Imagine que você esteja em uma praia da ilha de Hainan, um destino turístico que os chineses comparam ao Havaí.
De repente, no horizonte, surge uma nuvem.
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Não se trata de um fenômeno meteorológico. Ela se move.
Não são dez, nem cem, nem mil, mas dezenas de milhares de drones.
Alguns saem do mar e avançam em terra firme.
No ar, os que estão em maior altitude monitoram o inimigo. Outros disparam. Há os que cumprem a tarefa de bloquear sinais de telecomunicação, os que se apresentam como chamariz para a artilharia inimiga e os que, carregados de explosivos, se preparam para se jogar sobre alvos, como kamikazes.
Por enquanto, trata-se de ficção científica. Por pouco tempo.
PROJETO REPLICATOR
Em 6 de maio deste ano, a subsecretária de Defesa dos Estados Unidos para Tecnologias Emergentes, Kathleen Hicks, anunciou o investimento de U$ 500 milhões para pesquisar, desenvolver, testar e avaliar "sistemas autônomos de atrito para todos os terrenos", conhecidos pela sigla em inglês ADA2.
São drones capazes de atuar submersos, na superfície da água ou do solo ou no ar. O "autônomos" é essencial, uma vez que seriam sistemas que cumpririam suas tarefas sem interação humana. Entra a Inteligência Artificial.
No ano passado, Hicks já havia visitado as empresas Kodiac Robotics e Skydio, no Vale do Silício. A Kodiac sugere que os tanques de guerra poderão operar sem a presença de soldados. A Skydio produz drones autônomos.
O projeto do Pentágono foi batizado em homenagem à máquina que aparece na série Star Trek, capaz de replicar comida e outros objetos.
O objetivo é produzir sistemas "pequenos, inteligentes, baratos e aos milhares".
GUERRA COM A CHINA
O motivo é uma eventual guerra com a China no estreito de Taiwan.
As nuvens de drones-gafanhotos compensariam a superioridade humana e de equipamento chinesa em seu próprio território.
Afinal, Washington fica a quase 8 mil quilômetros de Taiwan.
Nos anos 80 do século passado, o então presidente Ronald Reagan lançou outro projeto batizado com nome de filme, Guerra nas Estrelas.
O objetivo era cobrir todo o território dos EUA com uma rede anti-mísseis. Fracassou, mas acabou implantado numa área muito menor, o território de Israel, a chamada Iron Dome, ou Cúpula de Ferro.
O projeto Replicator, mesmo se não sair do papel, tem um aspecto sinistro: pode aumentar a associação entre as cinco gigantes do complexo industrial militar -- Raytheon Technologies, Lockheed Martin, Boeing, Northrop Grumman e General Dynamics -- e os bilionários das Big Tech que investem em Inteligência Artificial -- Alphabet, Meta, Microsoft e Elon Musk.
Musk, aliás, já cumpre um papel essencial na Ucrânia, onde seu sistema de satélites Starlink é a espinha dorsal da comunicação entre as tropas que enfrentam a ofensiva da Rússia.
Porém, ao apoiar a campanha de Donald Trump, ele se mostra reticente quanto à aplicação militar de sua tecnologia -- pelo menos no discurso.
Trump, como se sabe, promete acabar com a guerra da Ucrânia se eleito.