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Calí dos Anjos é o primeiro diretor trans não binário a ser contemplado por um edital da RioFilme, um dos mais importantes do país; com o documentário Tailor – que retrata a vida de um quadrinista também transexual –, o jovem debaterá a questão de gênero e criará representativdade às pessoas trans através de suas personagens
Por Ivan Longo
Se há alguns anos Calí dos Anjos vivia com medo, tinha que mentir o nome para conseguir emprego ou mesmo escondia sua identidade de gênero, hoje é com orgulho que ele ocupa o seu espaço, tornando-se o primeiro diretor transgênero a ser contemplado por um edital da RioFilme, empresa pública de investimento em audiovisual, vinculada à Prefeitura do Rio de Janeiro.
"Já perdi trabalho por ser trans. Em entrevista de emprego eu costumava não corrigir 'pronomes', mentia meu nome e nem falava que eu era trans. Tinha medo. Espero mudar isso daqui pra frente", diz o jovem, que agora contará com R$80 mil de incentivo do edital para o documentário Tailor.
Com o apoio da SUMA Filmes e produção de Bia Medeiros, o documentário será uma mistura de Live-Action (cenas com atores e ambientes reais) com animação que retratará a vida de Tailor, quadrinista trans que produz HQ's de teor político e que discutem transfobia, racismo, misoginia, gordofobia e outras formas de opressão. A ideia é que o documentário trabalhe em caráter observacional, mostrando a relação direta entre Tailor e o seu trabalho.
[caption id="attachment_73777" align="alignleft" width="300"] Quadrinhos de Tailor têm teor político e discutem diferentes formas de opressão. (Foto: Reprodução/Facebook)[/caption]
A escolha da vida da personagem como tema para seu documentário não veio à toa. "Três anos atrás, quando eu me descobri trans não binário, Tailor foi uma das primeiras pessoas trans brasileiras com quem eu tive contato. Tailor foi importante para eu perceber que existiam pessoas trans produzindo. Seus quadrinhos me fizeram entender mais sobre esse universo e sobre o universo de outras minorias", contou Calí.
Para o jovem de 23 anos, o fato de uma pessoa trans ganhar um edital importante de cinema com um filme que aborda a temática transexual indica que a questão está mais em voga e, aos poucos, ganhando espaço. Com a contemplação, o diretor passou a acreditar que é possível fazer o que ama e, ao mesmo tempo, assumir sua identidade de gênero. "Muitas vezes eu achei que não era possível, quando menti meu nome em entrevista de emprego, quando eu perdi o cliente que percebeu que eu era trans. Eu achava que ia ter que ficar me escondendo", relata.
Além de marcar seu espaço e trazer a temática dos trangêneros ainda mais à tona, Calí acredita que a escolha das animações pode ser uma ferramenta importante para que mais pessoas consigam entender o tema, já que a animação é um formato de fácil compreensão e que circula muito no universo infantil. Nesse sentido, o diretor avalia que ser transexual e produzir filmes com essa temática seja a sua forma de militar pela causa. "Eu não costumo ir pra 'rua' e nem participo de coletivos atualmente, porque esses ambientes já foram muito agressivos para mim. Então é a forma que eu tenho para trazer representatividade para as pessoas trans", explica.
Essa, no entanto, não é a primeira experiência de Calí que funde militância com produção audiovisual. Paralelamente à direção do documentário, ele trabalha como editor do 'Drag-se', uma websérie protagonizada por jovens artistas cariocas que difundem a cultura drag.
Tailor tem previsão de lançamento para o segundo semestre de 2016.
(Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)