O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, deu duro golpe em seu principal vizinho ao dizer que não vai comparecer à posse de Nicolás Maduro para seu terceiro mandato por causa da prisão de duas pessoas, uma das quais definiu como "nosso amigo", o ex-candidato ao Palacio Miraflores, Enrique Márquez, que já foi vice-presidente do Congresso venezuelano.
Ele também mencionou a suposta detenção do líder da ONG Espaço Público, Carlos Correa.
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Os dois teriam sido "sequestrados" por agentes do governo, segundo a oposição venezuelana.
"Estes e outros fatos impedem a minha presença na posse", explicou Petro em uma postagem no X.
Em Caracas, depois de meses na clandestinidade, a opositora Maria Corina Machado reapareceu em um protesto com presença relativamente baixa de manifestantes.
Ela teria sido detida logo depois de deixar o evento em uma moto, notícia que o governo não confirma.
Desde a República Dominicana, Edmundo González Urrutia, que se apresenta ao mundo como presidente eleito, pediu a libertação de Corina Machado com um alerta: "Não mexam com fogo".
Mas, era fake news: ela reapareceu em seguida gravando um vídeo com ares de clandestinidade.
Apoiadores de Maduro afirmam que foi uma forma de desviar atenção do fracasso da manifestação contra o governo.
Baixo escalão
México, Colômbia e Brasil vão mandar representantes para a posse de Maduro neste dia 10, mas de baixo escalão hierárquico.
"As eleições mais recentes na Venezuela não foram livres. Não existem eleições livres sob bloqueios", afirmou Petro, numa aparente referência ao embargo econômico dos Estados Unidos.
Para se diferenciar de outros líderes regionais, Petro assegurou:
A Colômbia não romperá relações diplomáticas com a Venezuela, nem intervirá nos assuntos internos do país, a não ser que seja convidada.
Isolamento
A Venezuela rompeu relações diplomáticas com o Paraguai depois que o governo deste país reconheceu Edmundo González Urrutia como presidente eleito.
Caracas considera Urrutia uma versão renovada de Juan Guaidó.
O líder da oposição se autodeclarou presidente depois de uma contagem que, tanto quanto a do governo, não recebeu certificação internacional.
Todas as instâncias de poder da Venezuela reconheceram a vitória de Nicolás Maduro, o que o levou a ser reconhecido como presidente reeleito por países como a Rússia e a China.
O Brasil bloqueou o acesso de Caracas aos BRICS e será representado na posse pela embaixadora na Venezuela, Gilvânia de Oliveira.
República Dominicana, Costa Rica, Peru, Chile, Argentina e Uruguai romperam ou congelaram as relações diplomáticas com o governo Maduro.
Urrutia fez um périplo internacional em que passou pela Itália, Argentina, Uruguai, Estados Unidos e Panamá. Apoiadores dele foram às ruas hoje na Venezuela, onde o opositor pretende ser empossado amanhã.
Partidários de Maduro também foram às ruas.
O governo ofereceu 100 mil dólares de recompensa pela prisão de Urrutia.
Em Caracas, durante um Festival Mundial Antifascista, a vice-presidente Delcy Rodriguez denunciou que movimentos neofascistas na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, Paraguai, Peru, Uruguai e México estão envolvidos em um complô para derrubar Maduro.
Maduro, por sua vez, anunciou a prisão de sete pessoas que definiu como "mercenários", originários dos Estados Unidos, Ucrânia e Colômbia, que estariam envolvidos em um plano para promover o caos na Venezuela.
Pendenga com o Brasil
Com a Venezuela fora dos BRICS, o grupo perdeu um parceiro que tem as maiores reservas de petróleo do planeta.
É por isso que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) mandou representante do mais alto escalão para participar da posse.
O congelamento das relações também poderá custar a participação venezuelana nos esforços brasileiros por uma "frente única" na defesa da Amazônia, uma vez que a COP30 será sediada este ano em Belém.
Como presidente dos BRICS, o Brasil deverá conduzir ainda em 2025 a entrada de Cuba, Bolívia, Malásia e Tailândia no grupo.
Brasília já anunciou o ingresso pleno da Indonésia, uma potência de quase 300 milhões de habitantes que tem a décima economia do planeta, segundo o Banco Mundial.