O presidente Lula desembarcou por volta das 11h10 (horário de Brasília) em Xangai, na China, para uma intensa agenda no país asiático. No aeroporto, ele foi recebido pela ex-presidenta brasileira Dilma Rousseff, que será empossada na presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, da sigla em inglês).
No embarque do Brasil, ele passou o comando do país ao vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda o Ministro da Indústria, Desenvolvimento e Comércio.
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Lula remarcou a visita oficial a convite do presidente da China, Xi Jinping, que teria início no dia 24 de março porque foi acometido por uma pneumonia. Recuperado, o mandatário brasileiro terá um encontro histórico com o líder chinês na sexta-feira (14).
A comitiva brasileira é formada por cinco governadores, oito senadores e 19 deputados federais e empresários. A delegação oficial inclui os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima), Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), Margareth Menezes (Cultura), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social).
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Já era noite de quinta-feira em Xangai quando Lula e sua comitiva desembarcaram em solo chinês para iniciar a visita de Estado. A expectativa é que durante a passagem pela China seja impulsionada a cooperação bilateral em diversas áreas, incluindo o uso de moedas locais em acordos comerciais e a adesão brasileira à Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, da sigla em inglês), a Nova Rota da Seda, proposta pela China.
Em geral, líderes estrangeiros costumam começar suas visitas de Estado em Pequim, a capital chinesa. Mas a agenda de Lula precisou ser ajustada depois do adiamento.
Calorosas boas-vindas
A principal porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, postou uma série de tuítes para dar as boas-vindas a Lula.
Agenda ocupada
"Bom dia. Embarque para a China... Pronto para seguir as agendas?" Lula escreveu em uma rede social antes de iniciar sua viagem à China, insinuando uma agenda lotada no país anfitrião.
Mais cedo, ele postou que a jornada é "para fortalecer as relações com nosso maior parceiro comercial" e observou que "muito precisa ser feito para um país melhor".
A agenda do presidente brasileiro à China inclui compromissos relacionados à tradicional cooperação econômica e comercial sino-brasileiro e também a colaboração em novas tecnologias emergentes e a economia digital.
Além disso, após uma série de viagens de alto nível à China por líderes estrangeiros nas últimas semanas - como o presidente da França, Emmanuel Macron, e a presidenta da Comunidade Europeia, Ursula von der Leyen -, a viagem do presidente brasileiro também promoverá o verdadeiro multilateralismo e a colaboração em várias plataformas multilaterais, particularmente sob a plataforma dos Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Compromissos em Xangai
Na primeira parada de Lula no centro financeiro do país asiático, ele vai visitar o NDB, algumas empresas de tecnologia chinesas e o recém-inaugurado centro de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e inovação da Suzano Celulose.
O presidente da Suzano Ásia para Beyond Pulp Business, Pablo Machado, disse ao jornal Global Times nesta quarta-feira (12) que a delegação brasileira visitará o Suzano China Innovability Hub localizado na Zhangjiang Science City em Xangai na tarde de quinta-feira (13).
O Innovability Hub é o primeiro centro de P&D e inovação da Suzano na Ásia. Com um investimento de mais de 10 milhões de dólares, atua como uma base de colaboração aberta para vários participantes de produtos de celulose, papel, embalagem, higiene e biomateriais e outras partes interessadas na China e no exterior para impulsionar o desenvolvimento sustentável.
"Acreditamos firmemente que a visita da delegação brasileira à China trará mais oportunidades para os dois países trabalharem juntos, aprenderem uns com os outros e gerarem valor significativo para seus povos e para o mundo", observou Machado.
A parada de Lula em Xangai também sinaliza um dos principais focos de sua viagem: a busca por maior cooperação com a China em ciência e tecnologia. Estão previstas visitas a algumas empresas de tecnologia em Xangai.
"Como Xangai é um centro econômico da China, a primeira parada de Lula na cidade mostra que o Brasil dá maior prioridade ao aprimoramento da cooperação econômica e comercial", observou o vice-diretor do Centro de Pesquisa da América Latina da Universidade de Pequim, Dong Jingsheng.
“Com o rápido desenvolvimento de novos motores econômicos como 5G e inteligência artificial nos últimos anos, não é mais suficiente contar apenas com a complementaridade econômica e comercial para atender às necessidades de ambos os lados”, disse Dong.
"É por isso que o conceito de 'além da complementaridade' está sendo proposto, o que significa que, além dos laços econômicos e comerciais, os dois lados podem promover ainda mais outras áreas emergentes, como ciência e tecnologia, bem como cooperação financeira", observou Dong.
Economia digital
Nos últimos anos, a economia digital da China tem crescido, com a escala da indústria continuando a crescer rapidamente, e o país ocupa o segundo lugar no mundo há vários anos. Os analistas observaram que a cooperação China-Brasil em campos relacionados ajudará a impulsionar o desenvolvimento da economia digital do Brasil e torná-la um novo motor de crescimento econômico para o país da América Latina.
Outras áreas de cooperação observadas de perto durante a viagem de Lula são o BRI proposto pela China, além do uso do yuan chinês ou moedas locais em acordos comerciais.
O Banco Industrial e Comercial da China, o maior banco comercial do país, realizou com sucesso a primeira transação internacional de liquidação em yuan no Brasil por meio de sua filial local.
A cooperação aprimorada entre os dois lados usando o yuan em acordos comerciais se tornará um modelo para a promoção de negócios em yuan em toda a região latino-americana, avalia o especialista em estudos latino-americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Zhou Zhiwei.
Verdadeiro multilateralismo
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, comentou a chegada de Lula à China em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (12) e falou sobre o impacto dessa visita para o fortalecimento do Brics.
"A posição da China sobre a cooperação do Brics é consistente. Estamos prontos para trabalhar com os países relevantes para promover a cooperação do Brics com base no respeito mútuo e na igualdade e fazer nossa devida contribuição para a paz e o desenvolvimento mundial e a solidariedade e cooperação entre os países em desenvolvimento", afirmou.
As "mãos dadas" entre a China e o Brasil, os dois maiores países em desenvolvimento nos hemisférios oriental e ocidental, vão injetar estabilidade e energia positiva em um mundo turbulento e em mudança.
O Brasil sempre teve um papel muito ativo no mecanismo de cooperação do Brics. A primeira parada de Lula no NDB é um reflexo da importância que ele atribui ao mecanismo e vai estabelecer uma base sólida para o próximo encontro entre os líderes da China e do Brasil.
Nos últimos anos, a China e o Brasil mantiveram estreita comunicação e colaboração na ONU, no G20 e em outros mecanismos multilaterais, e trabalharam juntos para criar uma referência e um modelo para a cooperação Sul-Sul em questões como mudança climática, cooperação em segurança global e cooperação internacional para o desenvolvimento.
Zhou, da Academia Chinesa de Ciências Sociais, observou que durante a visita de Lula à China, os dois países vão trocar pontos de vista sobre questões internacionais e regionais, o que ajudará a formar a voz racional dos países emergentes e injetar mais poder do Brics para a governança do desenvolvimento global.
Brics
O Brics desempenha um papel importante no apoio ao desenvolvimento de economias emergentes, bem como na demonstração de visões independentes sobre segurança global e ordem internacional de grandes países em desenvolvimento.
Em 2021, o PIB combinado dos países do Brics atingiu US$ 24,5 trilhões, o que representa cerca de 23% do total da economia global. Os Brics contribuíram com mais de 50% para o crescimento econômico mundial. "Os países do Brics são a fonte de energia mais importante que lidera o crescimento econômico mundial", disse Zhou.
Mais importante ainda, a cooperação entre os Brics ajuda a manter a cooperação multilateral no ambiente internacional, alcançando assim uma cooperação global mais eficiente, observou Zhou.
“O Brics é um novo tipo de mecanismo de cooperação sob o multilateralismo, que tem um papel importante na promoção da manutenção da ordem mundial normal”, disse Dong.