O porta-voz do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria, que governa o Níger, anunciou neste sábado, 16, o rompimento de relações militares com os Estados Unidos e pediu que Washington abandone a base que ocupa perto de Agadez, supostamente para combater o terrorismo no Sahel.
Os EUA mantém cerca de 1.100 soldados e funcionários na base, de acordo com o Departamento de Defesa.
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Em julho de 2023, no quinto golpe militar desde que se tornou independente da França, o General Abdourahamane Tchiani assumiu o poder à frente de uma junta em Niamey, a capital do Níger.
Os EUA, então, passaram a transferir seu pessoal de uma base no aeroporto da capital para a longíngua instalação na região de Agadez, a mais de 900 quilômetros.
Em dezembro do ano passado, a França retirou cerca de 1.500 soldados que mantinha no país, atendendo a decisão do novo governo.
Os Estados Unidos, no entanto, tentaram uma saída diplomática, enviando uma delegação para negociar a permanência de suas tropas.
PONTO PARA A RÚSSIA
A decisão de hoje favorece a Rússia, que em janeiro deste ano fechou um acordo de cooperação econômica e militar com o novo governo.
O Níger é um dos paises mais pobres da África, embora detenha importantes reservas de urânio.
De acordo com a Associação Nuclear (WNA), o país é o sétimo produtor mundial.
Apesar de fornecer apenas 5% do urânio consumido no planeta, em 2021 o Níger foi o maior fornecedor para a União Europeia, com 1905 toneladas, ou 24% do total -- os números são da Agência de Fornecimento Euratom.
O urânio é a segunda maior forte de riqueza do país, depois do ouro.
A França, cuja eletricidade é 70% produzida por usinas nucleares, dependia do Níger para 20% de seu abastecimento de urânio.
Desde o golpe, o novo governo fez o preço do urânio subir a níveis compatíveis com os do Canadá: de 0,80 euro por quilo para 200 euros por quilo -- de acordo com o pesquisador Raphael Parens, do Foreign Policy Research Institute.
Em setembro do ano passado, o grupo francês que controlava a principal mina de urânio no Níger, Orano, suspendeu o processamento do mineral no país por conta de sanções impostas à junta militar.
Mohamed Bazoum, o presidente derrubado pelos militares, havia se tornado o primeiro presidente árabe do Níger em 2022, quando venceu eleições no segundo turno com 55% dos votos. Ele foi um dos fundadores do Partido do Níger para Democracia e Socialismo.
Preso, pode ser julgado por traição.
Mesmo da cadeia, publicou um artigo no Washington Post dizendo que o grupo mercenário russo Wagner estava mudando o rosto do Sahel, a região sob o deserto do Saara que vai da Mauritânia à Somália:
Toda a região central do Sahel poderá cair sob a influência russa através do grupo Wagner, cujo terrorismo brutal tem estado em plena exibição na Ucrânia.
O golpe foi condenado pela União Africana e pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS), que reúne países que foram colonias francesas.
A ECOWAS impôs sanções ao novo governo, mas depois recuou alegando questões humanitárias.
Níger, Mali, Guiné e Burquina Fasso estão suspensos da ECOWAS por conta de golpes de estado.
Níger, Mali e Burquina se retiraram do bloco, alegando que ele é controlado pelo Ocidente e impõe sanções injustas.
Em julho do ano passado, depois de uma cúpula com líderes africanos na Rússia, Vladimir Putin prometeu cancelar dívidas e oferecer ajuda em alimentos, como forma de combater "o neocolonialismo".
Presentes, os líderes do Mali e da República Centro-Africana agradeceram a Putin pelo apoio militar do grupo Wagner.