- Os investimentos das empresas do EUA nos setores de semicondutores, computação quântica e inteligência artificial na China compõem "uma parte relativamente pequena das atividades de negociação"
- O investimento dos EUA no setor de chips da China, por exemplo, vem gradualmente diminuindo desde 2019
O presidente dos EUA, Joe Biden, limitará ou até mesmo proibirá os investimentos diretos dos EUA na China em três áreas de tecnologia envolvendo semicondutores, computação quântica e inteligência artificial. A medida foi anunciada na quarta-feira (9).
Em resposta, nesta quinta-feira (10), um porta voz do Ministério do Comércio da China afirmou que Pequim está profundamente preocupada com a emissão da ordem dos EUA sobre avaliações de investimentos estrangeiros e reserva o direito de adotar contramedidas.
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"A China espera que os EUA respeitem as leis da economia de mercado e o princípio da concorrência justa", acrescentou o porta-voz.
De acordo com um comunicado divulgado pelo Departamento do Tesouro dos EUA, a agência responsável por implementar um novo programa de segurança nacional baseado nessa diretiva, a decisão de Washington alcança os investimentos de capital de risco e de private equity dos EUA em empresas chinesas envolvidas em semicondutores e microeletrônicos, tecnologias de informação quântica e determinados sistemas de inteligência artificial.
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A administração Biden identificou a China continental, incluindo as regiões administrativas especiais de Hong Kong e Macau, como "um país de preocupação" na ordem executiva. Ela afirmou que a China estava "explorando ou tem a capacidade de explorar os investimentos dos EUA para aumentar sua capacidade de produzir um conjunto limitado de tecnologias sensíveis essenciais para a modernização militar".
China deve acelerar inovação independente
O jornal Global Times, um dos principais veículos em inglês da China e alinhado a Pequim, escreveu um editorial duro sobre a medida de Washington no qual prevê o fracasso da medida se o interesse for barrar o avanço chinês nessas áreas.
"Se houver estadunidenses que esperam usar essas 'restrições de investimento' para deter ou estrangular o desenvolvimento de alta tecnologia da China, pode-se dizer que são muito arrogantes", diz o texto.
O editorial observa ainda que semicondutores avançados, computação quântica e inteligência artificial são três representantes de alta tecnologia para a humanidade, e os EUA, que estão em posição de liderança, já desconfiam da China há muito tempo. O efeito marginal dessas "restrições de investimento" também está diminuindo.
"Além disso, no campo da tecnologia de ponta, nunca dependemos de outros e sempre nos dedicamos à inovação independente. O cerco dos EUA à China só fortalecerá nossa determinação em acelerar a inovação independente e acelerar nossa promoção da abertura de alto nível para o mundo exterior", anuncia o editorial.
Impactos limitados
As medidas devem ter um impacto limitado nos setores de tecnologia visados na China, de acordo com analistas ouvidos pelo SCMP - jornal sediado em Hong Kong que é do grupo da gigante Alibaba - embora possam interromper o fluxo de novos fundos para o setor privado do país em meio a uma recuperação econômica enfraquecida.
No entanto, a medida de Biden é vista como "mais fumaça do que fogo real", pois apenas "regulamenta o investimento dos EUA em um pequeno número de setores de tecnologia", observa Brock Silvers, diretor de investimentos da empresa de private equity Kaiyuan Capital em Hong Kong.
"A China pode esperar que essa ordem executiva há muito aguardada seja bastante discreta", afirmou Silvers.
Embora a nova diretiva de Biden tenha destacado as tensões crescentes entre Pequim e Washington, alguns investidores chineses minimizaram o impacto das novas restrições de investimento dos EUA no financiamento dos setores de tecnologia da China visados.
"O investimento dos EUA no setor de chips da China vem diminuindo gradualmente desde 2019", disse Zheng Haowei, gerente da Sino IC Leasing, em uma entrevista à margem da Conferência Anual de Equipamentos Semicondutores da China, que começou na quarta-feira (9) na cidade de Wuxi, na província de Jiangsu, no leste do país.
"As empresas chinesas de semicondutores são basicamente apoiadas pelo capital chinês", disse Zheng. A Sino IC Leasing, sediada em Xangai, compra equipamentos de fabricação de semicondutores que são alugados para empresas locais de fabricação de chips.
Essa visão foi ecoada pelos analistas de capital de risco (VC) Kyle Stanford e Kaidi Gao na consultoria de investimentos PitchBook. Eles disseram que o investimento geral das empresas americanas nos setores de semicondutores, computação quântica e inteligência artificial da China representa "uma parte relativamente pequena das atividades de negociação".
Em uma escala mais ampla, houve apenas 64 investidores americanos envolvidos em negócios de VC baseados na China até agora neste ano, de acordo com dados do PitchBook. Isso mostrou um declínio rápido em relação a 179 em 2022, que caiu de 246 em 2021.
"A ordem executiva... será outro obstáculo no investimento do mercado privado EUA-China", disseram Stanford e Gao na quarta-feira.
"Do ponto de vista do investidor dos EUA, tal esforço traz uma camada adicional de desafio para aplicar capital no mercado chinês", disseram eles, acrescentando que alguns investidores dos EUA, incluindo fundos de pensão, interromperam sua alocação de financiamento para a China devido à crescente animosidade entre os dois países.
Lockdowns devido à Covid-19, declínio do crescimento econômico e tensões entre EUA e China resultaram em uma queda de 53% no valor dos negócios de private equity na Grande China, reduzindo sua participação na região Ásia-Pacífico para uma baixa de nove anos, de 31%, em 2022, de acordo com uma pesquisa publicada em março pela empresa global de consultoria em gestão Bain & Co.
"Uma crescente guerra tecnológica e comercial não será boa para nenhum dos lados", disse Silvers, da Kaiyuan Capital. "Uma guerra tecnológica sem restrições poderia ser um abalo significativo em uma economia global já instável."
Enquanto isso, o Departamento do Tesouro dos EUA informou que aceitará comentários públicos por escrito pelos próximos 45 dias para informar a formulação de um programa de segurança nacional direcionado com base na mais recente ordem executiva de Biden.
Com informações da CGTN, Global Times e SCMP