Em meio ao derretimento das bolsas de valores em todo o mundo, Donald Trump aumentou a tensão na guerra comercial e, em nova ameaça à China, deu prazo de 24 horas para Pequim derrubar a tarifa de 34% aos produtos dos EUA, anunciada na semana passada em reciprocidade ao mesmo percentual estipulado para entrada de artefatos chineses em solo norte-americano.
"Se a China não retirar seu aumento de 34% acima de seus abusos comerciais de longo prazo até amanhã, 8 de abril de 2025, os Estados Unidos imporão Tarifas ADICIONAIS à China de 50%, com efeito em 9 de abril", declarou Trump em meio a uma saraivada de publicações em seu perfil na rede Truth Social, de sua propriedade, no início da tarde desta segunda-feira (7).
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O mandatário dos EUA ainda ameaçou romper relações com o governo chinês, caso Pequim não acate seu novo achaque.
"Além disso, todas as negociações com a China sobre as reuniões solicitadas conosco serão encerradas", emendou o presidente dos EUA. Mais cedo, o governo chinês anunciou que "pressionar ou ameaçar a China não é a maneira correta de dialogar conosco".
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Trump foi à rede após a Bolsa de Valores de Nova York caminhar para um colapso, em meio ao derretimento dos mercados em todo o mundo por causa da guerra comercial declarada por ele.
O índice da NYSE Composite operava em queda de 2,59% logo na abertura. A S&P 500, que lista as 500 ações mais valiosas do mercado estadunidense, apontava queda de 0,81%, com Dow Jones e Nasdaq acompanhando (-1,65% e -0,75%, respectivamente).
Tesla e BigTechs
O efeito da taxação de Trump nas bolsas tem sido sentido principalmente pelos principais apoiadores do presidente estadunidense: os bilionários Elon Musk, da Tesla, e Jeff Bezos, da Amazon.
Empresa do dono do secretário de "eficiência governamental" de Trump, a Tesla recuou 5,8% nesta segunda-feira, após queda de 10,42% na sexta, acumulando uma baixa de mais de 50% desde seu pico histórico.
Com isso, Musk amarga perda de US$ 110 bilhões de sua fortuna desde que Trump assumiu o mandato.
Já a Amazon registrou uma queda de 2,32% no pós-mercado, enquanto suas ações já haviam recuado 4% na sexta-feira, após previsões de crescimento de receita entre 5% e 9% no primeiro trimestre, o menor já registrado pela companhia. Com o resultado, Bezos perdeu US$15,95 bilhões de sua fortuna pessoal desde janeiro.
Desespero
Demonstrando certo desespero com os efeitos de seu "Dia da Libertação", que levantou barreiras tarifárias para praticamente todos os parceiros comerciais e provocou o derretimento das bolsas de valores por todo o mundo, Donald Trump está desde cedo disparando recados e fazendo ameaças na sua rede social.
O presidente chamou os próprios compatriotas de "fracos" e "estúpidos". "Os Estados Unidos têm uma chance de fazer algo que deveria ter sido feito DÉCADAS ATRÁS. Não seja fraco! Não seja estúpido!", escreveu aos estadunidenses, que temem uma recessão.
Em seguida, Trump criou um neologismo para classificar os compatriotas. "Não seja um PANICANO (Um novo partido baseado em pessoas fracas e estúpidas!). Seja forte, corajoso e paciente, e GRANDEZA será o resultado", emendou.
A declaração lembra a fala de Jair Bolsonaro (PL), em novembro de 2020, quando, em meio à pandemia, chamou o povo brasileiro de "maricas".
"Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas. Olha que prato cheio para a imprensa. Prato cheio para a urubuzada que está ali atrás. Temos que enfrentar de peito aberto, lutar. Que geração é essa nossa?", disse Bolsonaro à época, pregando o fim do isolamento social e o uso de medicamentos sem eficácia contra Covid, como cloroquina e ivermectina.
Inflação
Mais cedo, Trump tentou rebater o medo dos norte-americanos com a inflação, devido ao repasse das tarifas aos produtos importados nos EUA, e atacou a China, classificada como "maior abusador de todos" que, segundo ele, ganhou "o suficiente, por décadas, tirando vantagem do bom e velho EUA".
Trump ainda atacou o Federal Reserve, o "Banco Central" dos Estados Unidos, que manteve inalterada em março a taxa básica de juros entre 4,25% e 4,5%, consideradas altas pelo presidente.
"Os preços do petróleo estão baixos, as taxas de juros estão baixas (o lento Fed deveria cortar as taxas!), os preços dos alimentos estão baixos, NÃO HÁ INFLAÇÃO, e os EUA, há muito tempo abusados, estão trazendo bilhões de dólares por semana dos países abusadores em tarifas que já estão em vigor. Isso apesar do fato de que o maior abusador de todos, a China, cujos mercados estão quebrando, acabou de aumentar suas tarifas em 34%, além de suas tarifas ridiculamente altas de longo prazo (mais!), sem reconhecer meu aviso para os países abusadores não retaliarem. Eles ganharam o suficiente, por décadas, tirando vantagem dos bons e velhos EUA! Nossos "líderes" passados ??são os culpados por permitir que isso, e muito mais, acontecesse ao nosso país", escreveu Trump, finalizando com seu bordão Make América Great Again.
Trump voltou a atacar a China, o principal parceiro comercial, em outra publicação, em que afirma estar negociando com governos atingidos pela taxação.
"Países de todo o mundo estão falando conosco. Parâmetros duros, mas justos, estão sendo definidos. Falei com o primeiro-ministro japonês esta manhã. Ele está enviando uma equipe de ponta para negociar! Eles trataram os EUA muito mal no comércio. Eles não pegam nossos carros, mas nós pegamos MILHÕES deles. Da mesma forma, a agricultura e muitas outras "coisas". Tudo tem que mudar, mas especialmente com a CHINA", bradou o presidente dos EUA.
Colapso e derretimento
Desde que Donald Trump anunciou as tarifas contra todos os países do mundo, as bolsas de valores internacionais têm acumulado quedas expressivas em seus índices, indicando uma tensão do mercado com os resultados da política protecionista da Casa Branca com os mercados globais.
Nesta segunda-feira, os mercados asiáticos exibiram suas piores quedas desde a crise financeira de 1997 e os resultados desta manhã nos EUA não são positivos.
O índice da NYSE Composite opera em queda de 2,59%. A S&P 500, que lista as 500 ações mais valiosas do mercado estadunidense, aponta queda de 0,81%, com Dow Jones e Nasdaq acompanhando (-1,65% e -0,75%, respectivamente).
A bolsa de São Paulo (Ibovespa) tem sofrido uma queda menor, acompanhando parcialmente o resultado estadunidense. O índice abriu nesta manhã com leve alta de 0,22%, mas sem se recuperar da queda acumulada de 2,59% desde a quinta-feira (3).
Apesar do Brasil ser um dos países menos afetados pelas tarifas de Trump e um provável beneficiário da guerra comercial aberta entre os mercados globais, o cenário de incerteza criado pelo presidente dos EUA tem intensificado a cautela dos investidores do mercado financeiro.
Os mercados asiáticos também estão cambaleando: o índice Hang Seng de Hong Kong fechou em queda de 13,22% nesta segunda-feira (7), o maior tombo desde a crise asiática, em 1997. Já o Shanghai Composite Index caiu 7,34%, ou 245,43 pontos, para 3.096,58.