GUERRA NAS REDES

Dono do Telegram denunciou Apple, Google e EUA

Prisão de Pavel Durov leva governo da Rússia a protestar

Controvérsia.A prisão de Durov desatou um intenso debate nas redes sobre liberdade de expressão.Créditos: Reprodução X
Escrito en GLOBAL el

Pavel Durov, o soviético que fundou o Telegram, denunciou a Apple, o Google e o governo dos Estados Unidos na única entrevista que deu desde que se instalou nos Emirados Árabes Unidos, há sete anos.

Ele contou ao jornalista Tucker Carlson, uma estrela da extrema-direita estadunidense, que evitava viajar para a China, Rússia ou Estados Unidos por medo de sofrer represálias.

Ironicamente, Durov foi preso na França, país visto no Ocidente como berço da liberdade. Ele tem cidadania francesa e vai responder a uma série de acusações relacionadas ao Telegram.

Durov e seu irmão Nikolai nasceram na União Soviética. Cresceram na Itália, mas foi na Rússia que criaram o Telegram, hoje com quase um bilhão de usuários.

Na entrevista, Durov disse que deixou a Rússia sob pressão do governo para bloquear comunidades e perfis oposicionistas de sua rede social VK e em seguida do Telegram.

ASSALTO E ESPIONAGEM

Ele tentou se instalar na Alemanha, em Cingapura e nos Estados Unidos, antes de transferir a sede do Telegram para os Emirados.

Durov disse acreditar que São Francisco, na Califórnia, seria o lugar ideal para sua empresa, mas desistiu depois de dois episódios bizarros: uma tentativa de assalto em que três homens não conseguiram roubar seu celular e uma oferta feita a um engenheiro de confiança, por agentes de segurança dos Estados Unidos, para que tornasse o Telegram vulnerável a espionagem.

Segundo ele, os agentes queriam que o engenheiro criasse "backdoors" na plataforma, para permitir acesso clandestino de autoridades estadunidenses aos dados do Telegram.

Pavel Durov narrou outra ocasião em que recebeu a visita de agentes do FBI, em uma casa que havia alugado nos EUA. Sempre segundo o empresário, os policiais estavam interessados em estreitar relações com a plataforma.

Durov disse a Carlson que presume que os sistemas operacionais IOS e Android estão "comprometidos" por espionagem.

RESISTÊNCIA

Na entrevista, Durov disse que já colaborou com autoridades para apagar conteúdo de sua plataforma, mas admitiu comandar a única empresa que resistiu a eliminar críticas ao uso de máscaras, às vacinas ou ao confinamento durante a pandemia de Covid.

Também afirmou que, por orientação de seus advogados, resistiu a demandas de governos que pretendiam remover conteúdo -- em 2022, o Telegram chegou a ser bloqueado no Brasil por decisão do ministro Alexandre de Moraes.

Na entrevista a Tucker Carlson, Durov apontou a Apple e o Google como empresas que jogam pesado para impor suas políticas, com a ameaça de eliminar a distribuição do aplicativo do Telegram de suas plataformas.

Contou que tem algumas centenas de milhões de dólares em suas contas bancárias, mas jamais comprou qualquer propriedade imobiliária, jato ou iate.

Curiosamente, Durov contou que era muito cuidadoso ao planejar suas viagens internacionais, por medo de represálias. Ele foi preso em um aeroporto da França, vindo do Azerbaijão.

GUERRA DA UCRÂNIA

O Telegram se tornou o principal campo de batalha virtual da guerra na Ucrânia, utilizado massivamente pelo governo Zelenski e por blogueiros russos.

O vice-líder da Duma, o Parlamento russo, Vladislav Davankov, disse que a prisão foi politicamente motivada, com o objetivo de "conseguir acesso a dados pessoais dos usuários do Telegram".

Edward Snowden, que está asilado na Rússia depois de vazar segredos dos EUA, protestou:

A prisão de Durov é um ataque aos direitos humanos básicos de expressão e associação. Estou surpreso e profundamente entristecido que Macron tenha descido ao nível de aceitar a tomada de refém como meio de obter acesso a comunicações privadas. Ele rebaixa não apenas a França, mas o mundo.

Pavel Durov se apresenta como defensor da liberdade de expressão absoluta, na linha de Elon Musk, do X -- o que obviamente reflete no faturamento da empresa, já que não há grande investimento em monitorar e bloquear conteúdo criminoso. 

Depois de protestar contra a prisão do franco-soviético, Musk atacou Mark Zuckerberg, da Meta.

Ele retuitou reportagem da rede estadunidense CBS sobre uma ação que acusa o Facebook e o Instagram de facilitarem a ação de predadores sexuais:

O Instagram tem um enorme problema de exploração sexual infantil, mas nenhuma prisão para Zuck, já que ele censura a liberdade de expressão e dá aos governos acesso secreto aos dados dos usuários.