O sermão da bispa de Washington Mariann Edgar Budde ao presidente Donald Trump em que pediu misericórdia para a população LGBTQIAPN+ e imigrantes dos Estados Unidos ganhou forte repercussão nesta terça-feira (21). Após seu discurso, Mariann Edgar chegou a receber ataques do próprio presidente e de apoiadores.
A bispa Marinez Rosa, da Diocese Anglicana da Amazônia e Bispa Primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, em entrevista à Fórum, comentou sobre o sermão de Mariann e saiu em defesa da bispa americana, afirmando que sua fala foi "corajosa e profética".
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"A fala da bispa Mariann no seu sermão foi corajosa e profética apontando aquilo que nós acreditamos como sendo parte do Evangelho que é a defesa da vida e das pessoas mais vulneráveis. Então, em um momento como esse, é uma fala muito importante se colocando ao lado daquelas pessoas que estão sendo ameaçadas, discriminadas e correm risco de sofrer ainda mais violência do que elas já sofreram até aqui", afirmou Marinez.
A bispa brasileira ainda acrescentou que a posição da bispa Mariann, como uma líder religiosa, é "extremamente importante", principalmente por representar a Igreja Episcopal, uma das grandes denominações religiosas nos Estados Unidos e parte da Comunhão Anglicana que tem uma história milenar.
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"Ela se posicionou dentro daquilo que a própria Igreja acredita. Nós temos na comunhão Anglicana a chamadas '5 Marcas da Missão'. E essas '5 Marcas da Missão' da Comunhão Anglicana nos chamam a lutar contra as estruturas injustas deste mundo, a defender a vida das pessoas. Isso é parte do nosso jeito de ser como Igreja e acreditamos que essa também é parte da nossa forma de seguir o Evangelho", destaca Marinez.
A bispa também afirma que a posição de Mariann também é importante porque ela dá voz a muitas pessoas que pensam igual a ela, até mesmo dentro da Igreja, mas que não têm oportunidade de se manifestar.
"Há muitas lideranças religiosas que pensam da mesma forma, mas talvez não tenham tido oportunidade e coragem para se manifestar, então a fala da bispa Mariann nesse momento, numa celebração importante na frente do presidente Donald Trump e de todas as autoridades do país, mostra como as pessoas imigrantes, as pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, não estão sós. Elas contam com o apoio da Igreja, com a segurança da Igreja para estar com elas nessa caminhada que vai ser bastante difícil a partir de agora", acrescenta a bispa.
Trump exige pedido de desculpas
Após repercussão do sermão de Mariann no presidente extremista e autoritário, Trump declarou à imprensa que exigia um pedido de desculpas da religiosa, além de afirmar que Mariann foi "nojenta no tom" de seu discurso.
Para a bispa Marinez, não há justificativa para que Mariann se desculpe com o presidente. "Acredito que não caiba nenhum pedido de desculpas ou retratação visto que a bispa Mariann, na sua fala, apela à misericórdia, apela para que o presidente Donald Trump tenha misericórdia das pessoas que fazem parte da nação, daquelas que ajudaram a construir a nação americana, pessoas imigrantes. A nação americana também é construída a partir do trabalho dessas pessoas, não só no passado, mas até hoje", defende Marinez.
"Ela aponta de forma profética e corajosa o sentimento das pessoas mais vulneráveis no país e no mundo em relação ao que está acontecendo nesse momento nos Estados Unidos com a reeleição do presidente Donald Trump", finaliza. Marinez ainda acrescenta que as bispas da Igreja Episcopal Americana do Brasil se solidarizam com Mariann pela coragem e sabedoria.
Confira a declaração da bispa Marinez Rosa ao Fórum Onze e Meia desta quarta-feira (22) abaixo.