PALESTINA

Conferência Global denuncia genocídio em Gaza e convoca pressão internacional contra Israel

Lideranças políticas se reuniram em Joanesburgo, na África do Sul, para condenar os ataques israelenses e convocar estratégias para fim do apartheid palestino

Conferência denuncia genocídio em Gaza.Créditos: Mohammed Salem/Reuters/Folhapress
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Encerrou neste domingo (12) a primeira Conferência Global Anti-apartheid sobre a Palestina, em Joanesburgo, África do Sul, com resoluções para pôr fim ao genocídio na Faixa de Gaza e buscar a paz em território palestino. 

A conferência teve início na sexta-feira (10) e reuniu centenas de lideranças políticas de todo o mundo, além de ativistas, líderes inter-religiosos, comunicadores e intelectuais. 

O evento teve como objetivo ser um espaço para prestar solidariedade ao povo palestino e condenar as práticas de apartheid, genocídio e crimes de guerra cometidas por Israel. A reunião acontece em um momento em que os protestos contra o Estado israelense se intensificam no mundo, até mesmo em países aliados a Israel, como o Reino Unido e Estados Unidos, onde uma onda de manifestações pró-Palestina toma conta com dezenas universidades realizando manifestações

A conferência também discutiu estratégias para isolar o Estado israelense, incluindo campanha de boicote, desinvestimento e sanções, no sentido de pressionar o fim do conflito que já matou mais de 35 mil palestinos, sendo a maioria crianças e mulheres.

O deputado federal João Daniel (PT-SE), único parlamentar brasileiro representante, afirmou que “a conferência ajuda a expor as injustiças cometidas contra o povo palestino, incluindo o roubo de terras, negação de direitos e liberdades básicos, e o genocídio em curso”. Para o parlamentar, o evento "exercerá pressão política sobre Israel e seus aliados, exigindo a libertação imediata de todos os presos políticos palestinos e o fim desta guerra injusta”. 

A conferência também destacou o esforço de países dedicados à promoção de justiça e paz nesta região do Oriente Médio. O destaque foi o próprio governo da África do Sul, sede do evento, que vivenciou o Apartheid, regime de segregação racial da década de 1950. Os presentes citaram a luta de Nelson Mandela, mais importantes ativista pelo fim do Apartheid, que passou 27 anos preso e mais tarde conseguiu se tornar o presidente do país. 

Certa vez, ao ser indagado sobre a causa palestina, Mandela afirmou: “sabemos muito bem que a nossa liberdade é incompleta sem a liberdade dos palestinos”. Hoje, a África do Sul lidera no continente africano iniciativas firmes de críticas contra o conflito. O governo da África do Sul pediu à Corte Internacional de Justiça que reconhecesse que Israel violou a convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) para prevenção e repressão ao genocídio e comete crimes de guerra.

Recentemente, o presidente da União Africana (UA), Azali Assoumani, também classificou como um “genocídio” a ação militar de Israel na Faixa de Gaza ao discursar na 37ª Cúpula da União Africana, na Etiópia. Ele apelou para que a comunidade internacional aja para colocar fim à ofensiva israelense, poupando o povo palestino de mais sofrimentos.

A guerra

Os ataques israelenses começaram em 7 de outubro de 2023 na Faixa de Gaza após ataque do Hamas a Israel. A Faixa de Gaza se constitui como o local mais densamente povoado do planeta com uma população de 2,4 milhões de pessoas para um território que tem 41 quilômetros de comprimento e apenas de 6 a 12 quilômetros de largura. Devido a essas características, os ataques de Israel têm provocado consequências devastadoras. Hoje, 85% dos habitantes do território palestino estão desabrigados.

Além disso, aproximadamente 1,1 milhão de pessoas em Gaza estão à beira da fome, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Já de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), recém-nascidos estão morrendo de fome, além de crianças representarem quase metade dos óbitos. Ainda, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 97% da água em Gaza é considerada "imprópria para consumo humano" e a produção agrícola está em colapso depois que as forças israelenses destruíram a maioria das propriedades agrícolas de Gaza.

Imagens e relatos do conflito mostram que a maioria das estruturas atacadas são prédios residenciais, universidades e hospitais, ou seja, estruturas que não têm relação com a guerra, mas que aumentam a amplitude de vítimas civis. Recentemente a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução pedindo uma trégua humanitária imediata para garantir o envio de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, no entanto Israel segue sua ofensiva militar à revelia.

O deputado João Daniel, durante o evento, destacou que o conflito contra a Palestina não teve início no dia 7 de outubro, apesar de ganhar mais destaque, mas dura 76 anos e se originou com o Nakba, como é chamado o êxodo palestino durante e após a guerra árabe-israelense. A partir dali, a ONU dividiu o território da Palestina em dois estados: um árabe e um judeu (Resolução 181), mesmo a população palestina sendo o triplo da população judaica, na época. Também definiu a cidade sagrada de Jerusalém como território desmilitarizado e sob controle internacional. No entanto, Israel não respeitou a divisão, passou a invadir o território palestino e cercou Jerusalém

Após isso, cerca de 800 mil palestinos foram expulsos de suas terras, negócios e casas no território em que seus ancestrais se instalaram há 12 mil anos. Isso gerou uma onda de refugiados para o todo o mundo, incluindo o Brasil. "Até os dias de hoje, Israel continua a chacinar palestinos para sufocar este povo e conquistar seus territórios. Estima-se que desde os anos 40, mais de 600 mil vítimas palestinas foram mortas por forças israelenses”, afirmou o deputado.

A atuação do Brasil 

O Brasil tem se destacado nas ações pela restauração da paz na região. Nesta semana, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução para a entrada permanente da Palestina nas Nações Unidas. A ação contou com copatrocínio e voto do Brasil a favor.

Com a nova medida, a Palestina ganha a oportunidade de ampliar os direitos dos palestinos nos trabalhos do organismo internacional. Ao todo, 143 países votaram a favor, contra 9 contrários, como Estados Unidos, Israel e outros governados pela extrema-direita como Argentina e Hungria.

Desde o início do conflito, o Brasil tem se colocado firme contra os ataques de Israel. Como já reforçado pelo presidente Lula, o país é a favor da criação de um Estado palestino soberano. O Brasil irá, inclusive, liderar a reconstrução da Faixa de Gaza. A proposta foi discutida em abril durante audiência pública na Câmara dos Deputados, junto com os BRICS e a Liga Árabe.