Pequim protestou oficialmente junto à Casa Branca sobre os comentários do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, comparando seu homólogo chinês, Xi Jinping, a um "ditador", e sua missão nos EUA advertiu sobre "consequências" para provocações contra o sistema político e o líder máximo da China.
Em um sinal de tensões renovadas dias após a viagem de reconciliação do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, à China, que incluiu uma reunião com Xi na última segunda-feira (19), Pequim aumentou a aposta contra Washington, questionando sua sinceridade em estabilizar os laços tensos.
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De acordo com um comunicado emitido nesta quinta-feira (22) pela embaixada chinesa em Washington, o principal representante de Pequim em Washington, Xie Feng, "fez representações sérias e protestos enérgicos" a autoridades não identificadas da Casa Branca e do Departamento de Estado na quarta-feira (21).
O comunicado, citando um porta-voz da embaixada não identificado, afirmou que os comentários "desdenhosos" de Biden eram "equivocados, absurdos e irresponsáveis, e constituem uma provocação política aberta".
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A embaixada aprofundou ainda mais a posição de Pequim em seu comunicado, afirmando que "a difamação do principal líder da China" minou a confiança mútua e que sua "natureza e impacto são muito negativos".
"O governo chinês e o povo se sentem profundamente ofendidos e se opõem firmemente a isso. O presidente Biden afirmou explicitamente anteriormente que os Estados Unidos respeitam o sistema da China, não buscam mudá-lo e não têm intenção de uma nova Guerra Fria. Mas, com os últimos comentários irresponsáveis sobre o sistema político da China e o líder máximo, as pessoas não podem deixar de questionar a sinceridade do lado dos EUA", declarou.
A embaixada prometeu "responder resolutamente" à "provocação política contra o líder máximo da China".
"Instamos o lado dos EUA a tomar imediatamente ações sérias para desfazer o impacto negativo e honrar seus próprios compromissos. Caso contrário, terá que arcar com todas as consequências", afirmou a embaixada no comunicado.
Também na quarta, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, classificou o comentário do democrata como "ridículo". A fala dela foi feita durante uma coletiva regular, na capital nacional chinesa. Os comentários da porta-voz não foram publicadas no site do ministério.
"Esse comentário do lado estadunidense é realmente ridículo, muito irresponsável e não reflete a realidade. Trata-se de uma provocação política aberta", disse Mao.
Entenda
Na última terça-feira (20), durante uma recepção com doadores do Partido Democrata na Califórnia, Biden comparou Xi Jinping, a "ditadores", um dia após a visita do diplomata americano Antony Blinken a Pequim.
O presidente dos EUA fez referência à recente crise em que os Estados Unidos derrubaram um balão chinês, alegando ser um espião, e afirmou que Xi "não sabia que estava lá".
Os comentários diretos de Biden sobre o líder chinês são incomuns e foram feitos durante um evento de sua campanha para a próxima eleição presidencial no próximo ano. Ele disse que Xi "ficou muito chateado" quando os EUA derrubaram um suposto balão espião chinês em fevereiro - o que levou Blinken a adiar sua visita planejada à China naquele mês.
"Isso é o que é uma grande vergonha para ditadores, quando eles não sabem o que aconteceu", disse ele aos doadores, acrescentando que Xi "deseja ter um relacionamento novamente".
Recuo da Casa Branca
Questionado na quarta sobre os comentários de Biden, o porta-voz do departamento de Estado dos EUA, Vedant Patel, disse que não havia necessidade de recuá-los.
"O presidente acredita que a diplomacia, incluindo esta recente viagem realizada pelo secretário, é uma forma responsável de gerenciar as tensões", disse Patel. "Não acredito que os comentários do presidente precisem ser esclarecidos ainda mais ou interpretados de forma adicional".
A Casa Branca tentou minimizar os comentários, na quarta, e afirmou que tinha "todas as expectativas" de construir sobre o progresso que Blinken fez durante sua aguardada viagem à China no início desta semana.
"Não deve ser surpresa que o presidente fale francamente sobre a China e as diferenças que temos - certamente não estamos sozinhos nisso", disse um funcionário sênior da administração, segundo um relatório da Agence France-Presse.
"O presidente acredita que a diplomacia, incluindo a realizada pelo secretário Blinken, é a forma responsável de gerenciar as tensões", acrescentou o funcionário.
Blinken em Pequim
Durante a visita de dois dias a Pequim, a primeira do principal diplomata dos EUA em cinco anos, Blinken e Xi concordaram, na segunda (19), em estabilizar a rivalidade entre os países para que não descambasse para um conflito.
Embora a visita não tenha gerado avanços significativos, ambos os lados concordaram em continuar com as trocas diplomáticas de alto nível, incluindo uma visita do ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, a Washington.
No entanto, as tensões começaram a ressurgir apenas algumas horas depois que Blinken encerrou sua visita a Pequim, quando Yang Tao, responsável pelo departamento de Assuntos Norte-Americanos e Oceânicos do Ministério das Relações Exteriores chinês, criticou a política "uma China" dos Estados Unidos em relação a Taiwan.
Falando em uma coletiva de imprensa na noite de segunda, Yang acusou os Estados Unidos de retroceder em seus compromissos anteriores em relação a Taiwan, que Pequim considera uma província rebelde que deve ser reunificada com o continente, se necessário, por meio da força.
Munição trocada
Yang disse que os EUA inicialmente reconheceram "que há apenas uma China no mundo e Taiwan faz parte da China". Mas então ele alegou que ao longo dos anos Washington decidiu adicionar a Lei de Relações com Taiwan e as chamadas Seis Garantias a Taiwan à sua política de uma China, o que era contrário ao que Pequim e Washington concordaram mutuamente. "A China se opôs firmemente a elas e não as reconhece", acrescentou.
Durante uma reunião com Blinken na segunda-feira, o principal assessor de política externa de Xi, Wang Yi, também colocou a culpa diretamente na administração Biden pela deterioração das relações entre Estados Unidos e China, instando Washington a "refletir sobre si mesmo" em relação às "percepções equivocadas dos EUA em relação à China" e às "políticas equivocadas em relação à China".
No entanto, Daniel Kritenbrink, secretário assistente de Estado dos EUA para Assuntos do Leste Asiático e do Pacífico, rebateu mais tarde, afirmando que uma relação frutífera só seria possível se fosse uma "via de mão dupla".
Com informações do SCMP e agências