CHINA EM FOCO

Tensão: Pequim responde à visita de Nancy Pelosi a Taiwan com operação militar

Forças armadas chinesas lançam exercícios militares maciços em torno da ilha; governo central deve acelerar processo de reunificação do território do país asiático; embaixador dos EUA na China foi convocado pelo vice-chanceler do país

Créditos: Global Times - Tensão elevada no Estreito de Taiwan com resposta militar chinesa à visita de Nancy Pelosi à ilha na noite desta terça-feira (2).
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A China respondeu com exercícios militares ao desembarque da presidenta da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan na noite desta terça-feira (2). Autoridades chinesas classificaram a visita como provocativa por violar a promessa de Washington de se opor ao secessionismo da 'independência' da ilha. O governo chinês também vai acelerar o processo de reunificação do seu território.

Analistas chineses avaliam que o gigante asiático não mira seu poderio bélico apenas na parlamentar estadunidense de 82 anos, mas manda um recado para a campanha anti-secessão contra as autoridades separatistas de Taiwan e deve acelerar concretamente o processo de reunificação.

Na manhã desta quarta-feira (3), o vice-ministro das Relações Exteriores da China, Xie Feng, convocou o embaixador dos EUA na China, Nicholas Burns, para protestar contra a visita de Pelosi à ilha de Taiwan. A natureza da visita da parlamentar estadunidense foi classificada como extremamente cruel e as consequências são muito graves. O lado chinês não ficará de braços cruzados, informou Xie a Burns.

Pouco depois de Pelosi chegar ao aeroporto Songshan de Taipei, a capital de Taiwan, cinco autoridades chinesas, emitiram declarações nas quais condenam a visita que prejudica seriamente a base política das relações China-EUA e envia uma mensagem seriamente errada às forças da 'independência de Taiwan'. 

Fizeram pronunciamentos sobre a questão de Taiwan o Ministério das Relações Exteriores da China, o Comitê Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN), o Escritório de Assuntos de Taiwan do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh), o Comitê de Relações Exteriores do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e o Ministério da Defesa Nacional.

A China definitivamente tomará todas as medidas necessárias para salvaguardar resolutamente sua soberania e integridade territorial em resposta à visita do presidente dos EUA. Todas as consequências devem ser suportadas pelos EUA e pelas forças separatistas da "independência de Taiwan", informou o Ministério das Relações Exteriores da China em comunicado.

O Ministério da Defesa da China está em alerta máximo. O porta-voz da pasta, Wu Qian, informou que lançará uma série de operações militares direcionadas como contramedidas. Ele prometeu defender resolutamente a soberania nacional e a integridade territorial e impedir resolutamente as interferências de forças externas e conspirações de separatistas da 'independência de Taiwan'.

O Exército de Libertação Popular (ELP), as forças armadas da China, iniciou a resposta militar ao governo dos EUA na noite desta terça-feira (2) e madrugada de quarta-feira (3) (horário de Pequim). A operação foi iniciada logo depois da chegada de Pelosi à ilha chinesa. As forças militares chinesas também informaram que realizará uma série de exercícios militares de fogo real entre os dias 4 e 7 de agosto em seis áreas diferentes que circundam a ilha de Taiwan em todas as direções. 


Xinhua - Um mapa de esboço mostra as seis regiões onde o Exército de Libertação Popular realizará importantes exercícios militares e atividades de treinamento, incluindo exercícios de tiro real em torno da ilha de Taiwan de 4 a 7 de agosto de 2022.

O ELP anunciou que as operações militares incluem exercícios conjuntos de treinamento nas áreas marítimas das costas norte, sudoeste e sudeste da ilha e no espaço aéreo, exercícios de tiro real de longo alcance no Estreito de Taiwan e testes de mísseis convencionais nas águas da costa leste da ilha.

O Comando do Oriental do ELP informou que lançaria uma série de operações militares conjuntas em torno da ilha de Taiwan a partir da noite de terça-feira. "As operações militares são um forte impedimento contra a recente grande escalada dos atos negativos dos Estados Unidos sobre a questão de Taiwan, e um sério alerta contra as atividades separatistas que buscam a 'independência de Taiwan'", declarou o porta-voz do comando, coronel sênior Shi Yi, nesta terça-feira.

Além de exercícios militares, as opções da China podem incluir atacar alvos militares de Taiwan, assim como o ELP fez na crise anterior do estreito de Taiwan, em 1996; pressionar por nova legislação para a reunificação nacional; enviar aeronaves militares e navios para o espaço aéreo e áreas aquáticas da ilha controladas pelas autoridades de Taiwan; e encerrar o cessar-fogo tácito com os militares de taiwaneses.

Por razões de segurança, a entrada de embarcações e aeronaves nos espaços marítimos e aéreos próximos ao Estreito de Taiwan está proibida.

Na avaliação da China, a autoridade secessionista do Partido Democrático Progressista (DPP, da sigla em inglês) de Taiwan conspirou com as forças externas e insistiu em convidar Pelosi para a ilha, o que é tido como extremamente perigoso e provocará graves consequências. Os chineses vão defender a integridade territorial e reprimir a interferência externa e as tentativas secessionistas.

Com base nas frequentes liberações de departamentos governamentais chineses e nos exercícios militares anunciados, a China está totalmente preparada para os atos provocativos de Pelosi, e é certo que o país tomará uma série de ações para dar uma resposta forte à provocação dos EUA, disseram especialistas.

De acordo com análises divulgadas pela mídia chinesa, não há motivo para o nervosismo da China, porque tal demonstração política feita por Pelosi não mudará as vantagens avassaladoras, especialmente a militar, detida pelo continente contra as autoridades de Taiwan e os EUA na região contra qualquer possibilidade de 'independência de Taiwan'.

A visita de Pelosi não pode mudar o fato inabalável de que Taiwan faz parte da China, pontuaram especialistas, que observaram que a China precisa usar esse incidente para maximizar sua vantagem e continuar pressionando o processo de reunificação.

Ações do ELP no Estreito de Taiwan

Ministério da Defesa Nacional da China - Um destacamento do Comando do Leste do ELP realiza treinamento de tiro real no início de julho de 2022. 

Os exercícios anunciados do ELP, provavelmente maiores em escala do que os da crise do Estreito de Taiwan em 1996, servem não apenas como aviso aos separatistas de Taiwan apoiados pelos EUA. Mas também funcionam como ensaios para reunificar a ilha pela força, avaliaram os especialistas que observaram que mísseis podem voar sobre a ilha.

Isso significa que a ilha de Taiwan será cercada por exercícios do ELP em cinco direções. Os exercícios marítimos e aéreos conjuntos no norte, sudoeste e sudeste provavelmente vão aprimorar as capacidades de aviões de guerra e navios de guerra para conquistar a superioridade aérea e o controle do mar.

Já o tiroteio de longo alcance no Estreito de Taiwan provavelmente contará com múltiplos lançadores de foguetes que podem atingir alvos na ilha de diretamente do continente; os lançamentos convencionais de mísseis a leste do estreito significam que, se os mísseis fossem lançados do continente, eles sobrevoariam a ilha de Taiwan, apontaram analistas.

Também é possível que os mísseis sejam lançados dos navios da Marinha do ELP que navegam para o leste da ilha, pontuaram especialistas militares. Eles observaram que o movimento terá como alvo as forças externas que tentam intervir no processo de reunificação do leste.

A operação é uma severa dissuasão contra o recente movimento negativo dos EUA e a grande escalada na questão de Taiwan, bem como um sério alerta para a tentativa das forças secessionistas da "independência de Taiwan" de buscar "independência", disse porta-voz do Comando do Oriental do ELP, coronel sênior Shi Yi.

O vice-chefe de gabinete do Comando Oriental do ELP, Gu Zhong, disse que os exercícios envolvem cursos como bloqueio conjunto, assalto marítimo, ataque terrestre e apreensão de superioridade aérea, além de tiro real de armas de precisão.

Os exercícios testarão de forma abrangente o desempenho de armas e equipamentos, bem como as capacidades operacionais conjuntas das tropas, a fim de estar pronto para todas as crises, antecipou Gu.

As tropas do Comando Oriental do ELP estão totalmente confiantes e capazes de reagir a qualquer provocação e salvaguardar resolutamente a soberania nacional e a integridade territorial, garantiu Gu.

O porta-aviões da Marinha do ELP, Liaoning, embarcou no último domingo (31) em uma viagem do porto de origem em Qingdao, província de Shandong, leste da China. O porta-aviões Shandong zarpou na segunda-feira (1) de Sanya, província de Hainan, no sul da China, acompanhado por um navio de ataque anfíbio Type 075.

Uma reportagem da emissora estatal China Central Television revelou no sábado (3) pela primeira vez uma cena em que foi disparado o que parece ser um míssil hipersônico DF-17. O míssil, apesar das características hipersônicas, é uma arma convencional.

Novo status quo

Analistas chineses disseram que a luta entre a China e os EUA neste momento é sobre dignidade e interesses estratégicos concretos, mas o último é muito mais importante, então a China não se concentrará apenas em jogar um jogo de galinha e falcão com Pelosi, mas na mudanças de toda a situação da região, considerada muito mais significativa e valiosa.

O pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Lü Xiang, disse ao periódico chinês publicado em inglês, Global Times, nesta terça-feira que a reação da China não será apenas uma ação momentânea, mas considerará todo o mecanismo de segurança de Taiwan.

"Com base nas informações divulgadas sobre os exercícios do ELP de 4 a 7 de agosto, os seis locais já cercaram a ilha de Taiwan de todas as direções, e pode ser uma série de exercícios militares sem precedentes destinados a realizar a reunificação pela força e também para combater contra as forças externas que podem interromper o processo de reunificação", avaliou Lü.

Por causa da chegada de Pelosi ao aeroporto de Taipei que ignorou totalmente o aviso da China, é certo que o status quo da situação do Estreito de Taiwan foi quebrado e a China fará com que ele entre em um novo status quo, enfatizou o pesquisador.