O que começou como reação ao ataque do Hamas em 7 de Outubro se converteu, agora, numa tentativa de Israel de redesenhar o mapa do Oriente Médio, conforme anunciado pelo primeiro ministro Benjamin Netanyahu nas Nações Unidas.
Israel conta com amplo apoio nos Estados Unidos e na Europa para invadir o Líbano e destruir a principal força do chamado Arco da Resistência, patrocinado pelo Irã: o Hezbollah.
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Notas de protesto à parte, os governos árabes estão silenciosos. Os Estados Unidos, embora tenham afirmado publicamente que não querem uma ampla guerra regional, reforçaram sua presença militar como forma de dissuadir o Irã de qualquer reação.
Nas últimas horas, Israel atacou o Iêmen, a Síria, Gaza e iniciou operações que descreveu como "limitadas" no sul do Líbano. Também bombardeou o campo de refugiados palestinos no Líbano que é considerado a capital da diáspora.
Tropa de elite
Israel já invadiu o Líbano várias vezes.
Nos anos 80 do século passado, tropas de Israel avançaram tanto dentro do Líbano que é atribuída ao então presidente Ronald Reagan a ordem para que Ariel Sharon não ocupasse Beirute para trocar o regime.
Analistas calculam que Israel pode ter mobilizado até 100 mil soldados para lutar no Líbano.
Uma presença significativa de tropas em território libanês daria ao Hezbollah muitos alvos com os quais "punir" Israel.
Desta vez, Tel Aviv fala em operações limitadas no Sul.
É onde o Hezbollah concentra sua tropa de elite, a chamada Força Radwan.
Ao empurrar a milícia acima do rio Litani, Israel poderia instalar baterias anti-mísseis para eliminar ataques a cidades e vilarejos do Norte de seu território.
Exemplo do passado
Porém, também foi assim nos anos 80 do século passado: o que começou com uma "incursão" no Líbano acabou em uma ocupação que durou duas décadas.
Se Israel eliminar o Hezbollah como força militar, como pretende, mudaria o equilíbrio estratégico na região, enfraquecendo ainda mais as posições de governos árabes, inclusive os que são clientes dos Estados Unidos.
O Líbano, colapsado, caminha para uma crise política, econômica e humanitária ainda mais profunda. A Síria jamais se recuperou da guerra civil, assim como o Iêmen.
O Iraque segue fragilizado depois da ocupação dos Estados Unidos.
Ao discursar na ONU, Netanyahu mostrou em um mapa que Irã, Iraque, Síria e o Iêmen aparecem como o flagelo do Oriente Médio.
Com os Estados Unidos recuando de aventuras militares de larga escala na região, Washington parece ter transferido para Israel o papel de polícia. O objetivo é manter a arquitetura colonial construída desde o fim da Segunda Guerra Mundial, agora diante de governos árabes muito fragilizados.
Não é pouco, considerando a força que o pan-arabismo já teve, chegando no auge a produzir a República Árabe Unida, entre Síria e Egito, que durou de 1958 a 1961.