TERRAS E MAIS TERRAS

O que Israel quer com os ataques no Líbano?

Irã só ameaçou, mas não voltou a atacar

Um pager que explodiu à direita e o mapa do alcance dos mísseis do Hezbollah a partir do Líbano..Créditos: Reprodução
Escrito en GLOBAL el

Uma misteriosa empresa de Budapeste, na Hungria, está sendo apontada como origem dos pagers que explodiram em massa no Líbano, causando mortos e feridos.

É a BAC, criada em 2022, que tem apenas uma sócia: Cristiana Bársony-Arcidiacono.

Ela disse à rede estadunidense NBC que é apenas intermediária.

Fontes citadas pela agência Reuters disseram que cada pager tinha 3 gramas de explosivos inseridos ainda na fase de produção.

Três mil deles explodiram simultaneamente depois de receber mensagens codificadas, ainda de acordo com a Reuters.

A agência atribuiu os ataques ao Mossad, o serviço de inteligência de Israel, que não assumiu a ação.

A empresa Gold Apollo, de Taiwan, produtora original do pager, confirmou que tem um contrato para que a húngara BAC a represente em alguns mercados.

O Teerã Times especulou que o Mossad agiu em parceria com a Central de Inteligência dos Estados Unidos, país que tem relações próximas com Taiwan.

Numa segunda onda de ataques, centenas de rádios de comunicação explodiram em Beirute e no Líbano.

Ao todo, foram ao menos 32 mortos e 3.250 feridos, causando o colapso momentâneo das comunicações do Hezbollah e vítimas sem relação direta com o movimento.

Aparentemente, o Hezbollah tinha optado pelo uso de pagers depois de uma série de ataques de Israel a aparelhos celulares, que vem de longe.

Yahya Ayyash, um importante líder militar do Hamas, foi morto já em 1996, em Gaza. O Shin Bet, serviço de segurança de Israel, interceptou uma chamada dele para o pai na Cisjordânia e detonou o celular remotamente.

VITÓRIA PUBLICITÁRIA

Os ataques no Líbano não mudam o equilíbrio estratégico entre o Irã, o Hezbollah e Israel.

Porém, ao assassinar um dos principais líderes do Hamas em Teerã e provocar o colapso das comunicações do Hezbollah, Israel desmoralizou seus principais inimigos no campo da inteligência.

Benjamin Netanyahu aparentemente tira proveito do hiato oferecido pela campanha eleitoral nos Estados Unidos para avançar.

Ao se colocar como principal enfrentador do Irã no campo militar, ele se junta a uma fatia significativa do establishment dos EUA, que prega o enfrentamento, agora, do Irã, China e Rússia -- ou seja, do campo alternativo à hegemonia de Washington.

Apesar do colapso de sua imagem internacional, Tel Aviv avançou no que parece ser um objetivo de longo prazo: anular qualquer chance de um estado palestino, permitindo a anexação de mais território na Cisjordânia e em Gaza.

Isso vai ao encontro de analistas que sustentam que Israel jamais considerou conviver com um estado palestino, mas optou por uma estratégia de fricção para solapar a causa palestina e ganhar território a longo prazo.

Irã e Israel não fazem fronteira, razão pela qual ter o Hezbollah no Líbano é um ativo importante para Teerã.

Por isso, os iranianos não tem nenhum incentivo para provocar uma guerra total na região, que poderia enfraquecer significativamente o Hezbollah.

Porém, uma ofensiva de Israel no sul do Líbano pode provocar uma represália sangrenta. O Hezbollah tem mísseis com alcance para atingir todo o território israelense.