CHINA EM FOCO

China exige conformidade de empresas após denúncias de exploração no Brasil

Pequim reforça compromisso com direitos trabalhistas e acompanha investigação sobre condições degradantes em obra da BYD na Bahia

China exige conformidade de empresas após denúncias de exploração no Brasil.Pequim reforça compromisso com direitos trabalhistas e acompanha investigação sobre condições degradantes em obra da BYD na Bahia.Créditos: Fotomontagem (BYD)
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Uma investigação conduzida por uma força-tarefa de órgãos federais brasileiros resultou no resgate de 163 trabalhadores chineses, que, segundo as autoridades, estavam submetidos a condições degradantes durante a construção de uma fábrica da BYD em Camaçari, Bahia. Os operários foram contratados pela empreiteira Jinjiang Group.

Durante uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira (26), em Pequim, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, comentou o caso. Ela afirmou que a embaixada e os consulados-gerais da China no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar os fatos e tratar a questão de forma adequada.

"Gostaria de enfatizar que o governo chinês dá grande importância aos direitos e interesses legítimos dos trabalhadores e exige que as empresas com investimentos chineses atuem de acordo com as leis e regulamentos", disse Mao.

BYD rompe contrato com empreiteira

Tanto a BYD quanto sua prestadora de serviços, o Grupo Jinjiang, foram notificadas na última segunda-feira (23) pelas autoridades brasileiras. Em nota à imprensa, o vice-presidente sênior da BYD Brasil, Alexandre Baldy, anunciou o rompimento do contrato com a construtora.

"A BYD Auto do Brasil reitera seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira. Estamos colaborando com as autoridades desde o início e decidimos romper o contrato com a construtora Jinjiang", anunciou a BYD.

A BYD também informou que transferiu os 163 trabalhadores resgatados para hotéis e iniciou uma revisão das condições de trabalho e moradia de todos os contratados por terceirizadas.

Na China, o gerente geral de marca e relações públicas da BYD, Li Yunfei, comentou o caso em suas redes sociais.

"Acusar sem fundamento é fácil. Observamos como forças externas difamam deliberadamente marcas chinesas e a China, enquanto tentam prejudicar a amizade entre os dois países. Além disso, parte da mídia doméstica atua de forma colaborativa com essas forças", escreveu.

Grupo Jinjiang refuta acusações

Em comunicado publicado nesta quinta-feira (26) nas redes sociais chinesas, o Grupo Jinjiang negou as acusações de que seus trabalhadores estariam em condições análogas à escravidão. A empresa afirmou que as informações divulgadas pelas autoridades brasileiras são baseadas em interpretações equivocadas, influenciadas por diferenças culturais e erros de tradução.

"Ser injustamente rotulados como 'escravizados' feriu a dignidade de nossos funcionários e violou seus direitos humanos, afetando seriamente a imagem do povo chinês. Assinamos uma carta conjunta para expressar nossos verdadeiros sentimentos", declarou a empresa em sua conta oficial no Weibo.

A versão dos trabalhadores

O comunicado da Jinjiang foi acompanhado de um documento assinado e marcado com impressões digitais pelos próprios trabalhadores.

Reprodução WeChat

A prática de assinar documentos com impressão digital em tinta vermelha é uma tradição chinesa usada para validar contratos e declarações, remontando à antiguidade. A impressão digital garante autenticidade, enquanto a tinta vermelha simboliza boa sorte, autoridade e oficialidade na cultura chinesa.

Amplamente utilizada em contratos e disputas trabalhistas, reforça o compromisso individual e a legitimidade coletiva. Apesar do avanço das assinaturas digitais, continua popular por sua simplicidade e custo acessível, especialmente em áreas rurais. No entanto, em contextos internacionais, como no Brasil, pode gerar interpretações distintas, destacando a importância de compreender as diferenças culturais.

GEFM - Passaportes de operários.

Segundo a Jinjiang, os passaportes foram entregues voluntariamente pelos operários para facilitar a emissão de documentos temporários no Brasil, como identidade e número de registro fiscal. Durante uma inspeção, os passaportes foram encontrados em um armário, o que teria levado os auditores a presumir retenção indevida.

Os trabalhadores declararam que seus passaportes seriam devolvidos após a conclusão do processo e que não houve restrição à liberdade. Eles afirmaram receber salários regularmente, usufruir de benefícios e estar satisfeitos com o emprego.

Entenda o caso

A operação foi liderada pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel, envolvendo 40 servidores de diversas instituições, como o Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério Público Federal, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Defensoria Pública da União.

GEFM - Alojamento de operários.

Durante uma coletiva de imprensa na última segunda-feira (23), foram detalhadas as condições precárias encontradas, que incluíam superlotação nos alojamentos, jornadas exaustivas e restrições à liberdade.

Segundo os auditores, os trabalhadores recebiam apenas uma parte de seus salários no Brasil, enquanto o restante era depositado na China ou retido até o término do contrato, configurando trabalho forçado. Os alojamentos apresentavam condições insalubres, com até 31 pessoas compartilhando um único banheiro e camas inadequadas.

Os operários enfrentavam jornadas de até 70 horas semanais, acima do limite legal de 44 horas no Brasil. Essas condições resultaram em ao menos quatro acidentes de trabalho, incluindo amputações e perda de movimentos nos dedos. Um dos trabalhadores relatou estar sonolento no momento de um acidente, após 25 dias consecutivos de trabalho sem folgas.

Impacto e próximos passos

O MPT anunciou uma ação judicial para garantir o pagamento integral dos salários e a regularização dos trabalhadores. Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira (26) para discutir as condições de trabalho e alojamento, além de negociar a regularização das atividades.

A fábrica da BYD na Bahia é parte de um projeto estratégico, com previsão de criação de 10 mil empregos diretos e início das operações em 2025.

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