LITERATURA

O que é o livro 'As veias abertas da América Latina', citado pela China contra os EUA

Clássico de Eduardo Galeano expõe cinco séculos de exploração da América Latina e volta aos holofotes após crítica chinesa ao governo estadunidense

Escritor uruguaio Eduardo Galeano
Escritor uruguaio Eduardo GaleanoCréditos: Mariela De Marchi Moyano / CC BY-SA 2.0
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Nesta terça-feira (15), o porta-voz oficial do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, em entrevista, pontuou que as relações do seu país com as nações da América Latina e do Caribe são baseadas em "respeito e benefício mútuos e igualdade", fazendo uma comparação com o que entende ter sido o papel dos Estados Unidos na região.

"Gostaria de salientar que a China sempre realizou uma cooperação prática em vários campos com os países da América Latina e do Caribe com base no respeito mútuo, igualdade e benefício mútuo, o que promoveu efetivamente o desenvolvimento econômico e social dos países da região e foi bem recebido e elogiado pelos países latino-americanos", disse ele, de acordo com a Agência Sputinik

Em seguida, criticou a postura estadunidense, fazendo alusão a um clássico escrito pelo jornalista uruguaio Eduardo Galeano, morto há dez anos. "A intimidação e a pilhagem de longo prazo dos EUA deixaram a América Latina com as veias abertas. Os Estados Unidos não estão em posição de apontar o dedo à cooperação entre a China e a América Latina."

A declaração foi dada em resposta a uma pergunta sobre a recente fala do Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, na qual descreveu os investimentos da China em certos países do Sul Global como "vorazes", afirmando que eles tomam os direitos minerais dos países e os deixam com dívidas em seus balanços.

As Veias Abertas da América Latina

O livro As Veias Abertas da América Latina foi escrito por Eduardo Galeano e publicado pela primeira vez em 1971. É uma obra de não ficção que analisa a jornada de cinco séculos de exploração da população e dos recursos da América Latina, desde a colonização europeia até os esforços dos Estados Unidos para alcançar o domínio político sobre a região.

Galeano traça a história do continente argumentando que essa trajetória de exploração teve efeitos duradouros nas sociedades locais, levando à pobreza, à desigualdade e ao subdesenvolvimento.

Por meio de uma série de ensaios interligados, ele consegue explorar o impacto da colonização em vários aspectos da vida latino-americana, incluindo a economia, a cultura e o meio ambiente. E, quando chega no período contemporâneo, destaca o papel das corporações multinacionais, das elites políticas e das potências estrangeiras na perpetuação do ciclo de exploração.

Livro banido

Logo após sua publicação, o livro foi censurado na Argentina, no Chile e no Uruguai, que viviam ditaduras militares, aumentando ainda mais seu prestígio como símbolo da resistência intelectual. Foi traduzido para dezenas de idiomas e tornou-se um clássico global nos estudos latino-americanos, frequentemente adotado em universidades.

Em 2009, o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, entregou um exemplar do livro ao então presidente dos EUA, Barack Obama, durante a Cúpula das Américas. O episódio reacendeu o interesse pela obra no mundo inteiro — o livro chegou ao topo da lista de mais vendidos da Amazon dias depois.

Em entrevista ao jornalista Juca Kfouri, na TVT, o comunicador Felipe Neto também falou sobre a obra. “Se eu tiver de citar um nome de um momento Eureka, aquele momento de virada de chave, do Felipe Neto mais à direita para o Felipe Neto mais próximo às ideias de esquerda, esse nome é Eduardo Galeano”, contou: “'As Veias Abertas da América Latina' é um livro brilhante, perfeito e conta a história das nossas Américas, conta a história do sangue do nosso povo, de como os EUA impediram nossa industrialização.”

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