O governo chinês divulgou um white paper (livro branco, com resumo sobre determinado tema) nesta terça-feira (26) para apresentar a base teórica, prática e desenvolvimento de uma comunidade global de futuro compartilhado, como forma de apresentar a visão da China sobre o curso do desenvolvimento humano, em contraposição ao pensamento hegemônico de certos países que buscam a supremacia.
Há dez anos, o presidente chinês, Xi Jinping, propôs a ideia de construir uma comunidade global de futuro compartilhado. De acordo com o documento intitulado "Uma Comunidade Global de Futuro Compartilhado: Propostas e Ações da China".
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Sua proposta ilumina o caminho à frente, enquanto o mundo busca soluções, e representa a contribuição da China para os esforços globais de proteger o lar comum e criar um futuro melhor de prosperidade para todos.
O momento de lançar um documento como este é crucial, pois, além de marcar o 10º aniversário da proposta de uma ideia significativa, o mundo está passando por uma turbulência severa e por mudanças profundas que não foram vistas nos últimos cem anos.
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Portanto, a comunidade internacional tem clamado por soluções, e a China, como uma grande potência responsável que é muito mais poderosa do que era há 10 anos, tem a responsabilidade de contribuir com sua sabedoria e ações para atender às demandas desta era, afirmaram analistas chineses.
O que dizem especialistas
Especialistas chineses avaliaram que o relatório, sem mencionar os Estados Unidos, expressou claramente a firme oposição a muitas ideias e comportamentos de Washington, como "democracia versus autoritarismo", "confronto baseado em alianças" e "pequeno quintal, cerca alta".
Isso mostra que a China agora discorda abertamente da proposta dos EUA de uma "ordem baseada em regras", que na verdade é uma maneira de preservar a antiga ordem dominada pela hegemonia dos EUA.
Muitas ideias e comportamentos liderados pelo Ocidente e pelos EUA já causaram conflitos e tensões intermináveis em todo o mundo e levarão o mundo a uma nova Guerra Fria.
A China e a maioria dos países do mundo compartilham preocupações semelhantes e são responsáveis por encontrar um caminho para reformar eficazmente a ordem mundial e construir uma comunidade global de futuro compartilhado, afirmaram os especialistas.
Jogo de soma zero fadado ao fracasso
O jogo de soma zero está fadado ao fracasso, aponta o documento.
Mas certos países ainda se apegam a essa mentalidade, buscando cegamente segurança absoluta e vantagens monopolísticas, o que não trará nada para o seu desenvolvimento a longo prazo, mas representará uma grande ameaça para o mundo.
É cada vez mais óbvio que a obsessão com a superioridade e a mentalidade de soma zero estão em conflito com as necessidades de nosso tempo, afirma o livro branco, apontando que a nova era exige novas ideias.
Wu Xinbo, diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Fudan, analisou que muitas formas de pensar, bem como ações dos EUA, estão contra os interesses da China e também contra os interesses da grande maioria dos países em todo o mundo.
Como um país importante e responsável, nós, a China, devemos deixar nossa posição clara e dizer claramente ao mundo sobre o que estamos defendendo, e se queremos que outros países nos apoiem, devemos dizer a eles para onde estamos indo.
O white paper e as iniciativas propostas pela China não têm como objetivo desafiar os EUA e o Ocidente ou servir à ambição de luta pelo poder, mas na verdade partir dos interesses comuns da humanidade, porque "as abordagens dos EUA definitivamente levarão o mundo a uma nova guerra fria", observou Wu.
As propostas e ações da China não são para benefício ou interesse próprio da China, mas para o bem comum da humanidade, disse o especialista.
Abertura e inclusão
O documento afirma que "Construir uma comunidade global de futuro compartilhado é buscar a abertura, a inclusão, o benefício mútuo, a equidade e a justiça". O objetivo não é substituir um sistema ou civilização por outro. Em vez disso, trata-se de países com diferentes sistemas sociais, ideologias, histórias, direitos compartilhados e responsabilidades compartilhadas nos assuntos globais, afirma o documento.
Maya Majueran, diretora da Iniciativa Cinturão e Rota Belt Sri Lanka (BRISL, na sigla em inglês), uma organização sediada no Sri Lanka especializada em cooperação com a Nova Rota da Seda, aponta que:
Os EUA e seus aliados ocidentais têm tentado influenciar outros países e a ordem mundial com seus próprios valores e sistema político em nome da promoção da democracia e dos direitos humanos, e continuam a pressionar países cujas posições diferem das deles. Eles até intimidam mercados emergentes e países em desenvolvimento para escolher lados, por isso muitos países veem a proposta da China como um motor para impulsionar sua própria recuperação econômica ao se alinhar com ela.
Li Haidong, professor da Universidade de Assuntos Estrangeiros da China, comenta que as propostas e iniciativas da China foram bem recebidas em todo o mundo, mas alguns países ocidentais liderados pelos EUA sempre tentam boicotar, estigmatizar ou minimizar as propostas da China, e isso se deve à arrogância e ignorância deles, pois eles não querem que o sistema internacional desigual que os beneficia injustamente seja reformado.
Janelas e oportunidades
O conceito de uma comunidade global de futuro compartilhado tem raízes profundas na rica herança cultural da China e em sua experiência única de modernização. Ele perpetua as tradições diplomáticas da China e se baseia nas realizações notáveis de todas as outras civilizações, conforme afirmado no white paper. Também manifesta as tradições históricas de longa data da China, as características distintivas da época e uma riqueza de valores humanísticos.
O documento também apontou a direção e o plano para construir uma comunidade global de futuro compartilhado, incluindo o avanço de um novo tipo de globalização econômica no qual os países precisam buscar uma política de abertura e se opor explicitamente ao protecionismo, à construção de cercas e barreiras, a sanções unilaterais e táticas de máxima pressão, a fim de conectar as economias e construir conjuntamente uma economia mundial aberta.
O conceito que a China defende não é construído à custa dos interesses dos países vizinhos, o que contrasta fortemente com a fase de acumulação de capital dos países ocidentais, disse Wirun Phichaiwongphakdee, diretor do Centro de Pesquisa Tailândia-China da Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR).
O especialista tailandês citou vários projetos da ICR no Sudeste Asiático, incluindo a Ferrovia China-Tailândia em construção, como exemplos de como a China e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) têm trabalhado juntas para construir uma comunidade de futuro compartilhado.
Contribuições chinesas
A China não apenas apresenta propostas, mas também implementa ativamente suas próprias ideias por meio de ações e tem proporcionado ao mundo conquistas significativas. Ao longo da última década, a China contribuiu com firme convicção e ações sólidas para a construção de uma comunidade global de futuro compartilhado.
Por exemplo, até julho de 2023, mais de três quartos dos países do mundo e mais de 30 organizações internacionais haviam assinado acordos de cooperação no âmbito da Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR) com a China.
A ICR teve origem na China, mas as oportunidades e realizações que ela cria pertencem ao mundo inteiro. É uma iniciativa de cooperação econômica, não de alianças geopolíticas ou militares, e é um processo aberto e inclusivo que não tem como alvo nem exclui nenhuma parte, conforme afirmado no livro branco.
Entre vários projetos da ICR, por exemplo, a Ferrovia China-Laos começou a operar em 3 de dezembro de 2021, com 167 túneis e 301 pontes construídas em 11 anos ao longo de seus 1.035 quilômetros de comprimento total. A construção da ferrovia criou mais de 110 mil empregos locais e ajudou a construir cerca de dois mil quilômetros de estradas e canais para as aldeias ao longo da ferrovia, beneficiando a população local.
Avanços na diplomacia
Além disso, por meio da mediação da China, a Arábia Saudita e o Irã alcançaram uma reconciliação histórica no início deste ano, estabelecendo um bom exemplo para os países da região resolverem disputas e diferenças e alcançarem relações de boa vizinhança por meio do diálogo e da consulta, catalisando uma onda de reconciliação no Oriente Médio.
A China também propôs uma série de iniciativas regionais e bilaterais sobre a construção de comunidades de futuro compartilhado e trabalhou com as partes interessadas para construir consenso e expandir a cooperação, desempenhando assim um papel construtivo na promoção da paz e do desenvolvimento regional.
A potência asiática também impulsiona a cooperação internacional em campos como o combate à pandemia de Covid-19, o tratamento da desordem na governança do ciberespaço e o enfrentamento do desafio climático global.
Ao longo da última década, a visão de uma comunidade global de futuro compartilhado ganhou apoio mais amplo. Mais países e pessoas passaram a entender que essa visão serve aos interesses comuns da humanidade, representa os apelos populares por paz, justiça e progresso e pode criar a maior sinergia entre todas as nações para a construção de um mundo melhor, conforme afirmado no white paper.