Num acontecimento sem precedentes e divisor de águas na região, Jimmy Barbecue Chérizier, o Churrasco, líder mais poderoso das gangues do Haiti, tenta chegar ao poder com o apoio de outras organizações do crime organizado no país.
A batalha está em andamento em Porto Príncipe.
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Desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 7 de julho de 2021, o Haiti mergulhou em uma crise institucional sem solução à vista.
A violência mais recente aconteceu depois que o primeiro-ministro Ariel Henry foi ao Quênia para acelerar o processo de formação de uma força de paz com soldados africanos para controlar os ataques das gangues.
Henry governa sem ter sido eleito. A promessa de novas eleições permanece em aberto.
Churrasco, o apelido do principal líder criminoso, comanda o grupo G9 e Família.
As milícias armadas tem forte ligação com setores políticos do Haiti.
Parte de sua credibilidade resulta de desastrosas intervenções militares estrangeiras, que jamais atacaram os problemas mais graves do Haiti, como a miséria, a falta de energia e de infraestrutura, mas deixaram milhares de mortos.
No sábado passado, homens armados invadiram a principal prisão do país e libertaram mais de 3.700 presos, num combate com forças de segurança que resultou em ao menos 12 mortes.
Churrasco, que atribui seu apelido ao fato de que a mãe era ambulante e vendia frango assado nas ruas, se juntou a outros criminosos para tentar derrubar o primeiro-ministro e exigir anistia.
Depois de ficar algumas horas sumido, o primeiro-ministro reapareceu em Porto Rico, vindo de Nova York.
Churrasco disse que, caso ele não renuncie, haverá uma guerra civil no país. As gangues fecharam o aeroporto da capital por algumas horas.
Ariel Henry pediu ao Exército e à polícia que reprima os criminosos, mas as gangues dominam bairros inteiros de Porto Príncipe e exercem influência nos meios policiais e militares.
SEM PRECEDENTES
Se o primeiro-ministro ceder, será a primeira vez na história recente da América Latina em que uma autoridade renuncia pressionada por criminosos.
Há algumas semanas, ataques de gangues fizeram o presidente do Equador, Daniel Noboa, declarar estado de emergência.
As notórias gangues de El Salvador, conectadas a grupos criminosos dos Estados Unidos, atuavam como um estado paralelo e fizeram a popularidade do presidente de extrema-direita Nayib Bukele, reeleito prometendo jogar duro contra o crime organizado.
O crescimento das facções criminosas é um fenômeno regional, por conta da desigualdade de renda e das oportunidades de negócios ligadas ao abastecimento dos mercados dos Estados Unidos e da Europa com cocaína, haxixe, maconha, skunk, o anestésico fentanil e drogas produzidas em laboratório, como o LSD e o ecstasy.
Churrasco, um ex-policial, é visto como aliado do presidente Jovenel Moïse, assassinado numa ação cinematográfica de um grupo de 26 mercenários colombianos e dois estadunidenses nascidos no Haiti.
O episódio, jamais esclarecido totalmente, pode ter relação com o tráfico de drogas.
A principal fonte local de renda das gangues do Haiti são os sequestros relâmpagos.
O país vive uma inundação de armas, muitas das quais contrabandeadas dos Estados Unidos.