UMA VIDA NO ESCONDERIJO

Mesmo sem mandato, Nasrallah era o líder político mais poderoso do Líbano

Com muitos inimigos entre os sunitas, comandava a resistência a Israel

Poder retórico.Desde que assumiu a liderança do movimento, Nasrallah passou a vida toda em esconderijos.Créditos: Reprodução
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Sayyid Hassan Nasrallah, morto aos 64 anos, era o líder político mais poderoso do Líbano, mesmo sem ter um mandato. 

Assumiu a posição de secretário-geral em 1992, no lugar de Sayyed Abbad al-Musawi, assassinado por Israel.

Nasrallah se tornou uma figura quase mítica entre os xiitas locais ao comandar a expulsão das forças israelenses que ocupavam o sul do Líbano em 2000.

Seis anos depois, na chamada "segunda guerra do Líbano", cunhou a expressão "Vitória Divina" para o sangrento confronto com Israel, em que Tel Aviv também cantou vitória.

Os dois conflitos foram episódios da guerra indireta entre o Irã e Israel em território libanês.

Poder das armas

No Líbano, o Hezbollah é tanto um partido político quanto uma milícia armada, mais poderosa e bem armada que o próprio Exército.

Representa os xiitas, que são cerca de 30% da população do país.

O Hezbollah controla o bairro de Beirute onde Nasrallah e outras lideranças do movimento foram assassinadas por Israel num bunker subterrâneo, provavelmente com o uso de uma bomba de penetração fornecida a Israel pelos Estados Unidos.

Além disso, o movimento controla o vale do rio Beca -- de grande importância econômica por causa do solo fértil -- e o sul do Líbano, na fronteira com Israel.

Nasrallah era respeitado até mesmo por seus adversários pela capacidade retórica.

Desde que assumiu a liderança do Hezbollah, há 32 anos, fez raras aparições públicas. Casado e pai de quatro filhos, passou quase toda a vida em esconderijos.

Seus discursos eram feitos diante de apoiadores, mas nunca pessoalmente e sempre gravados.

Por representar acima de tudo os interesses xiitas, tinha muitos inimigos dentro do próprio Líbano, o que pode ter facilitado as ações de inteligência de Israel que acabaram com a decapitação do movimento.

Desprezo de líderes sunitas

A decisão de Nasrallah de enviar tropas para defender o governo de Bashar al-Assad, quando ele reprimia a oposição -- uma das causas da guerra civil na Síria -- causou controvérsia no mundo árabe.

Como aliado próximo do Irã, era visto com desconfiança e desprezo por políticos sunitas do Oriente Médio.

Nasrallah era considerado chefe de organização terrorista até mesmo pelos países da Liga Árabe e do Conselho de Cooperação do Golfo (Omã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Catar, Bahrein e Kuwait). 

Porém, no mundo árabe e muçulmano, mesmo entre sunitas, ganhou respeito pelo seu papel no chamado Arco da Resistência a Israel, organizado pelo Irã.

Diante dos seguidos acordos de governos árabes com Israel, Nasrallah era tido como um líder disposto a ir além da tradicional retórica vazia de líderes regionais, interessados em buscar acomodação com os Estados Unidos e Israel depois de arrancar concessões usando discurso pró-Palestina.

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