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O ativista Fabricio Longo manda um recado para Malafaia: "Graças a você, saímos do armário e viramos mesa de centro"
Por Fabricio Longo, em Os Entendidos
Obrigado, Silas. De verdade. O que não conseguimos em 40 anos de movimento, você conseguiu com 4 tweets. Confesso que nunca gostei de você, mas hoje quero até pedir desculpas. Por sua causa, os direitos LGBT tornaram-se pauta de destaque na corrida eleitoral. É claro que ajuda o fato de você falar muito mais em nós do que em Jesus, mas de qualquer forma, quero te agradecer. Obrigado e meus parabéns. Você é o maior militante LGBT do país!
Em 2010, a grande polêmica era o aborto. Em 2014, é a homofobia e a transfobia – pela primeira vez. Estou quase apostando que em 2018 será a legalização da maconha. Os fundamentalistas religiosos e os conservadores em geral estão cansados, pois parece que só se fala nessas questões, mas isso é muito natural. É o resultado de “empurrar as coisas com a barriga”: problemas mal resolvidos sempre voltam para nos assombrar. Na ânsia de impedir o avanço desses assuntos, os defensores da “sagrada família” não os deixam morrer. Todos ganham a oportunidade de pensar. Surgem argumentos que são contra e a favor, e a insistência do “amor cristão” em massacrar a liberdade alheia também fica exposta. É um “tiro pela culatra”, já que denuncia a urgência em lidar com essas questões de maneira pragmática e eficiente. Só temos a agradecer.
Para as minorias, visibilidade é tudo. É por isso que promovemos paradas e ganhamos dias especiais no calendário. Nós precisamos ser vistos, lembrados, comentados… E ninguém tem ajudado tanto nisso como você! É verdade que às vezes parece que você nos odeia – até porque só sabe falar aos berros -, mas no fim das contas acaba ajudando.
Você grita que “cristão não é bobo” e ameaça usar a sua influência para decidir os rumos do Brasil com o “voto evangélico”. Ora, é exatamente porque os cristãos – os de verdade – não são bobos, que fazem o possível para se dissociar da sua imagem raivosa. Se “Deus é amor”, a última coisa que um fiel desejaria é ser considerado rebanho de um pastor que só prega o ódio.
Você, Silas, é um mala mesmo. Sem alça! Você, o Bolsonaro, e o Feliciano. Acontece que vocês falam mais em viado do que a Lady Gaga, e aí fica difícil levá-los à sério, mesmo para quem compartilha de suas ideias. É uma obsessão, um fetiche tão grande, que até os dizimistas mais comprometidos pedem para “mudar o disco”. E embora vocês ainda tenham influência política, esse circo todo assusta.
Recentemente, você disse que “os evangélicos” é que sofrem preconceito, que são vítimas de “perseguição religiosa”. Se não estiver delirando, é mais uma das suas falácias torpes. Algo tão ridículo que quase tem graça, ainda mais porque da mesma forma que não se pode falar em “os gays” para representar uma unidade onisciente de homossexuais, não há como pensar em “os evangélicos” como uma coisa só. Por mais que deseje, o senhor não fala por um grupo tão heterogêneo de pessoas. Aliás, fala justamente por uma parcela que é considerada maluca e que deve ser afastada da política com todas as forças.
É engraçado, porque até o senhor anda “marinando”. Primeiro, era contra a “nova política” porque ela lhe parecia muito progressista, e vieram os tweets salvadores – sim, porque pelo menos serviram para abrir os olhos das pessoas – ameaçando boicotar Marina Silva. Eles surtiram efeito e ela mudou de ideia (embora isso não pareça mais algo tão difícil de acontecer), e agora você também mudou de discurso e passou a apoiá-la, garantindo que ela governaria sem permitir que a religião interferisse em suas decisões! Ora, mas não foi você mesmo que interferiu, e ainda lembrou que o cristianismo – desse jeito aí que você pratica – é um estilo de vida e que não permite negociações? Como é que agora ela lhe parece a opção “mais laica”? Tudo isso é medo de que o “preconceito” faça com que ela perca votos? Bateu desespero porque finalmente há a chance de eleger uma Presicrente?
Realmente, temos muito que te agradecer. Graças a você, a farsa da novidade acabou em 24 horas. Graças a você, os direitos LGBT são tema de perguntas em debates e entrevistas, e os candidatos estão fazendo de tudo para se promover como defensores da diversidade. É claro que promessas são coisas fáceis de fazer, mas servirão de guia para as cobranças do próximo mandato. Graças a você, lembraram que gay também é gente, que paga imposto, e que vota – olha só! Valeu mesmo. Para quem está acostumado a ser visto como cidadão de segunda classe, a visibilidade é tudo.
Graças a você, saímos do armário e viramos mesa de centro.
Foto de capa: Valter Campanato/ABr