Os Estados Unidos vão atacar o Irã diretamente a partir de amanhã, sábado, 21, ou no dia seguinte -- escreveu em sua coluna o premiado repórter estadunidense Seymour Hersh.
Hersh é conhecido pelos seus contatos com os militares e a comunidade de informações dos EUA.
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O veterano jornalista expôs a tentativa de encobrir o massacre de My Lai, no Vietnã, em 1968, cometido por tropas estadunidenses. Nele, ao menos 347 civis foram assassinados, especialmente idosos, mulheres e crianças, com casos de estupro em grupo de várias vítimas.
Hersh também foi o primeiro a denunciar as torturas na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, onde eram mantidos prisioneiros supostamente ligados ao regime de Saddam Hussein.
De acordo com o texto publicado por ele, Donald Trump endossou o plano de troca de regime no Irã que Israel começou a pôr em prática na madrugada de sexta-feira, 13.
A Casa Branca informou ontem que Trump tomaria uma decisão a respeito "dentro de duas semanas".
A acreditar em Hersh, mais uma vez o ocupante da Casa Branca estaria desinformando os iranianos com o objetivo de manter o elemento surpresa.
Nesta sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, vai se encontrar em Genebra, na Suiça, com seus congêneres da França, Reino Unido e Alemanha para tentar uma saída negociada para o conflito.
Ataque a Fordow
O papel principal dos Estados Unidos no ataque seria demolir as instalações subterrâneas de Fordow, que ficam a oito metros de profundidade, com bombas de penetração em bunkers.
A bomba MOP GBU-57 A/B, que só existe no arsenal estadunidense, pesa 14 mil quilos e é lançada de bombardeiros B2, supostamente invisíveis a radares.
Fordow fica ao sul da cidade sagrada iraniana de Qom e a cerca de 200 quilômetros de Teerã.
Um vazamento de radiação colocaria em risco os moradores da região.
Segundo Hersh, o ataque dos EUA a Fordow só aconteceria depois do fechamento das bolsas de Wall Street nesta sexta-feira, por insistência do próprio Trump, com o objetivo de reduzir o impacto do bombardeio no mercado financeiro.
Os EUA suspeitam que o Irã mantenha em Fordow o urânio enriquecido a 60% que produziu depois que Trump, em seu primeiro mandato, se retirou de forma unilateral do acordo nuclear com Teerã, em 2018.
Desde que era deputado no Knesset, o Parlamento de Israel, Benjamin Netanyahu denuncia que o Irã está próximo de obter uma bomba nuclear. Fazendo as contas a partir de suas declarações, isso já teria acontecido em 1997, ou seja, quase 30 anos atrás.
Diferentemente do Irã, Israel tem um arsenal nuclear, não assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e não se submete a inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica.
Derrubada do governo
"Esta é uma oportunidade de se livrar deste regime de uma vez por todas", disse a Hersh uma fonte militar, explicando a decisão de um grande ataque.
Desde que o aiatolá Khomeini comandou a revolução de 1979 e instalou a República Islâmica do Irã, é alvo de retaliações do Ocidente.
Khomeini derrubou o regime pró-ocidental do xá Mohammad Reza Pahlavi. Em 1953, o monarca tramou com a CIA e os serviços de inteligência do Reino Unido a derrubada de seu próprio primeiro-ministro, Mohammad Mosaddegh, que havia nacionalizado o petróleo iraniano.
Em 1980, através de Saddam Hussein, líder do Iraque, o Ocidente desatou uma guerra entre os vizinhos que durou oito anos e custou a vida de centenas de milhares de iraquianos e iranianos.
O objetivo era acabar com a república islâmica instalada pelo aiatolá Khomeini.
Nesta semana o filho mais velho do xá, suposto príncipe herdeiro, que vive em Washington, publicou um vídeo na rede X dizendo:
A República Islâmica chegou ao final e está colapsando. O que começou é irreversível. O futuro é brilhante e juntos vamos virar esta página da História. Agora é hora de se levantar; hora de reconquistar o Irã. Que eu esteja com vocês em breve.
Fuga de Khamenei?
Em seu artigo, Seymour Hersh diz que o avião que serve ao líder espiritual do Irã, Ali Khamenei, já teria deixado o Irã em direção ao sultanato de Omã, no Golfo Pérsico.
Esta informação específica, não confirmada, pode ter sido dada a Hersh com o objetivo de estimular uma revolta no Irã.
De acordo com o jornalista, os ataques aéreos dos EUA vão se concentrar em bases da Guarda Revolucionária, postos da polícia e instalações do governo que contenham arquivos sobre dissidentes.
Tanto Israel quanto os Estados Unidos contam com a participação na derrubada do governo do terço da população de 90 milhões de habitantes do Irã que não é persa, sempre segundo Hersh.
A CIA tem uma grande base secreta no Azerbaijão, vizinho ao Irã. Poderia influenciar os iranianos de origem azeri, curdos e árabes.
Também contaria com a adesão dos balúchis. O Baluchistão tem um movimento separatista armado que engloba território do Irã e do vizinho Paquistão.
No escuro sobre o futuro
Seymour Hersh sugere que os EUA estão dando um tiro no escuro, uma vez que não existe consenso sobre o tipo de governo que viria depois da esperada revolta contra o regime do aiatolá Khamenei.
Israel pretende instalar um governo "marionete", mas Washington teria discordado, segundo uma fonte de informações do jornalista:
O resultado seria hostilidade permanente e conflito futuro em perpetuidade. Bibi está tentando atrair os EUA como aliado contra tudo o que é do islã.
A alternativa seria escolher um líder religioso favorável ao Ocidente e contar com a participação em um futuro governo de dissidentes da Guarda Revolucionária do Irã.
De acordo com Hersh:
Donald Trump claramente quer uma vitória internacional para vender. Para conquistar isso, ele e Netanyahu estão levando os Estados Unidos a lugares em que nunca estiveram.
Por mais bizarras que pareçam as ideias que Seymour Hersh relatou, no passado os Estados Unidos promoveram troca de regime no Afeganistão e no Iraque e apoiaram a derrubada dos regimes da Líbia e da Síria.
Em nenhum dos casos houve uma clara vitória política e diplomática de Washington, mas sim a semeadura do caos que enfraqueceu projetos de soberania locais.
Talvez instalar o caos seja, em si, o plano.
Colocado contra a parede, o regime dos aiatolás pode atacar dezenas de bases estadunidenses existentes na região e tentar fechar o estreito de Ormuz, por onde passa diariamente um terço da produção mundial de petróleo.