CHINA EM FOCO

Não existem favelas na China - Por Domingos Leonelli

Secretário nacional de formação política do PSB relata o que viu nas cidades que visitou na potência asiática

Vista geral da cidade de Kunming
Vista aérea de Kunming, capital da província de Yunnan.Vista geral da cidade de KunmingCréditos: Xinhua
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Favelas na China? Não. Nesse país de um bilhão e meio de habitantes, que em menos de 40 anos tirou 800 milhões de pessoas da linha da pobreza, o socialismo deu certo. Socialismo de mercado, socialismo com características chinesas, capitalismo de Estado, ou qualquer outra denominação que o leitor ou a leitora prefira, o fato é que, em uma curta e intensa viagem por duas províncias e várias cidades, vilas e povoados, não vimos nada parecido com o que no Brasil chamamos de favela.

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É possível que elas existam, mas não estavam à vista nas cidades de Pequim, Kunming, Changshui, Dali, Chuxiong, Xizhou e em outras aldeias e vilas que visitamos.

Durante uma viagem de ônibus de mais de 200 km, que separa Kunming, capital da província de Yunnan, da cidade de Chuxiong, passamos por dezenas de vilarejos, aldeias, povoados e periferias de cidades. Enquanto alguns dos nossos acompanhantes chineses e latino-americanos aproveitavam para descansar, fiquei atento, observando a paisagem. Notei pouquíssimas casas de madeira ou construções sem reboco com tijolos aparentes — contei menos de duas dezenas em todo o trajeto. A esmagadora maioria das casas e sobrados de mais de um andar eram simples, sem grandes atrativos arquitetônicos, mas dignas e sólidas.

O que mais chama atenção na paisagem urbana chinesa, tanto em áreas rurais quanto próximas a campos agrícolas, são os imensos condomínios verticais. Grandes conjuntos habitacionais com mais de vinte ou trinta andares estão espalhados não apenas nos centros urbanos, mas também nas periferias e áreas contíguas às plantações. Essas construções, embora padronizadas, convivem com exemplares de uma ousada arquitetura moderna e monumentos históricos milenares, especialmente nas grandes cidades.

A verticalização habitacional parece ser a solução encontrada pela China para enfrentar dois desafios do socialismo moderno: a redução significativa da desigualdade e a rápida urbanização da população. Segundo a ONU, mais de 500 milhões de chineses migraram das áreas rurais para as cidades nos últimos 30 anos, transformando vilarejos como Shenzhen em megalópoles com milhões de habitantes.

Esse crescimento, no entanto, não foi desordenado. Grandes institutos de planejamento, com milhares de arquitetos e urbanistas, orientaram o desenvolvimento das cidades, utilizando recursos tecnológicos avançados e inteligência artificial. O Ministério da Terra e Recursos Naturais define as áreas a serem urbanizadas anualmente, garantindo que o planejamento siga diretrizes nacionais e regionais.

A propriedade pública da terra, que permite aos municípios firmar contratos de arrendamento com empresas privadas, foi fundamental para viabilizar a construção dos milhões de conjuntos habitacionais de mais de 30 andares. Ao mesmo tempo, o Estado socialista promoveu o crescimento da indústria da construção civil, sem descuidar de obras de infraestrutura, como o metrô de Pequim, que passou de 53 km em 1990 para impressionantes 527 km atualmente.

Apesar da aparente predominância automobilística, a preservação de bairros históricos (os "hutongs"), o uso amplo de bicicletas e motocicletas elétricas e o crescente número de carros elétricos equilibram a urbanização.

Esse panorama de urbanização na China demonstra que o socialismo com características chinesas, ao combinar um Estado forte com a participação privada, está respondendo de maneira positiva aos desafios da modernidade urbana. Como evidência desse sucesso, cerca de 90% das famílias chinesas possuem seus próprios imóveis, mostrando que o modelo socialista não é incompatível com a propriedade privada, podendo até mesmo ampliá-la.

Esse artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum

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