CHINA EM FOCO

Como a China usa tecnologia de ponta para preparar atletas de elite

Universidade chinesa desenvolve sistema de Inteligência Artificial para contribuir com a melhoria da performance da equipe da potência asiática nos jogos olímpicos

Créditos: Cortesia Zhang Mingxin - Diretor da equipe de suporte científico e tecnológico da equipe chinesa de basquete, Zhang Mingxin, coleta materiais em vídeo para análise de IA antes de uma partida nas Olimpíadas de Paris.
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Há várias aplicações para a inteligência artificial (IA) e a China tem avançado em várias delas. Além de robôs, manufatura inteligente, direção autônoma, auxílio a pesquisas científicas em laboratórios, na restauração de antigos pergaminhos misteriosos em sítios arqueológicos e no resgate de crianças sequestradas a potência asiática recorre à tecnologia de ponta para preparar os atletas de elite.

O Time China nas Olimpíadas de Paris 2024 recorre à força tecnológica para contribuir com a vitória dos atletas de forma mais científica e eficiente. Com o rápido progresso da tecnologia na China, a IA desempenha um papel crucial nos esportes competitivos de alto nível e contribui significativamente para o desenvolvimento dos esportes de massa e a popularização da cultura esportiva.

VCG - Homem mais veloz das raias olímpicas, Pan Zhanle

Na última quarta-feira (31), após saltar do bloco de partida e mergulhar na água, o nadador chinês Pan Zhanle conquistou a medalha de ouro olímpica nos 100 metros livres masculinos na Arena La Défense, em Paris, e quebrou o recorde mundial sob aplausos estrondosos.

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Essa noite particular ecoou os últimos meses, quando o nadador chinês e seus colegas de equipe saltaram na água inúmeras vezes durante treinamentos em seu país. Naquela época, seus técnicos e funcionários técnicos reuniam-se ao lado da piscina em torno de uma tela, que exibia todo o processo de saída do bloco e movimentos subaquáticos dos nadadores, com dados como distância de entrada e ângulo.

"Cameron van der Burgh (campeão olímpico sul-africano dos 100m peito) fez uma entrada com ângulo de 37 graus, que podemos usar como referência." Fixados na tela, eles discutiam os detalhes dos movimentos dos nadadores, provavelmente pela enésima vez.

IA para os esportes

VCG - Equipe de basquete da China recorre ao uso de IA para treinamento

A equipe chinesa de natação que compete na França treinou com a ajuda do "modelo esportivo SUS grande", o primeiro modelo de IA de grande porte da China projetado para esportes profissionais.

Desenvolvido conjuntamente pela Universidade de Esportes de Xangai (SUS, da sigla em inglês) e uma empresa de tecnologia chinesa, o modelo esportivo grande SUS e suas tecnologias relacionadas têm servido ao treinamento diário e à preparação para as Olimpíadas de Paris de várias equipes nacionais chinesas, como mergulho, natação, atletismo, ginástica e escalada.

O professor da SUS e membro da equipe do modelo grande, Li Yongming, explicou ao jornal chinês Global Times que a partir dos modelos verticais é possível estudar dados globais de literatura esportiva e analisar automaticamente vídeos e imagens de treinos e competições esportivas.

"O modelo esportivo grande SUS ajuda os atletas a revisar e entender melhor seus desempenhos com métricas quantificáveis e a elaborar planos de treinamento direcionados com base nessas métricas", disse Li.

Como a IA pode ajudar atletas

À medida que as Olimpíadas se desenrolam em Paris, é comum ver pessoal de suporte tecnológico nos locais de competição, além dos tradicionais treinadores e médicos da equipe. Mas até que ponto a IA pode ajudar os atletas olímpicos da China na busca pela glória das medalhas de ouro?

Na quarta, a China obteve uma vitória por 21-15 sobre a Sérvia, favorita ao ouro no basquete 3x3 masculino. Quando a partida terminou, alguns membros do suporte técnico chinês apressaram-se com vídeos que acabaram de filmar durante o jogo.

Cerca de uma hora depois, uma análise detalhada com quase todos os dados cinemáticos relevantes para esse jogo foi divulgada. Desde cada movimento dos jogadores até seus estados físicos, esses dados vão contribuir efetivamente para o resumo pós-jogo e a preparação para a próxima partida, explicou Zhang Mingxin, que dirige a equipe de suporte científico e tecnológico da equipe nacional chinesa de basquete 3x3 nas Olimpíadas de Paris.

Baseado em uma tecnologia de captura dinâmica tridimensional e algoritmo, o sistema de IA rastreia e analisa em tempo real os movimentos dos jogadores e as trajetórias da bola, explicou Zhang, que está atualmente em Paris, ao Global Times.

Ele descreveu que é possível obter dados úteis, como a intensidade de carga em tempo real de um jogador e o caminho do movimento, e análises profissionais geradas por IA de acordo com os dados.

"Todo o processo de captura dinâmica é completado sem incomodar os jogadores durante o jogo. Comparado com as tecnologias anteriores que poderiam exigir que os jogadores usassem dispositivos de censura desconfortáveis, este sistema faz tudo de uma maneira sem contato", disse ele.

Além disso, as tecnologias tradicionais de captura dinâmica que dependem de sensores vestíveis e GPS geralmente têm uma margem de erro de 30 centímetros a 40 centímetros, explicou Zhang. "Mas nosso novo sistema tem precisão de nível centimétrico, liderando o mundo neste campo (basquete 3x3)", contou.

Este sistema de IA é uma co-invenção da SUS, do Laboratório de Inteligência Artificial de Xangai e de uma empresa de tecnologia doméstica. Ele pode fornecer dados detalhados e análise em um curto espaço de tempo, ajudando a equipe a se recuperar melhor, preparar a próxima partida e ajustar táticas de acordo com diferentes adversários em um cronograma apertado.

IA no arco e flecha

A tecnologia de captura dinâmica de IA também está sendo usada nas preparações olímpicas de algumas outras equipes nacionais chinesas, como o arco e flecha. Xiu Yu, responsável pela análise de movimento e tecnologia da equipe de arco e flecha, disse ao Diário do Povo, em abril, que mais de 10 mil dados são gerados para cada flecha disparada pelo atleta.

"Após processar e analisar os dados, [o sistema de IA] formará um relatório que é passado para os técnicos da equipe", Xiu contou .

Treinamentos personalizados baseados na análise inteligente de grandes dados são amplamente utilizados no treinamento de atletas chineses, afirmou Chen Xiaoping, pesquisador distinto do Instituto de Ciências do Esporte da China, afiliado à Administração Geral de Esportes da China, também falou ao Diário do Povo.

"A melhoria geral do nível de treinamento científico é uma maneira importante de melhorar [o desempenho dos] atletas", o People's Daily citou Chen dizendo em 8 de abril. "Por trás da competição dos esportes competitivos está um confronto de força tecnológica e proficiência."

Grande potencial esportivo

Espera-se que o mercado de IA na indústria esportiva da China cresça de 5,93 bilhões de dólares em 2024 para 20,94 bilhões de dólares até 2029, com uma taxa de crescimento anual de mais de 28,69%, de acordo com dados da empresa de pesquisa de mercado Mordor Intelligence.

Além dos esportes competitivos de alto nível, os esportes de massa tem se tornado um palco mais amplo para aplicações de IA na China. Desde o ano passado, robôs de IA são gradualmente usados na reabilitação pós-partida de eventos de maratona pública pelo país e se mostram mais úteis e eficientes do que os métodos tradicionais de reabilitação, como água gelada e alongamento manual.

A versão atual 1.0 do grande modelo esportivo SUS foca principalmente em esportes competitivos e vai cobrir esportes de massa em versões posteriores e adicionar mais conteúdo de interesse do público geral, como exercícios para perda de peso.

A tecnologia de captura dinâmica de IA usada pela equipe chinesa de basquete 3x3 também tem muitos cenários de aplicação potenciais em esportes de massa, disse Zhang. Ele deu um exemplo: o sistema pode ser transformado em um técnico de IA que ajuda iniciantes de determinados esportes a corrigir seus movimentos incorretos.

"Além disso, a tecnologia de IA pode avaliar as performances esportivas das pessoas, avaliando seus movimentos, e isso pode incentivar competições e interações divertidas entre amigos. Em geral, a IA trará mais diversão aos amantes do esporte, ao mesmo tempo em que os torna mais produtivos", acrescentou Zhang.

Parte do espetáculo

Ser apenas um espectador das Olimpíadas de Paris é algo ultrapassado para a geração mais jovem da China. Em vez de se sentarem passivamente em frente à TV, alguns jovens chineses preferem se envolver ativamente nas Olimpíadas, fazendo parte deste espetáculo esportivo global de maneiras criativas.

A Aliança Industrial de Conteúdo Gerado por IA da China (China AIGC), por exemplo, realiza um evento temático durante as Olimpíadas, convidando os amantes de AIGC a criar obras relacionadas às Olimpíadas com ferramentas de IA gerativa. O evento recebeu mais de 70 inscrições únicas, com a maioria dos participantes sendo millennials e da Geração Z, de acordo com o iniciador da aliança, Ni Kaoming.

Ni compartilhou com o Global Times algumas das obras de destaque que receberam, incluindo um vídeo animado gerado por IA que narra a jornada mágica de um panda até as Olimpíadas.

"Embora existam algumas limitações no uso de elementos olímpicos devido a preocupações com direitos autorais, como os anéis olímpicos, ainda há muitas obras de alta qualidade que expressam bem o charme e o espírito olímpico", disse Ni.

As empresas de tecnologia chinesas também têm oferecido diversos produtos de IA criativos projetados especificamente para as Olimpíadas de Paris, que atraíram muitos jovens usuários chineses.

A IA beneficia a disseminação do espírito olímpico e da cultura esportiva, observou Ni. "Com a tecnologia de IA, as pessoas se aproximam muito mais das Olimpíadas de Paris, de sua cidade-sede e dos atletas, fazendo com que se sintam mais conectadas com esse espetáculo", finalizou.

Com informações do Global Times