Os Estados Unidos ocupam a segunda posição entre os maiores parceiros comerciais do Brasil, atrás apenas da China. Em 2024, o valor das exportações e importações brasileiras com os americanos foi semelhante, cerca de 40 bilhões de dólares, o que equivale a 244 bilhões de reais. Além disso, há mais de dez anos que o principal parceiro comercial do Brasil deixou de ser os EUA.
Na década de 2010, a China começou a assumir essa liderança. Para se ter ideia, em 2024, o comércio entre Brasil e China superou o dobro do volume de trocas comerciais com os Estados Unidos e União Europeia juntos, com o Brasil exportando em série para o país chinês. De acordo com dados do Departamento do Censo dos Estados Unidos (DCEU), o Brasil ocupa a 16ª posição entre os países que mais exportam para os Estados Unidos, enquanto está classificado como o 27º maior importador.
No ano passado, o ferro e aço representaram o maior superávit comercial do Brasil com relação aos Estados Unidos. Esses produtos foram alvo de tarifas altas por parte dos americanos, até o ano de 2024. Durante o primeiro governo Trump, houve uma ameaça de tarifas adicionais, embora ela nunca tenha sido implementada.
Ainda que Brasil tenha importado 6,8 bilhões a mais do que exportou para o país, trata-se de uma nação emergente, logo é comum que seja dependente de economias desenvolvidas, mas a maior pedra no sapato de Trump é a relação do Brasil com os BRICS — grupo que inicialmente incluía Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e que agora conta com Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.
Os países do BRICS, que representam 46% da população mundial, têm buscado uma alternativa ao dólar para as transações comerciais. A imposição de sanções ocidentais à Rússia, em razão da guerra na Ucrânia, deu impulso a essas discussões. O Banco dos BRICS aprovou um total de US$ 32,8 bilhões em financiamento para 96 projetos, conforme levantamento divulgado pela própria instituição. Desses recursos, US$ 5,62 bilhões foram direcionados ao Brasil, o que ajuda a fomentar a economia de países emergentes.
Logo, o presidente dos Estados Unidos à ideia do grupo de adotar uma moeda própria para facilitar as transações comerciais e fomentar a desdolarização dos negócios entre os países membros. “Se fizerem isso, não ficarão felizes com o que acontecerá”, ameaçou o republicano, que ameaçou impor tarifas de 100% sobre aos países do grupo.
Dependência está reduzindo
A relação comercial Brasil-EUA é de interdependência, sendo positiva para ambos os países, embora os americanos geralmente apresentem superávit. De janeiro a outubro do ano passado, as exportações brasileiras para os EUA aumentaram mais de 11%. No entanto, a participação dos Estados Unidos nas exportações brasileiras caiu de 24% em 2001 para 12% em 2024, uma queda de mais de 10% ao longo de duas décadas.
No entanto, Trump declarou após a sua posse que "não precisamos deles, eles precisam de nós. Todo mundo precisa de nós”.
Em resposta a jornalistas na coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, o presidente Lula foi enfático e declarou que já governou o Brasil tanto com presidente republicano quanto com representante democrata e defendeu a soberania econômica brasileira.
“Minha relação é sempre a mesma, é a de um Estado soberano com outro Estado soberano. O Trump foi eleito para governar os Estados Unidos e eu fui eleito para governar o Brasil”, destacou ele sobre os ataques recentes de Donald Trump.
Em relação às declarações do republicano sobre a possibilidade de impor tarifas de exportação a produtos de países como o Brasil, Lula afirmou que, caso isso aconteça, o Brasil adotará uma postura de reciprocidade, aplicando taxas sobre produtos norte-americanos importados.
"Se ele taxar os produtos brasileiros, o Brasil também vai taxar os produtos americanos. É simples, não tem nenhuma dificuldade", disse.
Pelo Truth Social, o presidente norte-americano ficou incomodado e voltou a atacar os integrantes do bloco após a fala de Lula nesta sexta-feira (31):
“Não há chance de que os Brics substituam o dólar americano no comércio internacional ou em qualquer outro lugar. E qualquer país que tente, deve dizer ‘olá às tarifas e adeus à América'”
Assista a íntegra da coletiva de imprensa de Lula:
Em outubro do ano passado, a cientista política e socióloga Ana Prestes disse no Fórum Café que a última reunião de cúpula dos Brics na África do Sul "foi a mais importante por conta justamente dessa mudança e ampliação de 10 países, embora nem todos eles já tenham aderido plenamente com os processos de pedidos de ratificação, mas já é uma nova configuração”. Segundo ela, a “desdolarização” pode avançar entre os países e a guerra da Ucrânia e no Oriente Médio aceleram esse processo.
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