ABSURDO

Avião de Israel invadiu céus de Malta antes de ataque a barco que ia a Gaza

Governo maltês insiste em negar violação de soberania, mas imagens de monitor de voos mostram invasão e fonte militar confirma. País é membro da União Europeia

Imagem da plataforma de monitoramento de voos ADS-B mostra avião militar de Israel invadindo o espaço aéreo de Malta.Créditos: Times of Malta/Reprodução
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De LISBOA | Uma aeronave militar de Israel deixou o país na quinta-feira (1°) e realizou diversas manobras sobre o espaço aéreo de Malta sem autorização. O sobrevoo ocorreu poucas horas antes de um incidente envolvendo a embarcação Conscience, da Flotilha da Liberdade de Gaza, que relatou ter sido alvo de um ataque com drones, que dispararam tiros e foguetes, já nos limites das águas territoriais maltesas. Malta é uma nação integrante da União Europeia.

Segundo dados do rastreador de voos ADS-B, confirmados de forma independente pelo portal de notícias Times of Malta, o avião C-130 Hercules permaneceu cerca de três horas sobre o território maltês antes de retornar a Israel. As imagens captadas mostram a aeronave executando manobras sobre o Banco de Hurd, uma elevação submersa ao leste da ilha, a aproximadamente 1.500 metros de altitude. O retorno a Israel foi registrado cerca de sete horas após a decolagem.

Uma fonte militar, sob condição de anonimato, afirmou que a invasão do espaço aéreo do país, e por consequência da União Europeia, de fato ocorreu. “Trata-se de uma violação grave. Israel parece ter conduzido uma operação militar não autorizada sobre o território de um Estado-membro da União Europeia, desrespeitando nossa neutralidade”, disse.

Num comportamento estranho e incompreensível, o governo de Malta, em comunicado oficial, insistiu que seu espaço aéreo não foi invadido, mesmo com a evidência óbvia mostrada pelo sistema de monitoramento de voos. “Nenhuma aeronave ou embarcação mencionada nas reportagens entrou no espaço aéreo ou nas águas territoriais maltesas (12 milhas náuticas da costa) nas últimas 48 horas”, diz a nota das autoridades maltesas, reforçando que “integridade territorial do país em momento algum foi comprometida”.

Sinal de emergência e danos à embarcação

Na madrugada de sexta-feira (2), a Flotilha da Liberdade emitiu um sinal de socorro (SOS) alegando que a embarcação Conscience havia sido atingida por um drone, o que provocou um incêndio a bordo. Nenhum tripulante ficou ferido. Imagens divulgadas pela ONG mostraram dois pontos de perfuração na estrutura do navio.

Um rebocador local teria apagado o fogo, utilizando equipamentos de combate a incêndio, e um navio de patrulha das Forças Armadas de Malta foi deslocado para oferecer apoio adicional. No entanto, os ativistas a bordo da Conscience se recusaram a abandonar o navio, que transporta ajuda humanitária para Gaza, alegando ser sua responsabilidade garantir a continuidade da missão. Atualmente, a embarcação encontra-se em águas internacionais e está sendo monitorada pelas autoridades competentes.

Oposição exige transparência

O Partido Nacionalista (PN) de Malta cobrou do governo esclarecimentos sobre a situação e seus impactos na segurança nacional. Embora tenha evitado classificar o ocorrido como ato militar, o PN reforçou que a proteção do território maltês deve ser a prioridade máxima. A legenda pediu melhoria na coleta de informações estratégicas, reforço das capacidades de vigilância e maior controle sobre a região de Hurd's Bank. Ainda em nota, o partido agradeceu às Forças Armadas de Malta e ao pessoal que atuou na resposta ao incidente.

Lembrança de 2010

O episódio reacendeu lembranças de 2010, quando embarcações da mesma flotilha foram alvo de uma ofensiva de Israel. Na ocasião, militares israelenses atacaram os barcos a partir de lanchas e helicópteros, resultando na morte de nove ativistas.

Embora até o momento não haja confirmação de ligação direta entre a aeronave israelense e o ataque por drone, o temor de uma repetição dos eventos de 2010 paira entre os apoiadores da missão.

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