ELEIÇÕES NOS EUA

Nikki Haley pode dar trabalho para Donald Trump?

A ex-governadora da Carolina do Sul já ultrapassou Roni DeSantis nas pesquisas e virou alvo de ataques do ex-presidente de extrema direita

Créditos: Getty Images - Nikki Haley foi embaixadora dos EUA na ONU na administração Trump
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Nimarata Nikki Haley, ou apenas Nikki Haley, pode ser uma dor de cabeça para Donald Trump? Ela á candidata nas primárias presidenciais do Partido Republicano deste ano. O anúncio da campanha foi feito em fevereiro de 2023.

A principal aposta dos eleitores republicanos nas primárias é em Trump. Mas é Haley que detém vantagem maior sobre Joe Biden do que Trump ou Ron DeSantis em potenciais confrontos diretos.

De acordo com uma pesquisa divulgada pela CBS News, em um eventual disputa contra Biden, Haley venceria o atual presidente por 53% contra 45%.

DeSantis obteria 51% contra 48% e Trump, 50% contra 49%.

À medida que a nomeação presidencial do Partido Republicano começa, Trump, Haley e DeSantis têm todos pelo menos uma ligeira vantagem nacional sobre o  Biden neste momento, caso surgissem como seu adversário.

Haley e DeSantis têm caminhos mais difíceis para conseguir essa oportunidade, já que estão substancialmente atrás de Trump na corrida pela nomeação.

O argumento mais usado em defesa do nome de Haley – de que ela é a candidata republicana mais elegível – baseia-se numa sondagem do Wall Street Journal de dezembro que revelou que ela derrotou Biden num confronto direto por 17 pontos.

Esse foi um resultado muito melhor do que a vantagem de 4 pontos de Trump sobre Biden na mesma pesquisa, ou o resultado empatado de DeSantis com o presidente.

O que está por trás da liderança de Haley?

Getty Images

A vantagem de Haley sobre Biden é atribuída à capacidade dela de atrair mais moderados e independentes e mais eleitores com diploma universitário do que Trump atrai contra Biden.

Ela também elimina mais apoiadores de Biden em 2020 do que Trump ou DeSantis, e apaga a vantagem de Biden em relação às mulheres.

Haley está empatada com Biden em algumas características importantes: ela pesquisa até mesmo entre aqueles que procuram um presidente que demonstre empatia e esteja aberto a concessões – qualidades que a grande maioria dos eleitores diz serem importantes para eles.

Por outro lado, Biden lidera Trump e DeSantis entre os eleitores que desejam essas qualidades.

E Haley se sai tão bem quanto Trump e DeSantis, se não um pouco melhor, entre os eleitores que dizem que mostrar firmeza é importante.

Mas tudo isso configura o que pode parecer uma eleição eleitoral: Biden se sai melhor entre aqueles que dizem que provavelmente votarão do que entre aqueles que definitivamente votarão.

Segundo lugar em Iowa

Na pesquisa mais recente do Des Moines Register/NBC News/Mediacom para as prévias em Iowa antes dos caucuses desta segunda-feira (15), Donald Trump se mantém na frente, com Nikki Haley superando Ron DeSantis e assumindo a segunda posição.

"Caucuses" são reuniões de membros de um partido político, realizadas em alguns estados dos Estados Unidos, para selecionar delegados para as convenções nacionais onde os candidatos à presidência são oficialmente nomeados. Diferentemente das primárias, que são basicamente votações secretas, os caucuses são processos mais interativos e prolongados.

Durante um caucus, os participantes se reúnem em locais designados, como escolas ou auditórios comunitários, e se dividem em grupos de acordo com o candidato que apoiam. Há discussões e persuasões entre os participantes, e as pessoas podem mudar de grupo. No final, o número de delegados que cada candidato recebe é determinado pela proporção de apoio que eles têm dentro desse grupo de caucus.

Os caucuses são conhecidos por seu caráter participativo e são uma tradição importante nas eleições presidenciais dos EUA, especialmente em estados como Iowa, onde eles têm um papel significativo no início do processo de nomeação presidencial.

Trump, o ex-presidente, é a opção principal para 48% dos prováveis eleitores republicanos. Enquanto isso, Haley, ex-embaixadora das Nações Unidas, alcançou 20%, deixando o governador da Flórida, DeSantis, com 16%. Outros candidatos não conseguiram atingir a marca de dois dígitos.

Preparativos para o caucus

@nikkihaley
nikkihaley

Neste domingo (14), véspera dos caucuses de Iowa, Haley discursou para uma multidão enérgica em uma churrascaria em Ames, a poucos quilômetros da Universidade Estadual de Iowa.

Apesar das temperaturas congelantes, a sala estava lotada com voluntários de campanha, jornalistas e alguns indecisos participantes da convenção política.

A situação de Haley melhorou nos últimos dias, à medida que a ex-governadora da Carolina do Sul e embaixadora dos EUA na ONU ganhou impulso na corrida pela nomeação presidencial republicana.

Depois de ficar atrás do governador da Flórida, Ron DeSantis, por meses, ela superou DeSantis. Só que a sondagem também sublinhou os profundos desafios que Haley – e qualquer outro republicano que não se chame Donald Trump – enfrenta na busca pela nomeação.

Trump venceu facilmente todos os seus oponentes nas pesquisas de Iowa, conquistando o apoio de 48% dos prováveis participantes do caucus.

Mesmo que Haley consiga terminar em segundo lugar no Iowa, é pouco provável que os resultados respondam à questão que moldou todas as primárias republicanas: como pode qualquer candidato derrotar um antigo presidente que continua a ser esmagadoramente popular junto da base do partido?

Trump traz o caos

Ao fazer sua última apresentação aos eleitores de Iowa, Haley criticou diretamente Trump, alertando que sua reeleição só traria mais “caos” em um momento já caótico para a nação.

“Acho que o presidente Trump foi o presidente certo na hora certa. Concordo com muitas de suas políticas. Mas, certa ou errada, o caos o segue. E não podemos ser um país em desordem num mundo em chamas e passar por mais quatro anos de caos. Não sobreviveremos.”

Ela destacou ser a candidata republicana mais elegível e apontou para uma pesquisa do Wall Street Journal divulgada no mês passado, que a mostrou derrotando Joe Biden por 17 pontos em um confronto direto.

Bom desempenho nos debates

CNN

Haley viu um aumento em sua popularidade nas pesquisas para as primárias republicanas de 2024 nos últimos meses. Esse avanço foi impulsionado por suas boas performances em debates e por conduzir uma campanha que muitos conservadores consideram praticamente sem erros.

No entanto, nas semanas que antecederam as importantes convenções partidárias de Iowa desta segunda-feira, Haley enfrentou vários contratempos.

Entre esses desafios, estava o fato de ela não ter mencionado inicialmente a escravidão como causa da Guerra Civil, o que gerou dias de manchetes negativas e a necessidade de respostas.

Além disso, suas declarações de que os eleitores de New Hampshire iriam "corrigir" os caucuses de Iowa, vistos como um insulto local, e que os candidatos mudam suas personalidades em diferentes estados também atraíram críticas.

Haley também esteve sob análise pela maneira como tem equilibrado suas críticas ao ex-presidente Donald Trump, tendo dito recentemente que ele “terá que responder” pelos eventos de 6 de janeiro, mas também prometendo perdoá-lo, se necessário, para ajudar o país a "avançar".

Durante o debate da CNN no dia 9 de janeiro, seu oponente Ron DeSantis a criticou, referindo-se a suas ações como “podologia balística”, uma maneira elegante de dizer que ela deu um tiro no próprio pé.

Trump ataca Haley

Trump atacou o comentário de Haley no debate da CNN sobre a Guerra Civil, afirmando que a escravidão era a "resposta óbvia", em vez de "três parágrafos de bobagem", e que os eleitores de Iowa "não precisam ser corrigidos".

Anteriormente o ex-presidente e virtual candidato republicano à Casa Branca este ano sacou uma "carta racial” ao propagar a alegação infundada de que Haley não está qualificada porque seus pais não eram cidadãos dos EUA quando ela nasceu.

Muito semelhante ao que Trump fez contra Barack Obama. Naquela ocasião chegou-se a cunhar o termo “birther” para descrever teorias de conspiração racistas sobre o primeiro presidente negro dos EUA, que o republicano aproveitou ao estabelecer uma presença na extrema direita política.

Em 2016, enquanto concorreu à presidência, Trump também tentou levantar dúvidas sobre Ted Cruz, o senador do Texas que era então o seu principal rival.

O pai de Obama era queniano e a sua mãe estadunidense. Ele nasceu no Havaí. O pai de Cruz era cubano e sua mãe nascida nos EUA. Ele nasceu no Canadá e se mudou para o Texas ainda jovem.

Já Haley tem pais que nasceram na região de Punjab, na Índia. Ela nasceu em Bamberg, Carolina do Sul, em 1972, cidadã estadunidense ao nascer. Seu pai tornou-se cidadão americano em 1978, sua mãe em 2003. 

No último dia 9, Trump publicou novamente na sua plataforma Truth Social uma publicação do Gateway Pundit, um site de extrema direita, que citava Paul Ingrassia, um jovem republicano de Nova Iorque e “estudioso constitucional”, dizendo que Haley foi desqualificada.

Em sua própria postagem, Ingrassia citou “ótimo trabalho investigativo de Laura Loomer, que descobriu que nenhum dos pais de Haley era cidadão americano quando ela nasceu em 1972”. Loomer, uma ativista de extrema direita, islamofóbica, supremacista branca da Flórida e trumpista fanática.

Desde que lançou a campanha para ser a candidata republicana na disputa pela presidência, Haley passou a ser chamada por Trump de "birdbrain" (“cérebro de pássaro”). Ela nem pestanejou e ignorou a zombaria diante de seu aumento nas pesquisas e retrucou que ficou lisonjeada com a atenção. Ela até prometeu perdoá-lo.

Quem é Nikki Haley

A republicana é diplomata, foi governadora da Carolina do Sul entre 2011 a 2017 e atuou no Governo Trump como embaixadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU) por dois anos, de janeiro de 2017 e dezembro de 2018.

Ela foi a primeira indo-estadunidense a servir em um gabinete presidencial.

Haley ingressou no negócio de roupas de sua família antes de servir como tesoureira e depois presidente da Associação Nacional de Mulheres Empresárias. Ela foi eleita para a Câmara dos Representantes da Carolina do Sul em 2004 e cumpriu três mandatos.

Em 2010, durante seu terceiro mandato, foi eleita governadora da Carolina do Sul. Haley foi a primeira mulher governadora da Carolina do Sul e a segunda governadora de estado estadunidense de ascendência indiana, depois do colega republicano Bobby Jindal, da Louisiana.

Em janeiro de 2017, Haley renunciou ao cargo de governadora para se tornar embaixador dos EUA nas Nações Unidas. Ela foi confirmada por 96–4 pelo Senado dos EUA em uma votação bipartidária. Ela deixou o cargo de embaixadora em 31 de dezembro de 2018.