Antônio Fellipe Rodrigues Salmento de Sá, o homem que agrediu uma mulher cis no banheiro do bar Guaiamum Gigante, no Recife, após “tê-la confundido com uma trans”, foi preso nesta quinta-feira (28) depois de prestar depoimento à polícia na Delegacia de Casa Amarela, na zona norte da capital pernambucana.
À imprensa o delegado Diogo Bem, responsável pelo caso, afirmou que o mandado de prisão contra o agressor foi baseado na Lei do Racismo graças a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que permite reconhecer ocorrências de homofobia e transfobia como injúria racial.
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Foi o próprio suspeito que se apresentou à polícia por volta das 15h30. Ele ficou durante uma hora e meia prestando seu depoimento antes de ser preso. Na próxima sexta-feira (29) ele passará por audiência de custódia. Caso permaneça preso, será encaminhado para o Centro de Observação e Triagem Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife.
“O senhor Antônio Fellipe, desde o começo, queria comparecer. Compareceu espontaneamente à delegacia e foi cumprido o mandato de prisão no dia de hoje. Ele vai ficar à disposição da Justiça e a defesa vai tomar atitudes pertinentes ao caso”, declarou à imprensa o advogado do acusado, Madson Aquino, dando indícios que já era esperada uma possível prisão do seu cliente.
Ao g1, o vice-presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos de Pernambuco, Fenelon Pinheiro, apontou uma série de crimes pelos quais o homem provavelmente responderá. Entre eles são lesão corporal e transfobia, pois apesar da vítima ser cis, a motivação foi, segundo Pinheiro, transfóbica. Além disso, o caso gerou comoção na opinião pública, que tentar pautar tal enquadramento. A Polícia Civil prometeu uma entrevista coletiva na próxima sexta-feira (29) para dar maiores detalhes do caso.
O que aconteceu
Uma mulher de 34 anos que foi covardemente agredida por Antônio Fellipe no bar Guaiamum Gigante, em área nobre da zona norte do Recife, na noite do último sábado (23)
As cenas foram divulgadas pelo perfil Metheoro na rede X, antigo Twitter, na mesma hora. Segundo o administrador do perfil, que se identifica como publicitário e amigo da vítima, a mulher cis deixava o banheiro feminino quando foi abordada por um homem que perguntou se ela era "homem ou mulher".
Ao indagar o motivo da pergunta, a mulher ouviu como resposta: "porque você está no banheiro errado", com o homem a acusando de ser uma mulher trans. Em seguida, houve uma grande confusão e ele teria desferido um soco no rosto da mulher, que além de ser ferida, teve os óculos quebrados. Ela se pronunciou sobre a agressão nesta segunda-feira (25).
“A certeza é que foi transfobia, apesar de eu ser uma mulher cis. Na cabeça dele, eu não era. Na cabeça dele, eu era a pessoa trans, aquela mulher trans que merece apanhar, que merece morrer, que merece ser agredida num espaço público onde está confraternizando", disse à Globo.
De acordo com a vítima, o estabelecimento o ajudou a fugir do local. No entanto, em comunicado oficial, o bar afirma que liberou sua saída por medo do homem estar armado enquanto polícia demorava a chegar.
"É inadmissível que um estabelecimento comercial permita que uma agressão dessa aconteça e não preste assistência à vítima no sentido do acolhimento, porque quando você escolta o agressor para fora, a vítima não se sente acolhida, a vítima se sente abandonada. Eu, a pessoa agredida da situação, me senti desassistida, porque a pessoa que precisava estar lá quando a polícia chegou não estava e teve a saída facilitada pela equipe do bar", completou a vítima.
No domingo (24), o bar Guaiamum Gigante divulgou nota em que afirma que "não procede a alegação de que teria havido proteção a um suposto agressor".
"O Guaiamum Gigante adotou imediatamente as providencias cabíveis para resolver a situação, inclusive acionando a força policial e dando todo suporte à vítima", diz o texto.
No entanto, os internautas apontaram um erro do estabelecimento, que afirmou na nota que "cuidou de promover a imediata retirada do agressor do ambiente, de modo a resguardar a integridade física e psicológica da pessoa agredida e demais clientes".
"Isso é cúmplice de fuga isso sim! Deveria ter mantido o mesmo no local até a chegada da polícia, mesmo que protegido", comentou o ator Taywan Rocha na publicação.
Quem é o agressor
Salmento de Sá é caminheiro e foi identificado pela ex-companheira que, em entrevista à afiliada da Globo em Pernambuco, relatou que ele tem um longo histórico de violência, misoginia e homofobia.
“Na cabeça dele, homossexualidade é doença, é problema. Ele tem essa realidade na cabeça dele”, disse a mulher, que também já foi vítima do caminhoneiro. Ela diz que o identificou pelas imagens que circulam no X, antigo Twitter, que foram divulgadas primeiramente pelo perfil @metheoro, de um publicitário amigo da vítima.
“Eu fiquei transtornada [com a agressão] porque eu senti na pele o que aquela mulher sentiu. Aquele sentimento de impunidade, de ter passado por uma violência física e não ter acontecido nada contra o agressor”, disse a ex-companheira.
Ela relata que passou por inúmeros casos de violência física e psicológica durante o relacionamento: "não só em casa, mas na rua também".
“Ele é muito homofóbico. Ele é muito preconceituoso. Já teve vez de a gente ter que sair de onde a gente estava porque, depois que ele bebe, ele começa a julgar as pessoas. Ele começa a soltar graça, sabe? Você sente vergonha”, declarou.