DIPLOMACIA

Lula recebe Tony Blair e fala sobre aliança democrática contra a extrema direita

Presidente brasileiro se encontra com ex-primeiro-ministro britânico e conversa sobre diversos temas, inclusive o retorno do Partido Trabalhista ao poder depois de 14 anos

Créditos: Ricardo Stuckert - Lula recebe Tony Blair no Palácio do Planalto
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, nesta segunda-feira (22), no Palácio do Planalto, em Brasília, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. Durante a conversa, que durou cerca de 45 minutos, eles trocaram impressões sobre a volta do Partido Trabalhista ao poder no Reino Unido, após 14 anos de governos conservadores. Falaram da importância dessa transição no momento atual.

Esse foi o segundo encontro do presidente Lula e Blair nesse terceiro mandato de Lula. O britânico esteve no Brasil em setembro do ano passado.

O presidente Lula falou também sobre a reunião de governos democráticos contra a extrema direita, a ser organizada à margem da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro próximo. Comentaram sobre as transformações em curso na geopolítica mundial.

Lula frisou seu otimismo com o crescimento econômico do Brasil, que tem superado expectativas, com a geração de mais de 2,5 milhões de empregos formais em 17 meses, o crescimento de 11,7% da renda, além do anúncio de investimentos expressivos em industrias importantes, como a automobilística, que anunciou investimentos em torno de 120 bilhões de reais nos próximos anos.

Falaram ainda sobre os trabalhos do G20 e as agendas desenvolvidas pelo Brasil, como a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e a taxação de super-ricos; da presidência brasileira dos BRICS e da organização da COP30 em Belém, no ano que vem.

Pelas redes sociais, Lula compartilhou registro do encontro.

Democratas contra a extrema direita

A ideia de um evento às margens da Assembleia Geral da ONU para debater estratégias democráticas para lidar com o avanço da extrema direita mundial foi anunciada pelo presidente Lula em abril deste ano, durante encontro com o presidente do Governo da Espanha, Pedro Sánchez.

Lula já conversou sobre o tema com o presidente francês, Emmanuel Macron. Ainda não foram divulgados detalhes sobre os possíveis governantes convidados ou a data da reunião.

Retorno do Partido Trabalhista ao poder

A última vitória significativa do Partido Trabalhista na Inglaterra antes desse ano ocorreu nas eleições gerais de 1997, quando o partido, liderado por Tony Blair, obteve uma vitória esmagadora. Essa eleição marcou uma mudança notável na política britânica, pois o Partido Trabalhista retornou ao poder após 18 anos de governos conservadores sob Margaret Thatcher e John Major.

Blair desempenhou um papel crucial em redefinir e modernizar o Partido Trabalhista, movendo-o para o centro do espectro político através da "Terceira Via", que buscava equilibrar as políticas de mercado livre com a tradição de justiça social do partido.

O Partido Trabalhista prometeu reformas na educação e saúde, redução do desemprego e uma política externa ética. Eles também enfatizaram a necessidade de transparência e eficiência no governo.

O descontentamento com os conservadores, que estavam no poder há quase duas décadas, cresceu devido a escândalos de corrupção, recessão econômica e descontentamento social. Isso desgastou a imagem dos conservadores e deixou o eleitorado aberto a mudanças.

Em 1997, o Partido Trabalhista ganhou 418 assentos, uma maioria absoluta que lhes permitiu formar o governo sem a necessidade de parceiros de coalizão. Foi uma das maiores vitórias na história do partido.

A vitória deu ao Partido Trabalhista uma maioria robusta no Parlamento, permitindo a Tony Blair implementar uma agenda legislativa ambiciosa sem oposição significativa.

Durante seus mandatos, o governo Blair implementou reformas profundas no setor público, introduziu o salário mínimo nacional e promoveu a paz na Irlanda do Norte com o Acordo de Sexta-feira Santa.

Apesar de sua popularidade inicial, o governo Blair enfrentou críticas e perda de apoio devido ao seu envolvimento na Guerra do Iraque e às políticas de mercado livre que continuaram a polarizar opiniões dentro do próprio partido e entre o público geral.

Nas eleições gerais subsequentes, enquanto o Partido Trabalhista manteve o poder até 2010, o apoio diminuiu gradualmente, levando a uma derrota para os conservadores em 2010.

Essa vitória de 1997 é frequentemente estudada como um exemplo de como a liderança dinâmica e uma plataforma política clara podem resultar em mudanças significativas no governo e na sociedade. Isso realinhou a política britânica e teve um impacto duradouro sobre as políticas internas e externas do Reino Unido.

Nova vitória do Partido Trabalhista

Nas eleições gerais do Reino Unido de 2024, o Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, conquistou uma vitória esmagadora, encerrando 14 anos de governo conservador.

O Partido Trabalhista garantiu 412 dos 650 assentos na Câmara dos Comuns, o que representa uma maioria substancial. Os Conservadores, por outro lado, sofreram sua pior derrota na história, conseguindo apenas 121 assentos. Esta eleição marcou o retorno do Partido Trabalhista ao poder e significou uma mudança significativa no panorama político britânico.

Starmer assumiu o cargo de primeiro-ministro no dia 5 de julho, logo após a eleição. A vitória do Partido Trabalhista refletiu o descontentamento generalizado dos britânicos com o partido Conservador, que enfrentou diversas controvérsias e desafios de governança, incluindo o manejo da pandemia de Covid-19 e escândalos políticos.

Apesar do sucesso eleitoral, Starmer tomou posse ciente dos desafios à frente, dado que o comparecimento às urnas foi relativamente baixo e a distribuição do voto entre várias partes sugere um mandato fragmentado.