O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, não mediu as palavras para reagir ao plano do presidente americano Donald Trump de assumir a Faixa de Gaza. Em uma declaração dura, ele afirmou que realocar a população palestina do local equivaleria a uma "limpeza étnica".
Segundo Guterres, caso o objetivo seja mesmo colocado em prática corre o risco de "tornar impossível um Estado palestino para sempre".
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Já Riyad Mansour, o enviado palestino às Nações Unidas, afirmou que os líderes mundiais e o povo deveriam respeitar o desejo dos palestinos de permanecer em Gaza.
“Nossa pátria é nossa pátria, se parte dela for destruída, a Faixa de Gaza, o povo palestino escolheu retornar a ela”, afirmou. “E acho que os líderes e o povo devem respeitar os desejos dos palestinos. Nosso país e nossa casa são a Faixa de Gaza, é parte da Palestina", destacou.
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A reação das autoridades árabes
O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita reagiu no X, antigo Twitter, de maneira semelhante através de uma declaração que enfatiza o apoio "firme e inabalável" ao estabelecimento de um Estado palestino.
"Arábia Saudita continuará seus esforços incansáveis para estabelecer um Estado palestino independente, com Jerusalém Oriental como sua capital, e não estabelecerá relações diplomáticas com Israel sem isso", disse.
À CNN, autoridades árabes reagiram perplexas. Um diplomata declarou em anonimato que os comentários de Trump colocarão em risco o frágil acordo de cessar-fogo em Gaza.
“É essencial reconhecer as profundas implicações que tais propostas têm sobre a vida e a dignidade do povo palestino, bem como no Oriente Médio em geral, disse. “A realidade é que 1,8 milhão de pessoas em Gaza resistiriam a tal iniciativa e se recusariam a sair."
Trump e Netanyahu
Ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o republicano disse nesta terça-feira (4), que “os EUA tomarão conta da Faixa de Gaza e nós faremos um trabalho com ela também”, pontuando que Washington seria responsável por reconstruir prédios destruídos e desmantelar “bombas perigosas não detonadas e outras armas”.
Trump acrescentou que cerca de 2 milhões de moradores da Faixa de Gaza seriam realocados para países vizinhos em uma fase de transição, indicando que eles não teriam o direito de retorno. “Simplesmente não dá para voltar. Se você voltar, vai acabar do mesmo jeito que tem sido por 100 anos”, afirmou.
O presidente dos EUA não compartilhou detalhes sobre como ele esperava que os EUA assumissem o controle da faixa, mas durante a coletiva de imprensa, também não descartou o envio de tropas americanas.
“Essa não foi uma decisão tomada levianamente. Todos com quem conversei amam a ideia dos Estados Unidos possuírem aquele pedaço de terra, desenvolvendo e criando milhares de empregos com algo que será magnífico”, disse ele, como se se tratasse de uma propriedade privada que pudesse ser comprada, tomada ou um terreno baldio, e não uma nação ocupada.
Elogios de Netanyahu
Questionado sobre quem ele espera que viva na Faixa de Gaza se todos os palestinos forem realocados, o presidente dos EUA afirmou que "imagina" que "as pessoas do mundo" viverão lá, incluindo - veja só - palestinos.
As proposições do presidente estadunidense foram fartamente elogiadas pelo primeiro-ministro israelense. “Sua disposição de romper com o pensamento convencional — pensamento que falhou inúmeras vezes —, sua disposição de pensar fora da caixa com novas ideias, nos ajudará a atingir todos esses objetivos, e eu já vi você fazer isso muitas vezes”, disse ele.
“Você [Trump] vai direto ao ponto. Você vê coisas que os outros se recusam a ver. Você diz coisas que os outros se recusam a dizer. E depois que os queixos caem, as pessoas coçam a cabeça e dizem: 'você sabe, ele está certo'.”