CHINA EM FOCO

Relações sino-brasileiras: 48 anos de parceria entre dois gigantes

China é o principal parceiro comercial do Brasil; os investimentos chineses em solo brasileiro estão concentrados principalmente nos setores de energia, mineração, siderurgia e petróleo. Para celebrar a data, Embaixada da China no Brasil preparou mostra cinematográfica em parceria com o CCBB

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Em 1974 Brasil e China restabeleceram as relações diplomáticas, que haviam sido interrompidas em 1949 com a criação da República Popular da China. À época da reativação dos laços diplomáticos entre os dois países, o Brasil vivia uma ditadura militar e era governado pelo general Ernesto Geisel (1974-1979). O presidente chinês era Dong Biwu (1972-1975).

Os laços bilaterais foram normalizados e ao longo dessas quase cinco décadas está em curso uma parceria robusta e baseada nos princípios de não-interferência, igualdade e benefício mútuo.

Há quatro princípios-chave que norteiam as relações sino-brasileiras: fortalecimento da confiança política mútua, com base em um diálogo em pé de igualdade; aumento do intercâmbio econômico-comercial, com vistas ao benefício recíproco; promoção da cooperação internacional, com ênfase na coordenação das negociações; e incentivo ao intercâmbio entre as respetivas sociedades civis para aprofundar o conhecimento mútuo.

Com a reaproximação diplomática dos dois países foi celebrado um acordo para a criação e funcionamento da Embaixada do Brasil em Pequim e da Embaixada da China em Brasília. Atualmente, o Brasil mantém uma embaixada em Pequim e consulados-gerais em Guangzhou, também chamada Cantão, Hong Kong e Xangai, e a China mantém uma embaixada em Brasília e consulados-gerais em Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).

Primeiras relações

O primeiro contato entre as duas nações data ainda do Século XIX, período em que ambas adotavam regimes imperiais. O Brasil era uma colônia de Portugal e era governado pelo príncipe-regente Dom João VI e a China pela dinastia Qing. 

Os primeiros grupos de chineses - cujo número varia entre 200 e 400 pessoas - foram trazidos de Macau ao Rio de Janeiro (RJ) em 1812 para iniciar o cultivo de chá no Brasil. O objetivo do príncipe-regente era replicar na então colônia o comércio de chás entre a China e a Europa. 

Foram, então, iniciadas lavouras experimentais no Jardim Botânico do Rio de Janeiro e na Fazenda Imperial de Santa Cruz, porém o experimento fracassou e a colônia chinesa desapareceu. A plantação de chás iniciou em São Paulo anos depois. Em 1882, a Companhia de Comércio e Imigração Chinesa foi fundada e trouxe mais de mil chineses para trabalhar em uma mina em São João Del Rei (MG).

A primeira entrada oficial de chineses em São Paulo (SP) ocorreu em 15 de agosto de 1900. O grupo era formado por 107 pessoas que cruzaram o Oceano Atlântico a bordo do vapor Malange, procedente de Lisboa (Portugal) e desembarcaram no Rio de Janeiro (RJ). Eles foram conduzidos em seguida para a Hospedaria de Imigrantes na capital paulista.

Vista Chinesa, no Rio de Janeiro (RJ)

A chegada dos primeiros imigrantes chineses em solo brasileiro marcou a história do Rio de Janeiro e ganhou uma homenagem: a Vista Chinesa. O mirante construído em estilo chinês em 1903 fica no Alto da Boa Vista, próximo à antiga estrada que ligava o Jardim Botânico a um dos pontos de repouso dos passeios da família imperial conhecido como Mesa do Imperador.

Atualmente, estima-se que no Brasil vivam cerca de 300 mil chineses. Segundo dados da Polícia Federal, os chineses representam cerca de 5% do número de imigrantes registrados no país. Mesmo com a receptividade do povo brasileiro, os imigrantes enfrentam alguns desafios como as diferenças culturais e questões sociais. Por ser diferente do mandarim, a língua portuguesa se torna outro obstáculo para os recém-chegados.

Linha do tempo das relações sino-brasileiras

Década de 1970
As relações diplomáticas entre Brasil e China são retomadas depois de um hiato de 25 anos.

Década de 1980
São realizadas as primeiras visitas de chefes de Estado e ministros de Relações Exteriores de ambos os países. 

O general João Baptista Figueiredo - o último presidente brasileiro do regime militar (1979-1985) - foi o primeiro mandatário a visitar o território chinês (1984) durante o governo do presidente Li Xiannian (1983-1988). 

Em 1988, o primeiro presidente brasileiro da recém-restaurada democracia, José Sarney (1985-1990), visitou a China durante a presidência de Yang Shangkun (1988-1993).

O maior feito diplomático dessa década entre os países foi a criação, em 1984, do programa Satélites de Recursos Terrestres China-Brasil (CBERS, da sigla em inglês).

Década de 1990
Em 1990 ocorreu a primeira visita de um Chefe de Estado chinês ao território brasileiro.

O  presidente chinês à época era Yang Shangkun. A primeira simpatia entre os países foi a declaração pública do apoio brasileiro em relação à entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Em 1995 o presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) visitou a China que era presidida por Jiang Zemin (1993-2003).

Em 1999, foi concretizado o lançamento do satélite CBERS-1.

2000 – 2010
Em 2003 foi lançado o segundo satélite CBERS. Em 2004, durante visita do então presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011), à China, foi criada a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), com a primeira reunião liderada pela vice primeira-ministra chinesa, Wu Yi, e o então vice-presidente brasileiro, José Alencar.

Em 2004, o Brasil reconheceu oficialmente a China como uma economia de mercado. Cinco anos depois, em 2009, os chineses ultrapassaram os Estados Unidos e tornaram-se o maior parceiro comercial do Brasil. 

Em 2006 foi fundado o Bric, o bloco de países emergentes que incluiu a África do Sul em 2011 e passou a se chamar Brics. Desde 2009, os líderes do grupo se reúnem anualmente. Nesse ano também foi realizada a I Cúpula dos Bric (ainda sem a adesão da África do Sul) na cidade de Ecaterimburgo (Rússia).

O Brics tem sido uma plataforma importante de cooperação entre Brasil e China sobre questões políticas e relacionadas com o comércio, energia, mineração, serviços financeiros e agricultura. 

Em 2007, iniciaram-se diálogos entre as chancelarias chinesa e brasileira e o diálogo estratégico Brasil-China em Pequim. Houve ainda um maior número de visitas entre representantes de Estado de ambos os países nesse período em relação aos outros períodos antecedentes.

2010–2015
Em 2011 teve início o Diálogo de Alto Nível Brasil-China em Ciência, Tecnologia & Inovação e durante a III Cúpula dos Brics em Sanya (China), com a presidenta brasileira Dilma Rousseff (2011-2016). Nesse mesmo ano, houve a assinatura do Plano de Ação Conjunta Brasil-China em Saúde e a reunião multilateral entre China e Brasil sobre mudanças climáticas.

Em 2012, ocorreu a IV Cúpula do Brics em Nova Deli (Índia), a reunião Conferência Rio+20 e a assinatura do Plano Decenal de Cooperação 2012-2021. Além disso, chegou-se a conclusão que Brasil e China elevariam as relações ao nível de Parceria Estratégica Global. Na área comercial, elevou-se ainda mais a China, que se tornou a maior importadora de produtos brasileiros.

Em 2013 a V Cúpula do Brics foi realizada em Durban (África do Sul), uma reunião da Cosban, uma reunião do G-20 e uma rara reunião bilateral entre China e Brasil para abordar temas migratórios. 

Essa série de encontros estreitou as relações bilaterais China-Brasil com as visitas de diversos membros da política brasileira à China, em conjunto com a criação do mês do Brasil na China e a criação do mês da China no Brasil, setembro e outubro respectivamente.

Também em 2012 foram lançados mais dois satélites CBERS. Em 2014 e 2015 foram realizados inúmeros encontros internacionais relacionados aos Brics, questões socioambientais, como G20, dentre outras temáticas.

Em julho de 2014 o presidente chinês Xi Jinping (2013 - atualmente) visita o Brasil durante o governo da presidenta Dilma Rousseff (2014-2016).

2016–2022
Em setembro de 2016, Brasil e a China assinaram um acordo para expandir a cooperação em comércio e serviços durante a cúpula do G20, realizada em Hangzhou (China). O acordo beneficiou setores que representavam até 58% do PIB do Brasil. 

Em junho de 2017 Institutos da China e do Brasil assinaram um memorando de entendimento sobre a cooperação em história da ciência e tecnologia, no qual se comprometeram a cooperar e realizar pesquisa conjunta sob um programa intitulado Ciência e Civilização na Rota da Seda Internacional.

Em agosto de 2017, o presidente brasileiro Michel Temer (2016-2018) fez uma visita oficial à China e divulgou novas oportunidades de investimento abertas pelos programas de concessões e privatizações anunciados pelo seu governo, para as quais afirmou esperar importante participação de investimento chinês.

Em setembro de 2017 a China sediou a IX Cúpula do Brics em Xiamen, província de Fujian. Na ocasião, o presidente da China, Xi Jinping, e do Brasil, Michel Temer, concordaram em promover ainda mais a parceria estratégica abrangente entre os dois países. Um dos acordos firmados entre os dois países foi a assinatura de um acordo pela a China Merchants Port Holding (CMPorts) para comprar, por 2,9 bilhões de reais, uma participação de 90% no Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP).

Em janeiro de 2019, o enviado especial do presidente chinês, Xi Jinping, Ji Bingxuan, se encontrou com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (2019 - atualmente), depois de participar da cerimônia de posse do novo mandatário brasileiro. 

Em maio de 2019, o presidente chinês, Xi Jinping, recebeu o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, no Grande Palácio do Povo em Pequim.

Em novembro de 2019 o presidente chinês, Xi Jinping, esteve no Brasil para a XI Cúpula do Brics.

Em 2020, a China tornou-se o primeiro parceiro comercial do Brasil a superar a marca histórica de uma corrente de comércio superior a 100 bilhões de dólares americanos. A alta da demanda chinesa durante a pandemia fez a relação entre Brasil e China se estreitar. Isso porque, naquele ano, um a cada três produtos brasileiros exportados é destinado ao país asiático.

Em 2021 o comércio entre Brasil e China superou os valores de 2020 e movimentou 135,4 bilhões de dólares.

Em julho de 2022, o Ministério da Saúde do Brasil decidiu recomendar a aplicação da vacina CoronaVac, contra covid-19, para crianças de 3 a 5 anos. 

Mostra cinematográfica celebra os 48 anos das relações diplomáticas entre Brasil e China

No próximo dia 15 de agosto as relações diplomáticas entre o Brasil e a China completam 48 anos. Para celebrar a data, a Embaixada da China no Brasil e o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) promovem a mostra 'Através do Tempo', com a exibição de produções cinematográficas contemporâneas chinesas em Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).

O evento teve início na última quarta-feira (20) e prossegue até o dia 28 de agosto nas unidades do CCBB nessas três capitais. O público terá a oportunidade de vivenciar uma experiência através do tempo e da história, da cultura e da sociedade da China em 12 produções audiovisuais chinesas, entre longa-metragens e animes, legendadas em português. 

Confira a programação completa.

China cria Arquivos Nacionais de Publicações e Cultura

A China inaugurou neste sábado (23) os Arquivos Nacionais de Publicações e Cultura. Os arquivos nacionais do país são considerados um tesouro cultural a ser transmitido às gerações futuras e servem como um banco de dados geral de recursos bibliográficos nacionais e o banco genético de sementes da cultura chinesa.

Após uma construção de três anos, o projeto compreende arquivos na capital chinesa, Pequim, e três outras filiais localizadas em Xi'an, na província de Shaanxi, na área central do país; em Hangzhou, província de Zhejiang, ao sul; e Guangzhou, capital da província de Guangdong - também conhecida como Cantão - ao sul do país. As quatro unidades serão responsáveis por herdar e preservar os recursos bibliográficos nacionais após a abertura.

As funções dos arquivos incluem acolher coleções e realizar exposições, pesquisa e comunicação para destacar a confiança cultural, levar adiante a cultura chinesa, construir uma imagem nacional positiva e impulsionar o intercâmbio e o aprendizado mútuo entre as civilizações.

Seis curiosidades sobre o 'Grande Calor'

Teve início neste sábado (23) o 'Grande Calor', quando a maior parte da China entra na estação mais quente do ano. Trata-se do 12º termo solar do ano e que vai até o dia 6 de agosto. De acordo com o calendário solar tradicional chinês, existem 24 termos solares, que equivalem às quatro estações do ano do Ocidente.

Os 24 termos solares foram criados há milhares de anos para orientar a produção agrícola. Mas a cultura do termo solar ainda é útil hoje para guiar a vida das pessoas por meio de alimentos especiais, cerimônias culturais e até dicas de vida saudável que correspondem a cada termo.

Confira seis curiosidades sobre esse período de calor na China.

Época de colheita e plantio

Durante o 'Grande Calor', o sol, as altas temperaturas e as chuvas fortes são boas para as culturas agrícolas. Como durante o termo 'Calor Menor', muitas calamidades naturais, como inundações, secas e tufões, também são comuns. Por isso, é importante colher e plantar a tempo para evitar contratempos causados por desastres naturais.

Marcha com o navio 'Grande Calor'

O envio do navio 'Grande Calor' é uma tradição folclórica de centenas de anos em Taizhou, província de Zhejiang, a oeste da China. A embarcação recebe vários animais para sacrifício, como porcos, ovelhas, galinhas, peixes e camarões. Mais de 50 pescadores se revezam no transporte do barco enquanto marcham pelas ruas. Tambores são tocados e fogos de artifício são acesos. Ambos os lados da rua ficam repletos de pessoas orando por bênçãos. Após uma série de cerimônias, o navio é finalmente levado ao cais. Em seguida, o navio é retirado do porto de pesca e queimado no mar. As pessoas realizam este ritual para rezar por boas colheitas e saúde.

Luta de grilos

O 'Grande Calor' é a época com o maior número de grilos que podem ser encontrados ao longo dos campos. A luta de grilos é um passatempo popular para algumas pessoas na China durante este período. O costume remonta a mais de mil anos à Dinastia Tang (618-907 AD).

Comer lichia, mizao e abacaxi

Durante o primeiro dia do 'Grande Calor', como forma de celebração, há o costume de comer lichia e mizao em Putian, província de Fujian, a sudeste do país. As pessoas geralmente mergulham a lichia em água fria para comê-la e a fruta é considerada tão nutritiva quanto o ginseng. Já o mizao é feito de arroz fermentado e é cozido com açúcar mascavo para reforçar a energia vital do corpo humano. Outra iguaria que é degustada durante esse termo é o abacaxi, que tem o sabor melhor durante esse período. 

Beber sopa de carneiro

Há um costume no sul da província de Shandong, ao norte do país, em que as pessoas bebem sopa de carneiro no primeiro dia do 'Grande Calor'. Muitas pessoas vão a restaurantes locais para saborear o prato que é chamado de "sopa de carneiro de verão".

Comer geleia de grama

Geleia de grama, xiancaodong em chinês, é feita com uma grama especial cujos caules e folhas podem ser transformados em geleia depois de secas ao sol. Com a incrível capacidade de reprimir o calor do verão, essa iguaria é descrita em um ditado popular na província de Guangdong ou Cantão, ao sul da China, que diz: "comer geleia de ervas no 'Grande Calor' fará você permanecer jovem como os imortais". A geleia parece e tem gosto de outra gelatina tipo Guilinggao, ou chamada Turtle Jelly, mas sem o sabor amargo.