MAIS UMA

Líder do Japão fala em "guerra da Ucrânia" na Ásia; entenda

Diante do Congresso dos Estados Unidos

Perdido.Mais uma vez, Biden pareceu momentaneamente perdido ao receber o primeiro-ministro do Japão na Casa Branca.Créditos: Reprodução C-SPAN
Escrito en GLOBAL el

Numa fala que recebeu palmas de parlamentares republicanos e democratas, o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, disse que "a Ucrânia de hoje pode ser a Ásia ocidental de amanhã".

Kishida, que está em Washington para formalizar uma frente com os Estados Unidos e as Filipinas, estava se referindo às tensões no mar do sul da China, artéria marítima essencial para o comércio e o abastecimento chineses.

O fato de que o encontro foi marcado agora pelo governo de Joe Biden sugere engajamento de aliados estrangeiros no esforço do presidente democrata de aprovar mais ajuda militar à Ucrânia no Congresso, barrada por republicanos ligados a Donald Trump.

Trump, em sua campanha, promete acabar com a guerra da Ucrânia um dia depois de assumir.

Seu discurso pacifista, de investir nos EUA dinheiro gasto em guerras, tem grande repercussão no eleitorado.

Trump substituiu espantalhos russos e chineses por imigrantes ilegais, que seriam a grande ameaça ao futuro dos Estados Unidos.

Criada na Europa, a "teoria da substituição" ganhou tração nos EUA: é a teoria conspiratória segundo a qual a maioria branca e cristã seria substituída aos poucos, através da imigração, por latinos, pardos, negros e muçulmanos, acabando com a América do Destino Manifesto.

TENSÃO REAL

Depois de promover a expansão da OTAN até a "barriga" da Rússia, o establishment dos Estados Unidos aderiu ao "desacoplamento" com a economia chinesa.

A pandemia de covid expôs a fragilidade das cadeias produtivas globalizadas e o risco que elas podem representar, em caso de emergência, à soberania nacional.

Além de "desacoplar" da China, desde que Barack Obama adotou a "pirueta" estratégica dos EUA em direção à Ásia, os Estados Unidos avançam com seu cerco à China, na forma de acordos diplomáticos, econômicos e militares na região.

Na estratégia do Pentágono, é preciso fazer duas linhas de contenção aos chineses.

Por isso, os EUA destinaram atenção incomum a aliados como Palau, Micronesia e as ilhas Marshall.

A grande derrota da Casa Branca foi quando Nauru rompeu relações diplomáticas com Taiwan para abraçar a China.

De longe, o potencial de tensão é maior nos arquipélagos de Spratly e Paracel, que tem ilhas disputadas pela China, Filipinas, Malásia e Vietnã.

Washington acusa Beijing de "militarizar" o mar, inclusive com a criação de ilhas artificiais.

O PAPEL DAS FILIPINAS

Recentemente, o diário britânico Financial Times reportou sobre o impensável: o retorno de tropas do Japão, em base de rotação, às Filipinas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão ocupou as Filipinas.

De acordo com o diário:

Tóquio e Manila discutiram o envio de forças japonesas para as Filipinas, à medida que os países se aproximam de um acordo sobre vários pactos de segurança destinados a aumentar a dissuasão regional contra a China, de acordo com um dos principais diplomatas do país do sudeste asiático.

Como a Constituição das Filipinas proíbe bases militares estrangeiras em seu território, os japoneses fariam rotação permanente, assim como hoje fazem os militares dos EUA.

A cúpula de Washington reunindo Biden com os líderes do Japão e das Filipinas é um duro recado à China.

Os EUA estão reformando a pista da base naval de Camilo Osias, a apenas 400 km de Taiwan, por onde fazem a rotação de um número crescente de militares.

Agora governada por Ferdinando Marcos Jr., o filho do ditador que mandou durante 21 anos com apoio irrestrito dos Estados Unidos, as Filipinas estreitaram laços com Washington.

Recentemente, tropas dos três países se juntaram às da Austrália para manobras conjuntas no mar do sul da China.

As Filipinas fazem parte essencial da equação pelo fato de que seus barcos pesqueiros tem sido alvo de canhões de água da guarda costeira da China em incursões que fazem nas ilhas em disputa -- o que dá a Washington mais um argumento sobre a "agressividade" de Beijing.

Temas