CHINA EM FOCO

Elon Musk pede barreiras para conter força da indústria chinesa de veículos elétricos

CEO da Tesla, defensor do livre mercado, reconhece sucesso dos carros feitos na China e prega barreiras comerciais para evitar que produtos como os da BYD dominem o mercado

Créditos: TED (James Duncan Davidson) - Elon Musk quer barreiras comerciais para conter indústria automotiva da China
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Elon Musk, CEO da Tesla, fabricante de veículos elétricos (EV, da sigla em inglês), e um dos homens mais ricos do mundo, em várias ocasiões reconheceu a competência dos fabricantes chineses de EVs. Agora, ele clama por barreiras comerciais para conter o crescimento do setor na China.

Em janeiro de 2023, por exemplo, durante conversa com investidores, o bilionário disse que uma montadora chinesa provavelmente seria a concorrente mais próxima da Tesla no mercado. Naquela ocasião Musk destacou que a empresa dele ainda era a líder do setor – inclusive nos países orientais e na China.

Um ano depois, essa paisagem mudou. Em conversa com os mesmos investidores, o bilionário voltou a elogiar as empresas chinesas, mas, dessa vez, cutucou os concorrentes. Para ele, sem barreiras comerciais, as montadoras da potência asiática “irão praticamente demolir a maioria das outras empresas no mundo”.

A declaração foi feita durante a teleconferência de resultados da Tesla na última quarta-feira (24). 

“As montadoras chinesas são as montadoras mais competitivas do mundo. Portanto, acho que eles terão um sucesso significativo fora da China, dependendo do tipo de tarifas ou barreiras comerciais estabelecidas. Francamente, penso que, se não forem estabelecidas barreiras comerciais, elas irão praticamente demolir a maioria das outras empresas no mundo.”

Essa fala de Musk foi feita após a Tesla sofrer sua primeira derrota em vendas globais para a BYD, gigante chinesa de fabricação de carros elétricos.

No último trimestre do ano passado, a fabricante com sede em Shenzhen vendeu 525.409 veículos, superando as 484.507 unidades comercializadas pela Tesla no mesmo período.

Ao longo de todo o ano, no entanto, a Tesla manteve a liderança, entregando cerca de 1,81 milhão de veículos elétricos (EVs) globalmente, um aumento de 38% em relação a 2022.

Em contraste, a BYD teve um aumento de 70% nas vendas em relação ao ano anterior, com 1,6 milhão de unidades vendidas, evidenciando uma taxa de crescimento mais acentuada.

Além disso, aumentando as preocupações de Musk, as ações da Tesla sofreram uma queda nesta quinta-feira (25), seguindo a divulgação de lucros abaixo do esperado e advertências sobre uma possível desaceleração em 2024.

BYD responde provocação de Musk

Divulgação BYD - Zhao Changjiang

Em meio a essa disputa do mercado de veículos elétricos aquecida pelas recentes declarações de Musk, um alto executivo da BYD, Zhao Changjiang, respondeu às provocações do dono da Tesla.

Em postagem na plataforma de mídia social chinesa Weibo no mesmo dia em que Musk clamou por barreiras comerciais contra a indústria chinesa de veículos elétricos, Zhao expressou confiança na força atual da empresa.

Reprodução Weibo 

Embora não tenha citado o nome da Tesla ou de Musk, o executivo da companhia chinesa pareceu responder a um comentário anterior feito online sobre a comparação entre Tesla e BYD.

Zhao sinalizou 'desafios significativos' para a companhia estadunidense. O executivo da BYD, que tem planos de produzir veículos eletrificados no Brasil, enviou uma mensagem à Tesla.

A BYD  firmou parceria com a alemã Mercedes-Benz para desenvolver o novo modelo Denza e tudo indica que haverá uma acirrada competição com a Tesla.

"Você encontrará sérios desafios em sistemas e modelos de direção assistida inteligente em 2024. Por exemplo, Denza N7 mudará a estrutura do mercado e derrotará os modelos Y!", escreveu.

O executivo chinês enfatizou que o lançamento do modelo N7 da Denza em 2024, equipado com sistemas avançados de assistência ao motorista, representará um grande desafio para o popular Model Y da Tesla o que pode mudar de forma significativa o panorama do mercado automotivo global.

Embora Zhao não tenha mencionado especificamente Musk, a declaração pareceu ser uma alusão à postagem de Musk no X no início de janeiro, onde o bilionário descreveu a Tesla como uma empresa de inteligência artificial, além de uma fabricante de automóveis.

Zhao também sugeriu que a Tesla poderia enfrentar uma perda de participação de mercado, indicando uma crescente competitividade no setor de veículos elétricos.

A BYD está rapidamente se estabelecendo como uma forte concorrente no mercado global de veículos elétricos, desafiando a liderança de longa data da Tesla. Com sede em Shenzhen, a BYD superou a Tesla em vendas de veículos totalmente elétricos pela primeira vez no quarto trimestre.

No ano passado, a BYD tomou uma decisão estratégica de expandir suas operações para o Brasil, anunciando a instalação de uma fábrica no estado da Bahia, no local anteriormente ocupado pela Ford, em Camaçari.

Este projeto envolve a produção de automóveis elétricos e representa um investimento significativo de cerca de R$ 3 bilhões. As obras para a ampliação e modernização da unidade brasileira estão previstas para começar em fevereiro.

Enquanto isso, a Tesla, enfrentando uma concorrência intensa, especialmente no grande mercado chinês, tomou a medida de reduzir os preços de seus veículos na China. Essa estratégia, no entanto, impactou o valor de mercado da empresa, que viu uma redução significativa de mais de US$ 90 bilhões apenas nas primeiras semanas do ano.

Livre mercado, mas nem tanto

Musk se diz um liberal e defensor do livre mercado. Mas nem tanto. Com uma mão, o bilionário dono do X (antigo Twitter) é beneficiado e apoiado por sistemas de livre mercado, especialmente no contexto de inovação e empreendedorismo. Com a outra, ele se engaja em políticas e regulamentações governamentais quando isso beneficia os próprios interesses comerciais.

Por exemplo, a Tesla recebeu subsídios e incentivos governamentais significativos, que desempenham um papel crucial nas operações e crescimento da empresa.

Agora, com o resultado decepcionante da Tesla no quarto trimestre de 2023, que reportou receitas e lucros inferiores às previsões dos analistas sob o impacto de uma estratégia agressiva de redução de preços implementada por Musk para atrair clientes, a empresa enfrentou uma queda de mais de 8% em suas ações desde esse anúncio.

Neste período, a concorrente chinesa BYD apresentou desempenho superior à Tesla, evidenciando a intensa competição no setor.

Fabricantes chinesas sob escrutínio

Musk não está sozinho em sua preocupação com a concorrência no mercado de veículos elétricos. A Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia, iniciou uma investigação sobre os subsídios concedidos aos fabricantes de veículos elétricos na China.

Esse processo, iniciado no ano passado, ainda está em andamento. Dependendo dos resultados, a União Europeia poderá impor tarifas mais altas sobre os veículos elétricos chineses.

Nos Estados Unidos, há uma preocupação similar, pois se argumenta que as montadoras asiáticas, com custos de mão de obra mais baixos e suporte governamental, têm potencial para desafiar seriamente a concorrência, como Musk mencionou.

Essa disputa se reflete também no cenário político dos Estados Unidos. Durante a campanha eleitoral, o presidente Joe Biden enfatizou a ambição da China de dominar o mercado global de veículos elétricos e declarou sua intenção de impedir que isso aconteça.

Por outro lado, o ex-presidente Donald Trump e líder na corrida para nomeação do Partido Republicano para disputar as eleições presidenciais de novembro, prometeu dobrar as tarifas e defendeu uma tarifa universal de 10% sobre todas as importações nos EUA, caso seja reeleito.