GUERRA COMERCIAL

Sheinbaum enquadra Trump e presidente dos EUA recua com taxas

Por meio de suas redes, a presidenta do México reforçou a sua política de soberania diante do país vizinho

Sheinbaum enquadra Trump e presidente dos EUA recua com taxas.Créditos: Reprodução redes sociais
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Desde que assumiu a presidência dos EUA, Donald Trump tem adotado uma política agressiva no campo do comércio internacional e ameaçado vários países parceiros com aumento de taxas sobre os produtos importados.

Em pronunciamento ao Congresso, realizado na terça-feira (4), Trump voltou a fazer várias ameaças contra países parceiros comerciais, entre eles o Brasil. "Outros países usaram tarifas contra nós por décadas, e agora é a nossa vez de começar a usá-las contra eles. A União Europeia, China, Brasil e Índia, México e Canadá e diversas outras nações cobram tarifas tremendamente mais altas do que cobramos deles. É injusto", disse.

No entanto, com a reação de setores comerciais internos, o presidente Trump já dá sinais de que pode voltar atrás com algumas de suas ameaças tarifárias. Nesta quinta-feira (6), após reunião com a presidenta do México, Claudia Sheinbaum, o mandatário fez uma publicação onde revelou ter voltado atrás em algumas tarifas impostas ao país vizinho.

"Depois de falar com a presidente Claudia Sheinbaum do México, concordei que o México não será obrigado a pagar tarifas sobre nada que se enquadre no Acordo USMCA. Este acordo é válido até 2 de abril. Fiz isso como uma acomodação e por respeito à presidente Sheinbaum. Nosso relacionamento tem sido muito bom e estamos trabalhando duro, juntos, na fronteira, tanto em termos de impedir que estrangeiros ilegais entrem nos Estados Unidos quanto, da mesma forma, impedir o Fentanil. Obrigado à presidente Sheinbaum por seu trabalho duro e cooperação!", declarou Trump.

Logo em seguida, a presidenta do México também comentou sobre a reunião com o chefe de Estado dos EUA. Em seu pronunciamento, Sheinbaum reforçou a reciprocidade de soberania, algo que tem sido a marca de sua gestão.

"Muito obrigada ao presidente Donald Trump. Tivemos uma excelente e respeitosa conversa, na qual concordamos que nosso trabalho e colaboração produziram resultados sem precedentes, dentro do respeito às nossas soberanias. Continuaremos a trabalhar juntos, principalmente em questões de migração e segurança, incluindo a redução da travessia ilegal de fentanil para os Estados Unidos, bem como de armas para o México. Conforme mencionado pelo presidente Trump, o México não será obrigado a pagar tarifas sobre todos os produtos dentro do USMCA. Este acordo é válido até 2 de abril, quando os Estados Unidos anunciarão tarifas recíprocas para todos os países", declarou Claudia Sheinbaum.

Trump mente sobre o Brasil em discurso no Congresso e ameaça com novas taxações
 

Na noite desta terça-feira (4), Donald Trump usou a tribuna do Congresso para fazer mais um “comício” para a sua base, cheio de desinformação e um dos mais longos da história. É a primeira vez que o republicano discursou para congressistas desde quando tomou posse, e voltou a ameaçar a tomada do Panamá e da Groenlândia, as políticas de diversidade e um aprofundamento da radicalização, além de defender a imposição de tarifas comerciais sobre o Brasil, mentindo ao dizer que o país brasileiro cobra de forma "injusta” os EUA.

O Brasil foi citado como exemplo de protecionismo, mas como sempre os números mostram o contrário. Dados da Câmara de Comércio Brasil-EUA indicam que a tarifa média aplicada aos produtos americanos é de apenas 2,7%, enquanto os Estados Unidos mantêm um superávit de mais de US$ 200 bilhões na balança comercial.

“Outros países usaram tarifas contra nós por décadas, e agora é a nossa vez de começar a usá-las contra eles. A União Europeia, China, Brasil e Índia, México e Canadá e diversas outras nações cobram tarifas tremendamente mais altas do que cobramos deles. É injusto", reclamou.

No governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a menção ao Brasil foi interpretada como um indicativo de que o país poderá enfrentar medidas protecionistas ou, no mínimo, sofrer pressão da Casa Branca para uma negociação. Trump misturou promessas expansionistas, revisionismo histórico e retórica protecionista. Evocando um tom messiânico, ele afirmou ter sobrevivido a um atentado em 2024 para “tornar os EUA grande de novo” e voltou a ameaçar a tomada de territórios ao redor do mundo.

Enquanto os mercados reagiam com forte queda à escalada do risco de uma guerra comercial, Trump redobrou sua defesa das tarifas sobre aliados e adversários. Sem apresentar dados concretos, afirmou que empresas estrangeiras estariam transferindo suas fábricas para solo americano para escapar das barreiras impostas por sua administração.

De acordo com o colunista Jamil Chade, do UOL, as tarifas protecionistas entram em vigor no dia 2 de abril. "O que eles nos colocarem de tarifas, colocaremos neles", declarou. A defesa das tarifas ocorre no mesmo dia em que Canadá, México e China anunciam medidas de retaliação contra os Estados Unidos, intensificando uma disputa comercial que pode desencadear um período de incertezas na economia global.

“No que eles nos taxarem, nós os taxaremos. Se eles aplicarem medidas não tarifárias para nos manter fora do mercado deles, então nós faremos barreiras não monetárias para mantê-los fora do nosso mercado. Nós teremos trilhões de dólares e criaremos empregos como nunca vimos antes”, emendou Trump.

A citação ao Brasil surge duas semanas depois de a Casa Branca utilizar o país como argumento para endurecer sua política comercial. Em 14 de fevereiro, Donald Trump consolidou sua abordagem protecionista ao anunciar um plano de aumento de tarifas e a adoção de medidas de reciprocidade contra seus principais parceiros. No documento oficial, o Brasil foi apontado como um dos alvos potenciais das novas tarifas devido às barreiras aplicadas ao etanol dos Estados Unidos.

Durante o mandato de Jair Bolsonaro, o Brasil havia eliminado as tarifas sobre o etanol americano. No entanto, nos primeiros meses do governo Lula, o produto passou a ser taxado em 18%.

Congressistas protestam

O presidente Donald Trump enfrentou protestos de parlamentares democratas durante seu discurso ao Congresso. Assim que entrou, Melanie Stansbury, deputada, levantou um cartaz com a inscrição "Isso não é normal".

O congressista Al Green, do Partido Democrata, chegou a ser retirado da cerimônia realizada em Washington D.C., durante o discurso do presidente Donald Trump ao Congresso dos Estados Unidos, na noite de terça-feira (4), madrugada de quarta no horário de Brasília. Ele tem 77 anos e é deputado desde 2005.

Assista discurso completo 

Comércio Brasil-EUA

Os Estados Unidos ocupam a segunda posição entre os maiores parceiros comerciais do Brasil, atrás apenas da China. Em 2024, o valor das exportações e importações brasileiras com os americanos foi semelhante, cerca de 40 bilhões de dólares, o que equivale a 244 bilhões de reais. Além disso, há mais de dez anos que o principal parceiro comercial do Brasil deixou de ser os EUA.

Na década de 2010, a China começou a assumir essa liderança. Para se ter ideia, em 2024, o comércio entre Brasil e China superou o dobro do volume de trocas comerciais com os Estados Unidos e União Europeia juntos, com o Brasil exportando em série para o país chinês. De acordo com dados do Departamento do Censo dos Estados Unidos (DCEU), o Brasil ocupa a 16ª posição entre os países que mais exportam para os Estados Unidos, enquanto está classificado como o 27º maior importador.

No ano passado, o ferro e aço representaram o maior superávit comercial do Brasil com relação aos Estados Unidos. Esses produtos foram alvo de tarifas altas por parte dos americanos, até o ano de 2024. Durante o primeiro governo Trump, houve uma ameaça de tarifas adicionais, embora ela nunca tenha sido implementada. 

Ainda que Brasil tenha importado 6,8 bilhões a mais do que exportou para o país, trata-se de uma nação emergente, logo é comum que seja dependente de economias desenvolvidas, mas a maior pedra no sapato de Trump é a relação do Brasil com os BRICS — grupo que inicialmente incluía Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e que agora conta com Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.

Os países do BRICS, que representam 46% da população mundial, têm buscado uma alternativa ao dólar para as transações comerciais. A imposição de sanções ocidentais à Rússia, em razão da guerra na Ucrânia, deu impulso a essas discussões. O Banco dos BRICS aprovou um total de US$ 32,8 bilhões em financiamento para 96 projetos, conforme levantamento divulgado pela própria instituição. Desses recursos, US$ 5,62 bilhões foram direcionados ao Brasil, o que ajuda a fomentar a economia de países emergentes.

Logo, o presidente dos Estados Unidos à ideia do grupo de adotar uma moeda própria para facilitar as transações comerciais e fomentar a desdolarização dos negócios entre os países membros. “Se fizerem isso, não ficarão felizes com o que acontecerá”, ameaçou o republicano, que ameaçou impor tarifas de 100% sobre aos países do grupo.

Desinformação é ameaça global 

A manipulação e divulgação de informações falsas com a intenção de enganar pessoas está entre as maiores ameaças globais para 2025, de acordo com o novo Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial, divulgado no dia 15 de janeiro. 

O documento realiza um ranking dos principais riscos globais que o mundo irá enfrentar em curto e longo prazo. A desinformação se encontra como a ameaça mais grave a curto prazo (dois anos), representando um risco para a coesão social e governança. Este é o segundo ano consecutivo em que a disseminação de notícias falsas se encontra entre os riscos no topo do ranking. 

Os especialistas apontam que a principal saída para esse cenário turbulento é a cooperação global, que se faz cada vez mais necessária com o passar dos anos. Porém, 64% apontam que a realidade será oposta, com a ordem global fragmentada, marcada pela competição entre potências médias e grandes.

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