GEOPOLÍTICA

As duas potências tecnológicas aliadas do Brasil que não podem ter armas nucleares

Num mundo cada vez mais em conflito, muitas nações sequer têm a possibilidade de começar um programa do tipo. Esses dois países desenvolvidíssimos têm, mas estão impedidos

Silo com míssil nuclear nos EUA.Créditos: YouTube/Reprodução
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Muitas nações ambicionam desenvolver e implantar armas nucleares como forma de se proteger contra um ataque inimigo, fazendo uso da velha “política de dissuasão”. Em síntese, quando se tem a capacidade de responder a uma agressão lançando um ataque devastador com uma bomba atômica, o adversário pensa bem e prefere evitar um conflito. Na prática, é só olharmos para a prudência que os EUA e a União Europeia têm em relação à Rússia na hora de dar uma resposta no complexo tabuleiro da geopolítica mundial.

EUA e Rússia, aliás, são os dois maiores detentores de armas nucleares no planeta. A França e Reino Unido, na Europa, são as duas únicas nações do continente que também possuem arsenais do tipo, embora em número muito menor que os norte-americanos e os herdeiros do espólio da antiga União Soviética. Na Ásia, China, Índia, Paquistão e Coreia do Norte são os possuidores de artefatos militares atômicos, em diferentes dimensões e capacidades. No fim da lista está Israel, o pequeno Estado judeu do Oriente Médio que nunca confirmou ou negou ter ogivas nucleares e mísseis balísticos para transportá-las, embora seja notório e de conhecimento público que o país os detém.

Mas você deve estar se perguntando: por que a Alemanha e o Japão, aliados do Brasil no cenário geopolítico atual, dois dos países mais ricos e superdesenvolvidos tecnologicamente da Terra, não têm armas nucleares? A resposta é simples e seria mais ou menos sintetizada com a frase “porque eles não podem”. Para alguns, seria "porque eles não querem".

Essas duas nações, se dessem o pontapé inicial num programa nuclear para fins militares, concluiriam-no em pouquíssimo tempo e já teriam a sua disposição as mais complexas e sofisticadas armas de destruição em massa usando as tecnologias de fissão ou de fusão. Só que uma série de acordos no passado, relacionados ao próprio comportamento pretérito de Alemanha e Japão, os impossibilitam de seguir em frente.

A Alemanha, derrotada na 2ª Guerra Mundial, assim como o Japão, foi dividida pelos países aliados que venceram o conflito. Em seu território repartido, tanto o lado ocidental (controlado pelos EUA), como o oriental (sob influência da URSS), possuíam instalações de mísseis nucleares durante a maior parte do período da Guerra Fria, mas esses dispositivos eram norte-americanos e soviéticos, e para uso exclusivo dessas superpotências que dividiram o mundo por décadas.

Sob os olhos do mundo depois de provocar duas devastadoras guerras mundiais, a Alemanha Ocidental já em 1954 assinou o Tratado de Bruxelas, que em seu protocolo número 3 prevê que o país está proibido de desenvolver armas nucleares, químicas e biológicas. Pouco tempo depois, uma legislação da própria Alemanha Ocidental passou a prever tal proibição. É a chamada Lei de Controle de Armas de Guerra. Ainda em 1957, sob o governo do chanceler Konrad Adenauer, os alemães ocidentais até se movimentaram no âmbito do programa da Euratom (Comunidade Europeia de Energia Atômica), concebida inicialmente para fins pacíficos, para subvertê-lo e partirem para o desenvolvimento de armas nucleares, mas mudanças políticas internas na França e no Reino Unido, os outros integrantes do bloco, puseram fim ao sonho.

Com o país já reunificado, em 1990, a República Federal da Alemanha enterra qualquer possibilidade a curto e médio prazos de desenvolver um programa nuclear para fins militares, visto que já era signatária do Tratado de não proliferação de armas nucleares desde 1969 (embora a ratificação só tenha ocorrido em 1975). Desta maneira, a coisa segue inalterada desde então, embora o país mantenha em seu solo 20 ogivas dos EUA prontas para serem lançadas de seus caças.

Já no caso do Japão, o único país do mundo que sofreu ataques atômicos até hoje (Hiroshima e Nagasaki, deixando milhares de mortos e uma total destruição, durante a 2ª Guerra Mundial), o sentimento antinuclear sempre esteve presente, naturalmente pela catástrofe que viveram após o bombardeio nuclear realizado pelos EUA. Desde o fim do conflito e de sua reconstrução, tutelada pelos norte-americanos, os japoneses sempre se posicionaram firmemente contra qualquer ideia que cogitasse o desenvolvimento de armas do tipo.

Quer dizer, nem sempre. Em 1964, após a China realizar seu primeiro teste nuclear, o então primeiro-ministro, Eisaku Sato, afirmou ao líder da Casa Branca à época, o presidente Lyndon Johnson, que “o Japão precisaria de uma arma atômica porque os chineses a tem”. É dispensável dizer que os EUA se opuseram forte e diretamente à hipótese, que de qualquer forma não prosperaria, tendo em vista a firme posição contrária e de repúdio da sociedade japonesa.

Legalmente falando, o Japão também está impedido atualmente de desenvolver e manter armas nucleares por questões constitucionais, uma vez que sua Carta Magna, redigida sob tutela dos EUA após a derrota na 2ª Guerra Mundial, veta expressamente essa possibilidade, baseando-se nos chamados Três Princípios Não Nucleares: a produção, a posse ou introdução de armas nucleares em seu arsenal.

Tal proibição foi reforçada ainda mais a partir de 1970, quando o governo de Tóquio assinou o Tratado de não proliferação de armas nucleares, que foi ratificado seis anos depois, em 1976.