Faço e refaço as contas mas não tenho coragem de falar o resultado em voz alta. Superstição? Não. É gato escaldado mesmo. Em 2016 perdi uma aposta sobre o resultado da eleição presidencial americana. Foi a primeira em muito tempo. Daí o medo de dizer que, na minha soma, Joe Biden já tem 290 votos no colégio eleitoral garantidos. E só precisa de 270. Aí a importância da Pensilvânia fica muito clara. O estado tem 20 votos no colégio eleitoral. Se vencer por lá, Biden encerra a conta com uma folga. Se perder, cai para 270. O número exato. O mínimo necessário, sem margem para erros.
Essa minha conta não leva em consideração a Flórida e nem a Georgia. Os dois estados podem até terminar com Donald Trump. Contanto que a Pensilvânia fique com Biden. O contrário também funciona, já que a Flórida tem 29 votos no colégio eleitoral. Olhando o mapa, e os números, dá para entender porque os democratas estão otimistas mas também cautelosos. Joe Biden não está se arriscando. Faz poucas aparições públicas porque qualquer erro agora pode ser fatal. Mas os números são tão positivos que ele se deu ao luxo de fazer campanha em território inimigo.
Na terça-feira, 27, enquanto Trump voava de Michigan para Wisconsin e em seguida para Nebraska antes de passar a noite em Nevada, o democrata visitou apenas um estado. Biden foi à Warm Springs, cidade na zona rural da Georgia. Isso mesmo. O estado que há 50 anos vota nos republicanos para presidente e só fugiu à regra uma vez, em 1992, quando elegeu Bill Clinton.
De lá ele foi à Atlanta participar de um evento para incentivar a participação nas eleições. As pesquisas mostram Biden e Trump empatados na Georgia. Esta semana ele ainda vai a Iowa, estado em que Trump ganhou com 9 pontos percentuais de vantagem em 2016. Uma aposta e tanto, mas não é só a presidência que está em jogo. O candidato democrata do estado ao senado tem chances de vencer e se Biden for eleito presidente, ele quer uma virada no senado, hoje dominado pelos republicanos.
Enquanto Biden dava uma demonstração de força e ousadia, pedindo votos em território supostamente alheio, o ex-presidente Barack Obama estava de volta à Flórida, pedindo votos em Orlando. É a segunda vez que Obama faz campanha no estado, o que mostra o quanto ele é importante. Lá os democratas já gastaram US$ 74 milhões em anúncios, de maio ao dia 15 de outubro.
Trump também está investindo na Flórida, agora residência oficial do presidente. No mesmo período, ele gastou US$ 53 milhões em propaganda eleitoral no estado. Biden também está enchendo Texas, Iowa e Ohio de anúncios. A ideia é fortalecer os candidatos do partido e garantir um congresso alinhado com a Casa Branca.
Nas cidades onde os eleitores já estão votando, o entusiasmo é inegável. Ninguém pode garantir ainda qual é o motivo que está tirando tanta gente de casa, cedo, esse ano, para votar. Mas a marca já é histórica. O voto antecipado já ultrapassou, agora, o número total de votos da última eleição. E ainda faltam seis dias. Sem falar o dia 3, data oficial da eleição americana. Eu desconfio que essa essa vontade toda de determinar o resultado das urnas tenha menos relação com a popularidade ou o carisma de Joe Biden. Ele até que é simpático. Mas contra ou a favor, essa eleição é toda centrada em Donald Trump. É bom não esquecer: o país já tem mais de 227 mil mortos por covid-19.
Joe Biden tem 17 pontos de vantagem sobre Donald Trump no estado de Wisconsin, um estado onde Trump venceu, na última eleição, por uma margem pequena de votos. Nas duas últimas semanas Wisconsin teve um aumento de mais de 50% no número de novos casos de covid. A pandemia avança no estado, que já é o terceiro do país com o maior número de casos per capta de covid. A pesquisa da rede ABC e do jornal Washington Post, publicada na manhã desta quarta-feira (28) também confirma o favoritismo de Joe Biden no Michigan.