"Já analisei entre 600 e 700 projetos em todo o mundo e, na minha opinião, o Brasil tem os melhores. O Brasil poderia virar o jogo".
A opinião, de um pioneiro na exploração das chamadas "terras raras" -- minerais que são o futuro das indústrias de alta tecnologia -- foi publicada hoje no diário New York Times.
Para Constantine Karayannopoulos, da Neo Performance Materials, do Canadá, o Brasil terá um papel decisivo na atual disputa entre Estados Unidos e China.
Beijing controla cerca de 90% do fornecimento de terras raras à indústria e recentemente, em retaliação aos Estados Unidos, colocou fortes controles de importação sobre os minerais.
Os EUA já cogitaram buscar depósitos na Groenlândia e Ucrânia ou negociar com a Rússia.
Brasil, mero símbolo
Para o New York Times, no entanto, o Brasil simboliza a disputa entre as duas potências.
O diário focou sua cobertura em Minaçu, Minas Gerais, sede de uma das poucas empresas do mundo fora da Ásia com acesso aos minerais que são essenciais para a fabricação de robôs, drones, foguetes, mísseis, turbinas e veículos elétricos.
Chamou a atenção do Times o fato de que o empreendimento, que tem financiamento de investidores estadunidenses, tem um contrato para fornecimento exclusivo dos minerais à China.
O principal executivo da empresa baseada em Minas, Thras Moraitis, explicou:
Eles [os chineses] eram os únicos clientes capazes de processar e separar nosso produto. O planejamento antecipado dos chineses durante muitas décadas os colocou em uma posição na qual tem um forte controle.
A mina brasileira começou a ser desenvolvida há 14 anos e só foi aberta ano passado depois de U$ 150 milhões em investimentos de britânicos e estadunidenses.
Constantine, o executivo do Canadá citado acima, disse ao Times que cavar os minerais é fácil, o processo complexo é o de separá-los. É onde se dá o quase monopólio chinês.
O empresário lembrou que o Ocidente não tem capacidade, por exemplo, de processar o térbio, mineral essencial para algumas ligas metálicas com aplicações muito específicas.
Na reportagem, chama a atenção o papel do Brasil como simples "peão" na disputa.
A empresa Serra Verde, de Minaçu, é oficialmente baseada na Suiça, nasceu do investimento de uma empresa de Boston, nos Estados Unidos, e tem a China como único cliente.