CHINA EM FOCO

Com Trump ou Biden, China vai manter defesa de soberania, segurança e interesses de desenvolvimento

Governo chinês comenta possibilidade do retorno à Casa Branca do ex-presidente republicano de extrema direita e ressalta que não interfere em eleições de outros países

Créditos: Fotomontagem: Joe Biden (@potus) e Donald Trump (@realdonaldtrump) devem disputar a presidência dos EUA em novembro; China não interfere.
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A China, independente de quem vencer as eleições presidenciais dos EUA em novembro deste ano, seguirá atuando em defesa firme da sua soberania, segurança e interesses de desenvolvimento.

A declaração foi feita pelo porta-voz Wang Wenbin, do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, o equivalente ao Ministério das Relações Exteriores, em coletiva de imprensa regular nesta quarta-feira (31).

Wang fez o comentário ao ser questionado por um jornalista da Reuters se há preocupação sobre as mudanças na política de Washington em relação a Pequim caso Donald Trump vença as eleições presidenciais dos EUA.

Em resposta, o porta-voz destacou que o pleito de novembro é uma questão dos EUA e que a China, comprometida com o princípio da não interferência nos assuntos internos de terceiros, não vai haver interferir nesse tema.

Wang sublinhou ainda que o desenvolvimento das relações China-EUA é de interesse fundamental dos dois povos e dos dois países e corresponde às expectativas da comunidade internacional. 

"Independentemente de quem for eleito presidente dos EUA, esperamos que os EUA trabalhem connosco na mesma direção, sigam os princípios do respeito mútuo, da coexistência pacífica e da cooperação vantajosa para ambas as partes, e promovam o crescimento constante, sólido e sustentável das relações bilaterais para o benefício dos dois países e do mundo em geral. Entretanto, continuaremos a defender firmemente a nossa soberania, segurança e interesses de desenvolvimento", afirmou Wang.

Questão de Taiwan

Também nesta quarta, em outra coletiva de imprensa, o porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado da China, Chen Binhua, reiterou que a questão de Taiwan é um assunto interno da China e não permite qualquer interferência externa, como é feito de modo reiterado por Washington.

Chen comentou as afirmações da professora de política do Leste Asiático na Universidade Brown, em Providence, no estado de Rhode Island (EUA), Shelley Rigger, de que o governo recém-eleito da ilha não avançará em direção à "independência".

Shelley declarou em entrevistas e análises recentes que o líder recém-eleito da ilha, Lai Ching-te, estará sujeito a muitas restrições, por isso não avançará em direção à "independência" de Taiwan de forma oficial.

"O que é ainda mais preocupante é que algumas pessoas nos EUA encorajam e até forçam ele a adotar medidas perigosas que não são do interesse da ilha, mas que ele não pode opor-se. Um exemplo disso foi quando Tsai Ing-wen não pôde recusar a visita de Nancy Pelosi à ilha", relembrou o porta-voz. 

Cheg enfatizou que a questão de Taiwan é um assunto interno da China e não permite qualquer interferência externa. Ele ressaltou que as forças contra a China dos Estados Unidos querem sempre aproveitar essa questão para criar confrontos entre os dois lados do Estreito de Taiwan, colocando a ilha em perigo e prejudicando os interesses das pessoas locais.

“Não deixaremos qualquer espaço para separatistas que reclamam a independência de Taiwan e nunca faremos concessão a nenhuma interferência externa”, reiterou ele. 

Trump e a questão de Taiwan

Durante sua presidência nos EUA, entre 2017 e 2021, o republicano de extrema direita Donald Trump adotou uma abordagem mais agressiva em relação a Taiwan em comparação com administrações anteriores, embora tenha mantido o compromisso de Washington com a política de "Uma China".

O governo Trump fez gestos significativos em apoio a Taiwan, como o aumento da frequência de movimentos de navios militares dos EUA no Estreito de Taiwan, considerado um sinal de apoio a Taipei e um desafio a Pequim.

Além disso, houve um momento definidor na política dos EUA em relação a Taiwan logo após a eleição de Trump em 2016, quando ele recebeu uma ligação de parabenização da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen. Essa foi a primeira comunicação presidencial direta desde 1979, o que parece ter sido cuidadosamente orquestrado.

Na semana seguinte, Trump disse que estava reconsiderando a política de "Uma China" de 40 anos. No entanto, em sua primeira ligação oficial com o líder da China, Trump assegurou ao presidente Xi Jinping que os Estados Unidos permaneciam comprometidos com a política de "Uma China".

Esses movimentos indicavam que o governo Trump procurava melhorar sua posição de negociação sobre Taiwan, provocando um teste inicial com Pequim para anunciar que os Estados Unidos seriam menos previsíveis do que no passado.

Enquanto isso, a China deixou claro que responderia a quaisquer desafios à política de "Uma China". No entanto, a administração Trump também aumentou o apoio militar a Taiwan, incluindo a venda de equipamentos militares, como parte de um compromisso mais amplo com a segurança e defesa da ilha.

Há grandes chances de Trump vencer a disputa para nomeação do Partido Republicano para a disputa com Biden em novembro.

Biden e a questão de Taiwan

Já o posicionamento do presidente Joe Biden em relação à independência de Taiwan é de não apoio à independência formal da ilha. Ele reafirmou que os Estados Unidos não apoiam a independência de Taiwan, mantendo assim a política de longa data dos EUA de reconhecimento diplomático de Pequim em vez de Taipei desde 1979.

No entanto, os EUA continuam a manter relações não oficiais com Taiwan e são seu mais importante apoiador e fornecedor de armas. Biden já fez declarações indicando que as forças estadunidenses defenderiam Taiwan em caso de um ataque chinês, o que pareceu sugerir uma possível mudança na política dos EUA.

Em uma política de morde e assopra, a Casa Branca, na tentativa de amenizar as declarações de Biden, em mais de uma oportunidade esclareceu que essas falas do presidente não representam uma mudança de política.

A postura de Biden sugere que, embora os EUA não estejam encorajando a independência de Taiwan, a decisão final sobre esse assunto cabe a Taiwan. Essa posição equilibra a dissuasão de Pequim de um ataque não provocado e a dissuasão de Taiwan de fazer uma declaração formal de independência, uma política conhecida como "deterrence dual" nos círculos políticos de Washington.

Portanto, a postura dos EUA sob a administração Biden parece ser uma de manter o status quo, apoiando Taiwan em termos de defesa e relações não oficiais, sem promover a sua independência formal.

China nas eleições dos EUA 

Além da questão de Taiwan, que permanece uma questão crítica sobre a qual cada candidato presidencial dos EUA deverá propor como lidar com o equilíbrio delicado de apoiar a ilha sem escalar as tensões com a China, há uma série de questões-chave nas relações EUA-China que têm potencial para ter destaque na campanha:

Tecnologia e Segurança Econômica: Esse tem sido um grande ponto de contenda, particularmente no âmbito dos avanços tecnológicos e espionagem econômica. Os EUA tomaram medidas para proteger sua vantagem tecnológica, especialmente na indústria de semicondutores, e isso provavelmente continuará como um tópico de debate.

Direitos Humanos: Questões como o tratamento dos uigures em Xinjiang e a situação em Hong Kong têm sido pontos de atrito entre os EUA e a China. A postura dos EUA sobre esses assuntos provavelmente será um tópico de discussão durante a campanha.

Rivalidade Militar: A crescente presença militar e capacidades da China em regiões como o Mar do Sul da China levantaram preocupações nos EUA, levando a discussões sobre como gerenciar essa competição estratégica.

Comércio: A guerra comercial iniciada sob a administração Trump teve impactos significativos em ambas as economias. A abordagem em relação às relações comerciais com a China, incluindo tarifas e acordos comerciais, provavelmente será um tópico significativo.

Mudança Climática e Questões Ambientais: A colaboração entre os EUA e a China em desafios globais como mudança climática e proteção ambiental poderia ser um ponto de discussão, dado o papel significativo que ambas as nações desempenham nas emissões globais.

Pandemia de Covid-19 e Acusações: As origens da pandemia de Covid-19 e o subsequente manejo da crise têm sido fontes de tensão entre os EUA e a China, o que pode ressurgir nas discussões da campanha.

Alianças dos EUA e Política Global: Como os EUA se alinham com seus aliados na Ásia e Europa em resposta às ações da China, e a abordagem geral em relação à China na política externa dos EUA, são esperados para serem questões importantes.

Cada um desses tópicos reflete temas mais amplos de competição, rivalidade estratégica e a necessidade de diplomacia cuidadosa na gestão de uma das relações bilaterais mais consequentes do mundo.

As perspectivas e políticas propostas pelos candidatos presidenciais sobre essas questões serão observadas de perto tanto domesticamente quanto internacionalmente.