O enviado especial da China para as mudanças climáticas, Xie Zhenhua, e o enviado climático dos EUA, John Kerry, realizaram conversas que duraram cerca de quatro horas nesta segunda-feira (17). O encontro faz parte da agenda de Kerry em Pequim e é visto como o mais recente esforço para reviver a cooperação climática entre os dois países e um sinal positivo para as relações bilaterais, que estão atualmente em uma baixa histórica.
Com os temas de redução de emissões de metano e uso de carvão na pauta, especialistas afirmaram que a cooperação em questões climáticas não é uma "torre de marfim" ou "abrigo seguro" para as relações sino-americanas, uma vez que ambos os lados enfrentam a complexidade da "rivalidade e cooperação", "divergências e responsabilidades compartilhadas".
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Washington afirma buscar a cooperação climática ao mesmo tempo em que mantém a pressão sobre Pequim em áreas como comércio e tecnologia, e tem oscilado na política climática sob influência da política partidária, criando obstáculos para a cooperação sino-americana nesse campo, apontaram especialistas chineses.
A China busca diálogo substancial nesta semana, e as trocas sobre clima e transição verde podem contribuir para melhorar as relações bilaterais sino-americanas, afirmou Xie nesta segunda-feira, enquanto autoridades de ambos os lados se reuniam para três dias de conversas, segundo a Bloomberg.
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Kerry, que chegou a Pequim neste domingo (16) para sua terceira visita à China como enviado climático dos EUA, disse que esperava que China e EUA dessem "grandes passos que enviarão um sinal ao mundo" sobre o quão seriamente ambos os lados encaram a ameaça comum à humanidade, de acordo com a Bloomberg.
Quando questionada sobre os detalhes da reunião desta segunda, Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, disse que as mudanças climáticas são uma questão comum enfrentada por toda a humanidade.
"A China implementará o espírito da reunião de Bali entre os dois chefes de estado, trocará opiniões aprofundadas com os Estados Unidos sobre a questão das mudanças climáticas e trabalhará em conjunto para abordar o problema", disse Mao.
O conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, disse à CNN no domingo que Kerry pressionaria Pequim para que não "se esconda atrás de qualquer alegação de que são um país em desenvolvimento" a fim de atrasar os esforços para reduzir as emissões, referindo-se ao projeto de lei aprovado pela Câmara em março que busca remover o status de "país em desenvolvimento" da China.
Embora combater as mudanças climáticas seja uma área em que China e Estados Unidos precisem trabalhar juntos, alguns especialistas alertaram que os EUA poderiam usar o tema como uma ferramenta para conter a China, pressionando-a a assumir responsabilidades adicionais e estabelecer metas de redução de emissões mais "ambiciosas" que excedam suas capacidades.
Questões em pauta
Nesta segunda-feira, Kerry buscou pressionar a China sobre o uso do carvão, mesmo adotando um tom conciliatório, segundo o New York Times. O oficial dos EUA também ressaltou que seu objetivo é sair desta semana de conversas com um acordo substancial em torno de questões como o uso de carvão pela China e planos para controlar o metano, um potente gás de efeito estufa que vaza de poços de petróleo e gás.
A principal prioridade da visita de Kerry é fazer com que a China especifique a quantidade anual de emissões de gases de efeito estufa e estabeleça um cronograma correspondente, podendo ainda pressionar a China a acelerar a redução do uso do carvão e combater o desmatamento, disse Wang Peng, pesquisador distinto do Instituto de Governança Estatal da Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, ao Global Times.
"O metano é especialmente importante para nossa cooperação", disse Kerry em uma audiência no Congresso na última quinta-feira (13) em Washington, segundo a Reuters. "A China concordou em ter um plano de ação para o metano em nossas conversas anteriores em Glasgow (em 2021), e novamente em Sharm el-Sheikh" em novembro.
Durante as negociações climáticas da COP27 em 2022 no Egito, Xie fez uma aparição inesperada em uma reunião do Global Methane Partnership, uma iniciativa liderada pelos EUA e pela União Europeia (UE) com o objetivo de reduzir as emissões de metano para 30% dos níveis de 2020 até o final desta década, de acordo com o relatos da mídia. Os EUA esperam que a China apresente um plano com medidas concretas para reduzir as emissões de metano provenientes de energia, agricultura e resíduos antes da próxima conferência climática da ONU, a COP28, em dezembro em Dubai.
Wang comentou que a redução das emissões de metano será um tópico em que os EUA pressionarão a China.
Além disso, é provável que os EUA levantem questões como melhorar o mercado global de compensação de carbono e atender às necessidades de sobrevivência dos países em desenvolvimento (especialmente dos países insulares do Pacífico), exigindo veementemente que a China estabeleça um fundo internacional e estabeleça um mecanismo de compensação correspondente para o caso de não cumprir os padrões, observou Wang.
"Como a comunidade global tem divergências sobre se e como fornecer compensação aos países em desenvolvimento, é muito provável que os EUA usem essa questão para pressionar a China", analisou.
'Maior obstáculo'
A cooperação em relação às mudanças climáticas poderia ser a barreira estratégica para estabilizar as relações entre China e EUA, uma vez que alguns acordos importantes foram alcançados nas últimas décadas, apesar das reviravoltas nas atitudes e políticas de Washington em relação às mudanças climáticas.
"Embora o governo dos EUA tenha alcançado alguns acordos importantes no cenário global para lidar com as mudanças climáticas, o Congresso falhou em aprovar os projetos de lei pertinentes, tornando difícil transformar sua vontade de assumir responsabilidades equivalentes em políticas concretas", observou Li Haidong, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Assuntos Exteriores da China, ao Global Times.
Desde que o Congresso não promulgue essas políticas, elas não são sustentáveis. Se os republicanos ocuparem a Casa Branca, alguns dos esforços atuais dos democratas logo serão descartados, e essas políticas climáticas inconsistentes e incertas são o maior obstáculo para a cooperação climática entre China e EUA, pontuou Li.
A China fez promessas solenes de atingir o pico das emissões de carbono até 2030 e a neutralidade de carbono até 2060. Isso significa que a China, como um importante país em desenvolvimento, concluirá a redução mais intensa das emissões de carbono e alcançará o pico e a neutralidade das emissões de carbono no menor tempo do mundo.
As afirmações dos EUA de que "a China não é mais um país em desenvolvimento" têm como objetivo privar a China de oportunidades e espaço para o desenvolvimento, o que claramente transforma a questão climática em uma ferramenta política na rivalidade entre China e EUA, afirmaram especialistas.
"Devemos estar cientes da complexidade que a questão das mudanças climáticas envolve cooperação, mas também confronto, interesses e responsabilidades compartilhados, mas também divergências", disse Wang.
"A questão das mudanças climáticas não é uma torre de marfim nem uma casa segura, pois a competição entre grandes potências inevitavelmente estará em pleno vigor nessa área também", finalizou.
Com informações do Global Times