Uma estudante trans, que não teve a sua identidade revelada, foi agredida com socos e empurrões por colegas na Escola Estadual Galdino Pinheiro, em Mogi das Cruzes. As agressões ocorreram na última quarta-feira (9).
Após a agressão, a estudante afirma que não quer mais voltar para a escola onde estuda. "Não quero voltar nunca, de jeito nenhum. Estou com raiva imensa deles. Uma raiva muito grande, como ódio, sangue no olho. Quero justiça", disse a estudante.
"Daqui pra frente eu quero mudar de escola. Estou muito revoltada mesmo. É uma sacanagem, sou uma pessoa, com dez pessoas contra mim. Ninguém aguentaria. Eu fui forte. Se fosse outro, teriam arrebentado a cara", comenta a aluna em declaração ao G1.
Depois de sofrer as violências, a estudante realizou Boletim de Ocorrência como ato infracional de lesão corporal. Segundo o delegado Francisco Del Poente, apenas a investigação vai poder dizer se houve crime homofobia.
Racismo e transfobia
De acordo com a B.O, toda confusão quando a estudante trans defendeu uma amiga que é negra e estava sendo difamada por seus colegas por conta do seu cabelo.
Mas, um dos estudantes jogou água na cara da estudante trans, que foi tirar satisfação e, a parir daí, cerca de 10 estudantes começaram a agredi-la com socos e chutes.
No registro da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Jardim Universo aponta que a estudante ficou com hematomas na face, orelha, pernas e costas. Após o atendimento, a estudante foi medicada e liberada sem a necessidade de fazer exames.
"Começou com soco, com chute. Tentei me defender, tentei me esquivar daquilo. Depois me tranquei numa sala. Tentaram abrir a porta para me pegar lá dentro e nós não deixamos barato", relata a estudante.
Nas imagens do vídeo é possível ver a adolescente ser agredida e chutar carteiras, ela conta que foi uma consequência da revolta pela situação toda.
"Na hora da raiva a gente fica cega. Eu machuquei pessoas que não tinham nada a ver com a briga e pessoas que não tinham nada a ver com a briga entraram no meio. Peço perdão para as pessoas que machuquei", disse a jovem.
A estudante chama atenção para o fato de que as pessoas devem ser tratadas com respeito. "Quer dizer que a gente é transexual, a gente é animal, é um bicho? Não, a gente é humano. Deus ama todos. Lá na frente eles podem ter filhos. Eles não sabem como os filhos deles vão ser".
Violências constante
A mãe da estudante afirma que a situação é o resultado de agressões transfóbicas constantes que a filha tem sofrido.
"Eles ficam tirando sarro da situação dela. Ela é um ser humano. A gente tem que respeitar todo mundo. Eu acho que cada um vive do jeito que quer. Cada um tem suas escolhas. Acho que eles não têm que ir batendo, socando ninguém, achando que ela tem que ser diferente".
Além da situação toda, a mãe revela que a filha não quer sair de casa. "Ela está acuada. Não quer sair. Está com medo, porque ameaçaram de pegar ela lá fora também. Eu não sei o que vai acontecer se ela sair para a rua, porque as pessoas são traiçoeiras também. Não sei o que está acontecendo, o pensamento deles".
Em nota, Secretaria de educação diz que "repudia qualquer forma de agressão"
À Fórum, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (Seduc-SP) afirmou que repudia toda e qualquer forma de agressão “dentro ou fora do ambiente escolar” e que já tomou “as devidas providências”. Confira abaixo a íntegra da resposta da Seduc:
“A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc- SP) repudia toda e qualquer forma de agressão dentro ou fora do ambiente escolar. A Diretoria de Ensino (DE) de Mogi das Cruzes esclarece que o episódio ocorrido na última quarta-feira (9) na EE Galdino Pinheiro Franco foi pontual. Assim que tomou conhecimento, a direção da escola tomou as devidas providências e registrou Boletim de Ocorrência. O caso seguirá sendo apurado pela Pasta, assim como pela DE e pela direção da escola, para uma conclusão assertiva.
A equipe do Conviva, programa de convivência e segurança da Seduc-SP, foi acionada para dar suporte à comunidade escolar e um representante esteve na escola ontem e hoje. O caso foi registrado no Placon, sistema do programa que tem como principal objetivo monitorar a rotina das escolas da rede estadual”.