DIA INTERNACIONAL DO ORGULHO LGBTQIA+

Erika Hilton: Guerra cultural não termina com derrota de Bolsonaro

Vereadora e pré-candidata à deputada federal também afirma que os sonhos de Marsha P. Johnson e Rivera Star, ícones da Rebelião de Stonewall, seguem vivos

Erika Hilton: Guerra cultural não termina com derrota de Bolsonaro.Créditos: Divulgação
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Nesta terça-feira (28) celebra-se o Dia Internacional do Orgulho LGBT, que foi estabelecido a partir do Levante de Stonewall Inn, em 1969.

O Stonewall era um bar LGBT que ficava no bairro de Greenwich Village, em Nova York. No entanto, as frequentadoras, que em sua maioria eram pessoas trans, latinas e negras, eram vítimas de achaques policiais. 

Na noite do 28 de junho de 1969, as frequentadoras do bar se cansaram da humilhação policial e montaram uma barricada para dar um basta aos achaques policiais. 

Além de todo o levante em si, há duas personagens centrais dessa história: Marsha P. Johnson e Rivera Star, que lideraram a revolta e, posteriormente, se articularam com os Panteras Negras, movimento negro e comunistas. 

Na década de 1970, Marsha e Rivera sonhavam com uma grande articulação entre o movimento LGBT, negro, femnistas e comunistas. À época, tal articulação deu certo por um momento, depois se desfez. 

Porém, quando observamos o movimento LGBTQIA+ contemporâneo notamos uma grande articulação entre as variadas correntes de pensamento e outros agrupamentos militantes, o que pode ser considerado uma ressonância das utopias de Marsha e Rivera. 

Em entrevista à Fórum, a vereadora e pré-candidata à Câmara dos Deputados Erika Hilton afirma que o legado de Marsha e Rivera segue vivo. 

"Os sonhos de Marsha e Rivera seguem vivos em nós, e, mesmo em uma conjuntura tão desfavorável, de ódio, da extrema direita fundamentalista e violenta no poder, estamos avançando", diz Erika Hilton. 

Além dos sonhos de Marsha e Rivera, Erika Hilton também fala sobre qual deve ser a prioridade do próximo governo federal em torno das políticas LGBT e que a guerra cultural não termina com o fim da eleição.

 

Fórum - A data do 28 de junho é oriunda a partir do levante do Stonewall que, à época, deu origem a um forte movimento trans, aqui me lembro do documentário Morte e vida de Marsha P. Johnson, os objetivos políticos dela e da Rivera, a parceria com os Panteras Negras... olhando historicamente, não parece que parte do sonho político da Marsha e Rivera encontra ressonância na movimentação política atual? 

Erika Hilton - Sem sombra de dúvidas. Os sonhos de Marsha e Rivera seguem vivos em nós, e, mesmo em uma conjuntura tão desfavorável, de ódio, da extrema direita fundamentalista e violenta no poder, estamos avançando, com o protagonismo de pessoas LGBTQIA, negras e negros, em diversas áreas da sociedade, inclusive nós multiplicando na política, tornando nossos debates centrais no debate público nacional. 

 

Fórum – Por conta da ofensiva anti-aborto  e pró-família, que deu uma crescida nos últimos meses, talvez também, por causa da eleição, surge o discurso de colocar em standby qualquer discussão sobre sexualidades e direitos reprodutivos. O que você acha dessa estratégia e como você analisa tal cenário. 

Erika Hilton - Acho uma estratégia equivocada, conforme já demonstrado pela história. A ultradireita não vai pausar essa guerra cultural. Eles buscam ganhar espaço na sociedade e disputam a hegemonia na opinião pública. Tratar desse e de todos os temas de maneira politizada, honesta, evita armadilhas causadas por desinformação, fake news, e corrige erros históricos que cometemos ao deixar de disputar a hegemonia na sociedade sobre nossas pautas. Estamos falando de garantia de direitos e cidadania, não tem privilégios. Não temos o que temer. 

 

Fórum - Qual deve ser a prioridade do próximo governo federal em torno das políticas LGBT?

Erika Hilton - Em primeiro lugar, estancar os ciclos de ódio e violência com a articulação da aprovação no legislativo do combate às violências LGBTQIAfobicas, com a criminalização dessas violências e debates sobre os temas nas escolas. Em seguida, estruturar e nacionalizar políticas públicas garantidoras de direitos que já funcionam em cidades e estados. Como o projeto Transcidadania, Lei de Identidade de Gênero, Programa Operação Trabalho focado para retirar pessoas LGBTQIA+ da miséria e desemprego.