Desde os primeiros dias de colonização, a crença religiosa desempenhou um papel central na visão de mundo dos puritanos que desembarcaram na América a bordo do Mayflower. Para esses colonos, o assentamento em terras desconhecidas era mais do que uma simples expansão territorial: era um projeto sagrado, guiado pela providência divina. Inspirados pela ideia de que estavam construindo uma "nova Israel", eles viam a colonização como uma oportunidade de purificar a Igreja, longe da corrupção e do caos do Velho Mundo.
Essa perspectiva moldou a identidade religiosa e cultural das treze colônias, onde o sentimento de missão divina era um componente importante, embora não exclusivo, das motivações coloniais. Conforme destacou Conrad Cherry em seu livro God’s New Israel, os Estados Unidos nasceram sob a crença de que a providência divina guiava seu destino. Para muitos, essa missão sagrada não apenas impulsionou a busca pela liberdade, mas também transformou o país em um exemplo a ser seguido pelo mundo.
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No contexto da independência americana, líderes políticos e religiosos fundiram conceitos religiosos e republicanos para dar sentido à nova nação. George Washington, por exemplo, foi comparado tanto a Cincinato, o general romano que representava o dever cívico, quanto a Moisés, o líder bíblico que guiou o povo hebreu à Terra Prometida. Assim, a narrativa da fundação dos Estados Unidos foi elevada a um evento especial na história moderna, conectado aos mitos religiosos que haviam sustentado a colonização.
Dessa síntese surgiu o mito do Destino Manifesto – a ideia de que os norte-americanos têm uma missão divina de expandir a democracia e a liberdade. Embora suas raízes estejam na colonização britânica, o conceito ganhou força com a independência e se consolidou como um mito nacional. Durante a Guerra Fria, essa crença foi reinterpretada para justificar a luta contra a União Soviética, vista como uma batalha global entre liberdade e tirania. A defesa do capitalismo, então, foi revestida de um propósito maior, transformando problemas geopolíticos em responsabilidades nacionais.
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Esse processo de globalização do Destino Manifesto consolidou a visão dos Estados Unidos como guardiões da liberdade no cenário internacional. A política externa tornou-se um elemento fundamental da identidade nacional, reforçando a ideia de que o papel do país no mundo não era apenas estratégico, mas também moral. Essa concepção, formada durante os conflitos ideológicos do século XX, continua a influenciar a política e a cultura americanas até os dias atuais.
Pois Donald Trump, tanto em sua campanha quanto em seus discursos trouxe de volta uma ideia que remonta a mais de um século na história dos Estados Unidos. Ele resgatou a ideia do "destino manifesto", que apresenta a expansão territorial como uma missão divina destinada aos americanos brancos para assegurar os recursos necessários ao país. E isso vai além da retórica.
Quando Trump, sentindo-se então o dono do mundo, expressa sua intenção de adquirir a Groenlândia (território sob administração da Dinamarca), recuperar o controle do Canal do Panamá e fala em renomear o Golfo do México para Golfo da América, ele simplesmente retoma ideias que já faziam parte do pensamento dos pioneiros. Esses, por sua vez, acreditavam ter recebido de Deus a missão de expandir o território americano em defesa dos direitos do cidadão branco norte-americano. O Destino Manifesto, é em suma, o elemento religioso/social que determina, na política estadunidense, o que hoje chamamos de imperialismo.