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Se Michael Moore está preocupado, acho que todos os democratas também deveriam estar. Na eleição de 2016, contrariando todas as pesquisas eleitorais, ele disse, mais de uma semana antes da votação, que Donald Trump venceria em Michigan (o estado de Michael Moore), Wisconsin e Pensilvânia. Foi uma chuva de críticas mas ele acertou em cheio. Agora, ele não está contrariando totalmente os números dos institutos que erraram tudo da outra vez mas está alertando que só existem dois cenários possíveis: ou Joe Biden ganha de lavada ou perde por uma margem bem estreita em alguns estados em que as pesquisas estão indicando vitória do democrata, como Michigan, Wisconsin e Pensilvânia.
Nos cálculos do cineasta, toda vantagem de Biden deve ser cortada pela metade. Por exemplo, os 8 pontos a mais do que Trump que ele tem nas pesquisas de Michigan devem significar, de fato, apenas 4. Portanto, dentro da margem de erro. E mais: ele lembra que em julho Biden tinha 16 pontos de dianteira. Trump conseguiu reduzir um bocado a diferença. Isso é normal em uma eleição. Mas para Michael Moore, é motivo de cuidado redobrado no campo dos democratas. E ele não está vendo todo o cuidado que gostaria. Há mais de um mês ele reclama a presença da campanha dele no Michigan, o que só vai acontecer agora, no fim de semana. Mas em dose dupla. Será a primeira vez que o ex-presidente Barack Obama aparecerá em um comício junto com Joe Biden. Justamente no Michigan.
Michael Moore também está preocupado com os planos de Trump para o período pós-eleitoral. “Ele é um gênio do mal”, afirmou em um programa de televisão, “e deve estar planejando algo que nós nem imaginamos”. Por isso ele acha que o partido democrata deveria estar sentado, fazendo cálculos, traçando cenários, tentando imaginar todo tipo de truque ou manobra que pode ser posto em prática nos próximos dias. Algumas já foram derrubadas na justiça e tudo indica que outras virão.
Vai dar trabalho acompanhar a guerra judicial da eleição 2020. Um tribunal de apelação de Minnesota determinou que os votos enviados pelo correio só valerão se chegarem às mãos dos encarregados da contagem até o dia 3 de novembro, data oficial da votação. A decisão contraria em cheio o que a Suprema Corte dos Estados Unidos disse na véspera. Em Washington, a autoridade máxima do judiciário deu à Pensilvânia e à Carolina do Norte o direito de contar os votos que chegarem com três ou seis dias de atraso, respectivamente, se tiverem o carimbo do correio com data de até 3 de novembro.
Isso é só o começo. Tudo leva a crer que os advogados vão ganhar mais dinheiro do que nunca nesse fim de ano. As duas campanhas já mobilizaram um exército de apoio legal para resolver nos tribunais o que considerarem que as urnas não resolveram. A não ser que Joe Biden obtenha um resultado avassalador, o que Trump não tem chance de conseguir, a espera pelo resultado promete ser longa. Mas a pandemia segue ajudando os políticos democratas.
Na Georgia, onde eles têm chances de dar vitória a Biden e de quebra ganhar uma cadeira no Senado, o senador republicano David Perdue cancelou o último debate que teria com o adversário democratada, Jon Ossoff, que tenta tomar a vaga, e divulgou uma campanha de trinta segundos na qual acusa o rival de ter se beneficiado da pandemia para ganhar dinheiro. Disse que o republicano minimizou os riscos do coronavírus enquanto vendeu ações de empresas da indústria de viagens e comprou as ações das companhias do setor de saúde. Ou seja, sabia que o vírus provocaria muitas internações e lucros para os hospitais e fabricantes de máscaras e aventais, e prejuízos para o turismo. Sabia que a coisa era séria. Parece até alguém que a gente conhece. Enquanto dizia ao jornalista Bob Woodward que o vírus era um verdadeiro risco, em janeiro, Donald Trump passou meses dizendo o contrário à população.
O ataque de Ossoff nas mídias sociais viralizou. Ele é um jornalista investigativo e documentarista. O adversário ficou tão acuado que achou melhor cancelar o último debate para não ter que responder as acusações em público. O incidente só aumenta as chances da chapa democrata no estado. Pode ajudar Biden em dobro. Agora, na eleição, e garantindo mais um voto democrata no Senado a partir de janeiro do ano que vem.
David Perdue não é o primeiro senador republicano acusado de ganhar dinheiro usando informação privilegiada sobre os riscos da Covid-19. No dia 24 de janeiro, um grupo de senadores republicanos teve uma reunião fechada com oficiais de saúde do governo. Naquele momento, a pandemia já estava provocando problemas sérios na China. Pelas conversas de Donald Trump com o jornalista Bob Woodward, a Casa Branca também já sabia dos riscos que a doença representava. Coincidência ou não, no mesmo dia e no dia seguinte, alguns senadores republicanos compraram e venderam ações nas bolsas de valores em um ritmo muito fora do comum. O FBI está investigando se houve uso de informação privilegiada para auferir lucros, o que é, claro, ilegal. Mas a resposta das urnas pode chegar mais depressa do que a investigação, mesmo com uma contagem que pode se arrastar por dias e até semanas.