Dois importantes jornais da China, o Global Times (GT) e o China Daily (CD), ambos com versões em inglês, publicaram nesta quinta-feira (5) editoriais duros, em que fazem um balanço das consequências da visita da presidenta do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan.
A visita da terceira política de alto escalão mais importante dos EUA durou menos de 24 horas: foram apenas 19 horas que ela permaneceu na capital da ilha, Taipei. Os dois periódicos avaliam que a fatura pela imprudência de Pelosi será paga, sobretudo, pelas forças separatistas de Taiwan.
A série de exercícios militares da China continental para combater a escalada do conluio entre EUA e Taiwan vai bloquear temporariamente a ilha nos próximos dias. Alguns secessionistas do território insular chinês já começaram a calcular quantos dias o gás natural pode durar.
A presidenta do território, Tsai Ing-wen, do Partido Democrático Progressista (DPP, da sigla em inglês) é a credora principal dessa confusão. Durante a estada de Pelosi na ilha, a anfitriã se mostrou lisonjeada e condecorou a visitante. Todavia, como alertou o editorial do GT, com a partida de Pelosi é difícil que Tsai não reflita sobre o preço que a autoridade do DPP pagará.
"Essa inquietação e ansiedade não serão aliviadas, mas continuarão a se espalhar e intensificar, eventualmente se transformando no desespero coletivo das forças de independência de Taiwan diante da tendência geral de reunificação através do Estreito", observa o periódico.
Já o CD destacou que o fato de o governo Tsai ter aceitado prontamente a "proposta" de que Taiwan deveria se juntar à "estratégia Indo-Pacífico" dos EUA para mirar a China significa que a ilha será integrada mais profundamente na complicada estrutura que os EUA estão construindo para conter o gigante asiático.
"No entanto, não importa a provocação que os EUA tenham feito sobre a questão de Taiwan, sempre foi recompensado pelo progresso do continente chinês no fortalecimento de suas capacidades militares para garantir a reunificação pela força como último recurso", pontua o CD.
Os dois jornais ressaltaram a imprudência do ato da política dos EUA. O GT destacou ressaltou que mesmo depois de ceder à provocativa viagem de Pelosi, Washington pediu à China que não intensificasse as contramedidas. O veículo classificou esse gesto como "ridículo".
"Que pedido arrogante e patético. Como Washington tem cada vez menos meios para suprimir a China, a questão de Taiwan é quase a única que pode usar, mas também em vão. A visita de Pelosi confirmou ao mundo que os EUA são o maior destruidor da paz através do Estreito. Qualquer contramedida que a China adote é justificada e necessária. Isso acelerará objetivamente o processo de reunificação da China", avaliou o GT.
O CD destacou que seja o arranjo de dois aviões indo da Malásia para Taiwan quase ao mesmo tempo na noite de terça-feira (2), que deu grandes voltas para evitar o espaço aéreo continental chinês, ou a escolta fornecida por um grupo de ataque de porta-aviões ao longo da rota, isso demonstra que os Estados Unidos estão cientes de quão provocativa foi a visita de Pelosi à ilha chinesa.
Ambos periódicos demonstraram total apoio a Pequim em defesa da soberania nacional e da integridade territorial da China e avaliam que o principal efeito da visita relâmpago de Pelosi à ilha foi acelerar o processo de reunificação do país.
Os exercícios militares intensivos que o Exército de Libertação Popular (ELP) organiza em torno da ilha, que desafiam a "fronteira marítima territorial" de 12 milhas marítimas reivindicada pela administração de Taiwan, e a chamada linha média do Estreito, marcam um passo fundamental para o continente reforçar a dissuasão militar aos secessionistas taiwaneses.
Isso sem mencionar as outras contramedidas que o continente prometeu tomar para tornar a viagem memorável tanto para os anfitriões quanto para os convidados. Levará muito tempo para o governo Tsai digerir o que Pelosi serviu em apenas algumas horas.
China rejeita provocação e jogo político dos EUA sobre a questão de Taiwan
O conselheiro de Estado chinês e ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, pediu a todas as partes que sigam apoiando as posições e medidas legítimas da China e mantenham conjuntamente a paz na área regional e no Estreito de Taiwan.
As declarações do chanceler chinês foram feitas nesta quinta-feira (4), enquanto ele participava da reunião de ministros das Relações Exteriores da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), que está sendo realizada em Phnom Penh, Camboja. Na ocasião, ele reiterou a posição da China sobre a provocação dos EUA à soberania do país.
Wang comentou que, ao atropelar o direito internacional, violar compromissos bilaterais e minar a paz no Estreito de Taiwan, além de apoiar forças separatistas e defender o confronto, os EUA farão "uma aposta política com efeitos negativos".
O ministro chinês chamou os EUA de "o maior destruidor da paz no Estreito de Taiwan e o maior causador de problemas da estabilidade regional". Ele instou que todas as partes reconheçam a causa e a substância da crise atual e se oponham conjuntamente aos riscos e provocações do lado dos Estados Unidos.
Wang observou que as crescentes tensões no Estreito de Taiwan foram provocadas pelo lado estadunidense. Ele ressaltou que a China envidou esforços diplomáticos máximos para evitar a crise imposta ao país e nunca permitirá nenhum dano aos interesses centrais e ao processo de rejuvenescimento nacional.
As medidas abrangentes que a China tomou e tomará são "contramedidas defensivas necessárias e oportunas" que foram cuidadosamente consideradas e avaliadas, afirmou. "As medidas visam salvaguardar a soberania e a segurança nacionais e são consistentes com as leis internacionais e domésticas", finalizou.
Forças armadas da China começam exercícios militares ao redor de Taiwan
O Exército de Libertação Popular (ELP), as forças armadas chinesas, iniciaram ao meio dia (horário de Pequim) desta quinta-feira (4) uma série de exercícios militares de fogo real que prosseguem até domingo (7) em seis áreas diferentes que circundam a ilha chinesa de Taiwan em todas as direções.
O anúncio do ELP foi feito por meio da agência de notícias Xinhua pouco depois de a presidenta do Congresso do EUA, Nancy Pelosi, desembarcar em Taiwan para a visita provocativa na noite de terça-feira (2).
De acordo com as convenções internacionais, as áreas de exercícios militares devem ser divulgadas com três dias de antecedência e 24 horas de antecedência em caso de situação de emergência.
"Isso é principalmente para deixar tempo suficiente para a evacuação de navios nacionais e estrangeiros, bem como para as companhias aéreas civis relacionadas ajustarem suas rotas para evitar as áreas. A medida visa evitar ferir pessoas comuns durante os exercícios, mostrando a atitude racional e responsável do ELP", explicou o pesquisador sênior da Academia de Pesquisa Naval do ELP, Zhang Junshe, em entrevista ao Global Times.
Zhang antecipou que os exercícios do ELP incluem tiro ao vivo de longo alcance e lançamentos de testes de mísseis convencionais. Ele observou que esses exercícios costumavam ser realizados ao longo das águas ao largo do continente, mas desta vez os exercícios cruzam a "linha mediana" do Estreito de Taiwan reivindicada pelas autoridades de Taiwan.
O maior significado dos exercícios é suprimir e dissuadir forças externas e "forças secessionistas" que pretendem conspirar e dividir o país. "Pela designação das áreas, podemos dizer que o objetivo dos exercícios é deter e parar a interferência de forças externas", destacou Zhang.
O processo de reunificação está realmente se acelerando, concluiu Zhang. Ele destacou ainda o alto nível sem precedentes de combate, estratégia e influência reais dos próximos exercícios conjuntos.
ONU reitera apoio à política de Uma Só China
As Nações Unidas reiteraram apoio à política de Uma Só China e observou esse princípio segue a Resolução 2758 da Assembleia Geral da ONU de 1971.
"Nossa posição é muito clara. Cumprimos as resoluções da Assembleia Geral, pela política de Uma só China, e essa é a orientação que temos em tudo o que fazemos", disse Antonio Guterres, secretário-geral das Nações Unidas.
China rebate declaração de ministros das Relações Exteriores do G7 e da UE sobre Taiwan
O porta-voz da missão chinesa na União Europeia (UE) criticou, nesta quinta-feira (4), a declaração dos ministros das Relações Exteriores do G7 e do alto representante da UE sobre a região de Taiwan da China após a visita da presidenta do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha.
Em um comunicado conjunto divulgado na quarta-feira (3), os ministros de Relações Exteriores de Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão, Reino Unido e o alto representante da UE expressaram preocupação com a situação no Estreito de Taiwan.
“Com as anunciadas ações ameaçadoras da República Popular da China, em particular exercícios de tiro real e coerção econômica, que arrisca uma escalada desnecessária”, afirmou o comunicado.
A declaração instou a China a não alterar unilateralmente o status quo pela força na região e a resolver as diferenças por meios pacíficos. O porta-voz da Missão Chinesa rebateu o comunicado.
"Quem ameaçou quem e quem provocou quem para fazer a situação através do Estreito se transformar em tal situação? É a integridade territorial da China que está seriamente ameaçada e a soberania da China que é seriamente provocada. As medidas tomadas pelo governo chinês para salvaguardar a soberania e a integridade territorial são completamente necessários e apropriados", questionou.
A Missão Chinesa descreveu o grupo que assina o comunicado conjunto como as novas "Forças Aliadas de Oito Potências", que invadiram a China em 1900. "O povo chinês há muito deixou de ser intimidado e empurrado por potências estrangeiras. Poderes podem enlouquecer. Taiwan é de 1,4 bilhão de chineses", respondeu o porta-voz.
"Pedimos ao G7 e à UE que evitem ser desviados pelos EUA, parem de interferir nos assuntos internos da China e enviar sinais errados de qualquer forma às forças secessionistas que buscam a 'independência de Taiwan'", finalizou o porta-voz.
O porta-voz da embaixada chinesa do Reino Unido também criticou a declaração conjunta na quarta-feira (3). Ele afirmou que a causa fundamental desta nova rodada de tensão e sérios desafios em todo o Estreito de Taiwan reside nas repetidas tentativas dos EUA e das autoridades regionais taiwanesas que desejavam mudar o status quo do território.
Internautas chineses explodem de raiva com a visita de Pelosi a Taiwan
A mídia social chinesa foi tomada por discussões acaloradas e raiva depois que a presidenta do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi, visitou a ilha de Taiwan na terça-feira (2), apesar de repetidos fortes avisos da China.
De acordo com matéria do Global Times, especialistas avaliaram que a enorme atenção e o sentimento síncrono demonstram a força de vontade e a confiança dos 1,4 bilhão de pessoas do país na reunificação nacional.
No Sina Weibo, plataforma de mídia social semelhante ao Twitter da China, 25 dos 50 tópicos de tendências estavam relacionados à visita de Pelosi a Taiwan, incluindo o top 10, por volta das 22h de terça-feira. A plataforma travou por 30 minutos, e muitos acreditavam que era por causa do excesso de tráfego.
Às 22h40 da terça-feira, pouco antes do avião de Pelosi pousar, as visualizações da transmissão ao vivo de seu voo atingiram mais de 83 milhões apenas na China Net, uma das várias plataformas de notícias que transmitem o voo.
A discussão acalorada também inundou outras mídias sociais, como WeChat e Douban. As pessoas compartilharam informações atualizadas sobre o voo e as respostas das autoridades chinesas do continente, e também trocaram opiniões e sentimentos.
A raiva foi um dos principais sentimentos que dominaram as seções de comentários nas notícias quentes. Os internautas criticaram a provocação flagrante dos EUA sobre a questão de Taiwan e disseram que a face hipócrita do país foi mais uma vez revelada ao mundo.
"Pelosi está fingindo desde julho e até fez um desvio apenas algumas horas antes de realmente desembarcar em Taipei. O que ela fez mostrou exatamente o que alguns políticos americanos são: hipócritas, sorrateiros e desagradáveis", dizia um post de um usuário do Weibo.
Uma hashtag "há apenas uma China" também foi tendência no Weibo, com muitas celebridades expressando posição, incluindo alguns atores e cantores da ilha de Taiwan.
Muitos internautas demonstraram esperança de que o Exército de Libertação Popular (ELP) realizasse ações militares para impedir a visita de Pelosi. Tal sentimento de raiva dos usuários atingiu o pico no momento em que a parlamentar chegou a Taipei. Alguns esperavam que o exército tomasse medidas mais diretas, como a interceptação do voo, para impedir a visita provocativa da política.
Outros expressaram apoio às respostas contidas da China e disseram que a contenção militar mostra o foco estratégico do país. “Acredito que nosso ELP tem força para lidar com a situação e está considerando uma imagem maior a longo prazo”, dizia um post do Weibo. “O que realmente queremos testemunhar é o momento histórico da reunificação da pátria, não uma guerra”, dizia outro.