ALERTA MUNDIAL

VÍDEOS: Nazistas fazem ato próximo à Parada LGBT na Alemanha

Dezenas de radicais com discurso nacionalista e preconceituoso foram presos em Leipzig; evento que celebra a diversidade foi muito maior

Neonazistas fazem ato em Leipzig, na Alemanha, próximo à Parada LGBT.Créditos: Reprodução
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De BERLIM | Cerca de 400 neonazistas fizeram um ato em Leipzig, cidade próxima à capital alemã Berlim, na tarde deste sábado (17), próximo ao local onde ocorria uma Parada LGBTQIA+. Este é o segundo levante de extremistas de direita que ocorre na mesma região em uma semana. 

Com palavras de ordem ultranacionalistas a anti-imigração, os neonazistas, muitos ligados ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão), apresentaram "comportamento agressivo", segundo a polícia da Saxônia.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram os extremistas gritando "Alemanha para os alemães. Fora, imigrantes", "zona nazista", e fazendo o sinal de "white power" com a mão – gesto que faz alusão à "supremacia branca", corrente neonazista com adeptos, principalmente, nos Estados Unidos. 

Veja vídeos: 

Através das redes sociais, a polícia da Saxônia informou que o ato foi dispersado e que dezenas de neonazistas foram detidos para serem fichados criminalmente. Eles mal conseguiram sair da estação de trem de onde tinham marcado o início da "marcha".

"Os cerca de 300 a 400 participantes da reunião de direita/extremismo de direita que terminou foram detidos na principal estação ferroviária, a fim de levar a cabo as medidas processuais penais necessárias e revistar as pessoas de acordo com a lei de segurança (...) Foram identificados vários crimes, como o incitamento ao ódio, as violações da lei de assembleia e a utilização de símbolos de organizações anticonstitucionais, e foram também instaurados numerosos processos", diz comunicado oficial da polícia. 

Parada LGBTQIA+

Já a Parada LGBTQIA+ de Leipzig, conhecida na Alemanha como "Christopher Street Day", reuniu mais de 19 mil pessoas e foi realizada sem intercorrências.

O nome "Christopher Street Day" (CSD) é uma homenagem à Christopher Street, em Nova York, onde ocorreram os motins de Stonewall em junho de 1969. Esses motins foram uma série de protestos de membros da comunidade LGBT contra as frequentes batidas policiais no bar Stonewall Inn, localizado na Christopher Street, e são amplamente considerados um marco crucial na luta pelos direitos LGBT.

Manifestações do tipo ocorrem em todo o país durante os meses de julho e agosto para celebrar o movimento pelos direitos civis das pessoas LGBTQIA+ ao longo das décadas. Em todas elas, por conta do crescimento da extrema direita na Alemanha, é comum ver faixas e placas com a frase "Aqui não há espaço para nazistas" – em alemão "kein Platz für nazis"

Veja vídeo: 

Crescimento da extrema direita na Alemanha 

Em junho deste ano, o Alternativa para a Alemanha (AfD), partido que tem entre seus quadros figuras associadas ao neonazismo, obteve 15,9% dos votos dos alemães nas eleições europeias e se consolidou como a segunda força política do país, superando os sociais-democratas do SPD, legenda do atual chanceler Olaf Scholz, que obteve 13,9%, e ficando atrás apenas dos conservadores da União Democrata-Cristã (CDU/CSU), partido da ex-chanceler Angela Merkel. 

Com a votação expressiva, os radicais do AfD conseguiram emplacar, ao todo, 15 eurodeputados no Parlamento Europeu - 6 a mais que na última legislatura. Por outro lado, os sociais-democratas tiveram seu pior resultado da história em eleições europeias e perderam 6 cadeiras, ficando com 14 assentos. Já os Verdes (Grüne) foram os que mais perderam eurodeputados: 9 a menos, totalizando apenas 12 cadeiras. Os conservadores do CDU/CSU, vencedores das eleições europeias na Alemanha, permaneceram com 29 eurodeputados. 

AfD e neonazismo 

Governada atualmente pelo chanceler Olaf Scholz, do SPD (Partido Social-Democrata), em uma coalizão com liberais e democratas, a chamada Die Ampel (Semáforo, por conta as cores das legendas: vermelho, amarelo e verde), a Alemanha vem observando um crescimento assustador da popularidade da ultradireita, representada pelo AfD.  

A legenda foi fundada em 2013 e conseguiu uma cadeira no parlamento alemão, pela primeira vez, em 2017 - hoje, já são 77 deputados, sendo a quarta maior força política local. 

Trata-se de uma organização ultrarradical que abriga os membros mais extremistas da Alemanha. O AfD defende abertamente ideias xenofóbicas, racistas, segregacionistas e violentas. A principal plataforma política são projetos antimigração, permeada de retóricas ultranacionalistas que remetem ao nazismo. Diversos membros do partido, inclusive, já tiveram comprovadamente relações com grupos neonazistas e já fizeram falas com tal teor. 

Björn Höcke, uma das principais lideranças do AfD, por exemplo, foi denunciado pelo Ministério Público alemão em 2023 por utilizar linguajar nazista ao dizer que a política migratória do país "nada mais é que a eliminação do povo alemão", usando o slogan nazista "Alles für Deutschland" (tudo pela Alemanha). Mais recentemente houve o caso de Maximilian Krah – líder do partido que relativizou o nazismo ao afirmar, em entrevista, que os membros da Schutzstaffel (SS), a força paramilitar do regime nazista, “não eram todos criminosos”. 

Desde 2021, o AfD é monitorado pelo serviço de inteligência interno da Alemanha, o BfV, por tentativa de enfraquecer a constituição democrática do país.

Pesquisas recentes revelam que o AfD já tem o apoio de cerca de 24% dos alemães, o que o torna o segundo partido mais popular do país, atrás apenas do CDU, legenda da ex-chanceler Angela Merkel. Nos estados da Turíngia, Saxônia e Brandemburgo, a sigla ultrarradical lidera as intenções de voto para as eleições regionais deste ano, com cerca de 30%. 

Pouco antes das recentes eleições ao Parlamento Europeu, conflitos e episódios de violência foram registrados. Franziska Giffey, ex-prefeita de Berlim, que é do Partido Social-Democrata (SPD), por exemplo, foi atacada em maio por um apoiador do partido de extrema direita em uma biblioteca pública da capital alemã. Ela ficou levemente ferida após ser atingida na cabeça por uma bolsa contendo um objeto pesado. 

Pelas ruas de Berlim, cartazes de candidatos às eleições europeias foram espalhados em praticamente todas as esquinas e aqueles ligados ao AfD recorrentemente são vandalizados ou retirados por militantes de esquerda, gerando confrontos entre os dois lados. Em janeiro, uma multidão protestou na capital alemã contra a extrema direita.