CHINA EM FOCO

Por que os altos funcionários dos EUA, que vão tanto à Argentina, sempre falam sobre a China?

Opinião: Guo Ji Rui Ping escreve que parceria sino-argentina em setores como tecnologia, cooperação espacial e projeto de energia nuclear incomoda Washington

Créditos: Casa Rosada - Presidentes argentino, Alberto Fernández, e chinês, Xi Jinping, em Pequim (6/2/22)
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"A chefe do Comando Sul dos EUA, Laura Richardson, se reuniu com autoridades argentinas para discutir a influência da China na região latino-americana." Assim comentou a mídia argentina as conversações entre Estados Unidos e Argentina realizadas nesta segunda-feira (17). Anteriormente, a secretária de Estado adjunta, Wendy Sherman, número dois do Departamento de Estado dos Estados Unidos, também visitou Buenos Aires e pediu à Argentina que cuidar do desenvolvimento das relações com a China.

E não apenas Richardson e Sherman, vários funcionários dos EUA viajaram sucessivamente para a Argentina por algum tempo. Podemos citar o senador republicano John Cornyn, que liderou uma delegação à Argentina no início deste mês e expressou sua "preocupação" com os projetos de cooperação da Argentina com a China. Seguiu-se a visita de Christopher Hanson, presidente da Comissão Reguladora Nuclear dos EUA, que afirmou que a cooperação da Argentina com a China no setor de energia nuclear era arriscada e "inconveniente".

"Os Estados Unidos tentam suavizar as relações entre China e Argentina." Assim comentou o jornal argentino Página Doce sobre o propósito das frequentes visitas à Argentina de altas autoridades estadunidenses. Também foi notado em vários meios de comunicação que os Estados Unidos parecem estar constantemente monitorando a cooperação da China na América Latina, especialmente com a Argentina.

Seja 5G, a estação espacial de Neuquén ou o projeto de energia nuclear, todas essas cooperações normais entre a China e a Argentina fazem o lado dos EUA se sentir como um espinho nas costas.

Por que o lado americano está agindo assim no mundo? A Argentina é um importante país latino-americano que em fevereiro de 2022 aderiu oficialmente à Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, da sigla em inglês). Trata-se de uma cooperação pragmática entre países em desenvolvimento que seja mutuamente respeitosa e benéfica. No entanto, aos olhos dos Estados Unidos, a cooperação sino-argentina desafia seus interesses e ameaça sua hegemonia, pelo que tenta obstruí-la e miná-la por todos os meios possíveis.

Em abril de 2022, a subsecretária de Estado para Segurança Internacional do Departamento de Estado dos EUA, Ann Ganzel, liderou uma delegação que viajou à Argentina e criticou a tecnologia fornecida pela China para a usina nuclear de Atocha III, afirmando que "não atende padrões internacionais e apresenta problemas de projeto e segurança. No entanto, um estudo publicado pela Corporação Argentina de Energia Nuclear afirmava que essas acusações "faltavam base científica".

O tempo mudou. Os países latino-americanos anseiam por unidade, cooperação e desenvolvimento, e o apelo à independência é cada vez mais forte.

Em junho do ano passado, a IX Cúpula das Américas, organizada pelos Estados Unidos, foi amplamente boicotada pelos países latino-americanos e se tornou a que menos teve participação de chefes de estado. Em janeiro deste ano, a VII Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) emitiu a Declaração de Buenos Aires, na qual se chegou a um consenso para rejeitar firmemente a ingerência e a hegemonia estrangeiras. Antonio Lunceford, professor de direito internacional da Columbia National University, acredita que não há mais lugar para a Doutrina Monroe.

No final do século 19, o ex-presidente mexicano Porfirio Díaz Mori lamentou que seu país estivesse "muito longe de Deus e muito perto dos Estados Unidos". O que está acontecendo hoje na América Latina é a confirmação da opinião da mídia argentina de que "a América Latina pode mudar seu destino histórico de estar 'muito próxima dos Estados Unidos' em um momento em que os países emergentes lutam pelo desenvolvimento".

* Guo Ji Rui Ping é apresentador da CGTN em Espanhol

** Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum

*** Texto originalmente publicado pela CGTN. Tradução, edição e revisão de Iara Vidal