A revelação, pelo diário britânico Financial Times, de uma chamada telefônica "horrível" de Donald Trump para a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, provocou crise em Copenhague e temor de eventual ação militar futura dos Estados Unidos para tomar a Groenlândia.
Scott Ritter, o ex-inspetor de armas das Nações Unidas que é autor de livros e blogueiro, comentou no X:
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"Neste momento, ou a Dinamarca envia seus militares para assumir o controle da Base Espacial de Pituffik, citando o seu direito ao Artigo 51 de autodefesa preventiva -- solicitando uma reunião de emergência do Conselho de Segurança para responder à ameaça iminente representada pelos EUA em seu território -- e solicita consultas imediatas sobre o Artigo 4 com seus aliados da OTAN, ou oferece sua rendição".
A base à qual se refere Ritter fica na Groenlândia e é a mais próxima que os Estados Unidos mantém do Ártico, de onde monitora vias marítimas e o espaço aéreo da Rússia.
O artigo 51 da Carta das Nações Unidas reconhece o direito à auto-defesa. O artigo 4 da aliança militar do Ocidente, a OTAN, abre consultas entre os integrantes sobre ameaças a um dos membros.
O Financial Times descreveu a conversa telefônica depois de ouvir várias fontes que tiveram acesso aos detalhes.
Uma delas contou:
Ele [Trump] foi muito firme. Foi um banho de água fria. Antes era difícil levar isso a sério. Mas acho que é sério e potencialmente muito perigoso.
Segundo uma ex-autoridade dinamarquesa, Trump ameaçou com a aplicação de tarifas que afetariam exportações específicas da Dinamarca para o mercado estadunidense.
A primeira-ministra, por sua vez, manteve a postura de que a Groenlândia não está à venda.
Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA já afirmou:
O presidente Trump deixou claro que a segurança da Groenlândia é importante para os Estados Unidos, já que a China e a Rússia fazem investimentos significativos em toda a região do Ártico.
Em busca da independência
A Groenlândia tem seu próprio primeiro-ministro e relativa autonomia em relação à Dinamarca. Existe um forte movimento pela independência.
O líder local, Múte Egede, disse que está tentando marcar um encontro com Trump:
O povo da Groenlândia deve deixar claro que não tem nada a ver com isso. Não queremos ser dinamarqueses. Não queremos ser estadunidenses.
Com apenas 53 mil habitantes, a Groenlândia tem importantes depósitos de petróleo, ouro, prata, chumbo, cobre, zinco, tungstênio, molibdênio e terras raras.
Trump tem como um de seus ídolos o ex-presidente William McKinley, um fã tanto da aplicação de tarifas como do poder naval. Foi ele quem comandou a guerra em que os EUA tomaram da Espanha os territórios de Cuba, Porto Rico, Guam e Filipinas.
Depois da ligação de Trump, que durou 45 minutos, a primeira-ministra se reuniu com executivos de duas empresas da Dinamarca que podem ser alvo de tarifas dos EUA, a cervejaria Carlsberg e a farmacêutica Novo Nordisk.