A nova batalha do bilionário Elon Musk, pela "liberdade de expressão", é para mostrar no X as imagens do esfaqueamento de um religioso na Austrália, um país enlutado por um episódio anterior em que seis pessoas morreram em um shopping center.
Na segunda feira, a Justiça australiana determinou que Musk escondesse as imagens brutais do ataque contra o bispo da Igreja Assíria Cristã do Bom Pastor, Mar Mari Emmanuel, numa cidade próxima a Sidnei.
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Emmanuel transmite seus cultos ao vivo, expressa opiniões polêmicas em seus sermões e tem centenas de milhares de seguidores nas redes sociais.
O ataque aconteceu em 15 de abril, quando um adolescente de 16 anos esfaqueou seguidamente o bispo e, em seguida, feriu outras cinco pessoas. Emmanuel sobreviveu e perdoou o autor do ataque.
Como o ataque foi transmitido ao vivo, centenas de seguidores do bispo foram para a sede da igreja e entraram em confronto com a polícia, uma vez que queriam linchar o adolescente, que teria se justificado dizendo que o bispo havia ofendido o profeta Maomé.
Ele vai responder por terrorismo religioso.
GUERRA CONTRA O ISLÃ
O bispo, um tiktoker de sucesso, frequentemente critica os LGBTQI+, os muçulmanos, a vacina da COVID e o democrata Joe Biden.
Depois da decisão da Justiça australiana, Elon Musk prometeu recorrer, mas tirou o vídeo apenas dos usuários da Austrália, que assim mesmo podem vê-lo usando acesso remoto via VPN.
As imagens viralizaram através de usuários da extrema-direita, que pregam guerra ao islã.
Depois que Musk usou um meme para acusar o primeiro-ministro da Austrália de censura, Anthony Albanese disse que se trata de um "bilionário arrogante".
Numa entrevista, afirmou que Musk "se acha acima da lei, mas também da decência comum".
A Austrália tem um órgão de monitoramento da segurança eletrônica, chefiado por Julie Inman Grant, que foi acusada por Musk de ser a "comissária da censura".
A eSafety Comissioner publicou no X:
O aviso de remoção da eSafety para a X Corp exigia que ela tomasse todas as medidas razoáveis para garantir a remoção do conteúdo de vídeo extremamente violento do suposto ato terrorista em Wakeley, em Sydney, em 15 de abril. O aviso de remoção identificou URLs específicos onde o material estava localizado.
Como Musk limitou o alcance do pedido da Justiça australiana, o vídeo passou a ser replicado em massa por perfis de extrema-direita.
PAÍS EM LUTO
Um perfil verificado pelo X, baseado nos Estados Unidos, avisou:
Abaixo está o vídeo que o governo da Austrália deseja que não possamos ver e está tentando censurar globalmente. Este é o momento em que um Jihadi esfaqueia um bispo cristão na Austrália. Você sabe o que fazer. Compartilhe o máximo possível.
Em suas postagens, Musk argumenta que decisões locais não podem censurar a internet mundial.
Obviamente, ele não revela que vídeos violentos aumentam o engajamento e os comentários nas redes, resultando em maior tempo de permanência e, portanto, lucro para sua empresa.
A Austrália está em luto por conta de outro esfaqueamento.
Joel Cauchi, de 40 anos de idade, matou seis pessoas a facadas e feriu outras 11, inclusive um bebê de 9 meses. A mãe morreu. Dos 17 atacados, 14 eram mulheres.
Cauchi já havia sido diagnosticado com esquizofrenia. O adolescente que atacou o bispo também teria problemas psiquiátricos, segundo seu advogado.
Em casos de grande repercussão, autoridades sempre alertam para a possibilidade do que é chamado de crime copycat, ou seja, um ataque inspirado por um evento anterior, real ou fantasioso.
A possibilidade de que tenha acontecido na Austrália é grande, uma vez que apenas dois dias separaram os episódios.
No Brasil, o atirador que matou três pessoas e feriu quatro com uma arma de fogo, num cinema de um shopping de São Paulo, em 1999, "reviveu" cenas de um videogame. Ele também sofria de problemas mentais.