesar dos avanços pastorais e teológicos construídos pela base. É essencial que, nós, como Igreja, continuemos avançando no entendimento e na promoção da dignidade de todas as pessoas, sem exceção.
Em sua abordagem ao gênero, o documento se baseia na teologia desatualizada do essencialismo de gênero, que afirma que a aparência física de uma pessoa é a evidência central da identidade de gênero natural de uma pessoa. Essa perspectiva fisicalista nos limita, enquanto Igreja, frente à crescente consciência de que o gênero de uma pessoa inclui os aspectos psicológicos, sociais e espirituais naturalmente presentes em suas vidas.
Ao categorizar levianamente a inclusão LGBTQIAPN+ como um fenômeno ocidental imposto de forma colonialista a outras culturas, o texto ignora o fato antropológico, documentado por muitos estudiosos mesmo antes dos dias atuais, de que culturas ao redor do mundo e ao longo da história reconheceram e celebraram identidades de gênero além das reivindicações da igreja de binarismo de gênero masculino/feminino.
Felizmente, são muitos os cristãos leigos e leigas, padres, bispos, diáconos, religiosos e religiosas que já acolhem e celebram as pessoas LGBTQIAPN+ como dons de Deus, demonstrando que o amor divino é infinito e sem barreiras. Vale ressaltar a importante resposta do mesmo Dicastério, em novembro passado, acerca da participação aos sacramentos do Batismo e do Matrimônio por parte de pessoas transexuais e de pessoas homoafetivas. Este reconhecimento e a missão do acolhimento são fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e compassiva.
Consideramos que a declaração “Dignitas infinita” representa um passo importante no debate sobre a dignidade humana, mas ressaltamos a necessidade contínua de avançar em temas sensíveis que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Instamos a todo Povo de Deus a continuar buscando uma compreensão mais profunda e inclusiva da dignidade de todas as pessoas, à luz do amor e da misericórdia de Deus."